O carnaval santista, durante muitos anos seguidos, ditou moda, não só para a Capital, como também para todo Estado de São Paulo e, até para algumas outras capitais.
Percebe-se, entretanto que, depois dos anos 80, a cidade foi ficando para trás, fazendo do seu carnaval, infelizmente, uma festa triste e empobrecida.
Voltando um pouco na história, é bom informar que o Carnaval Brasileiro nasceu do Entrudo que foi trazido pelos portugueses. O Entrudo – são os três dias que antecedem a Quaresma.
O Carnaval, na sua origem, se perde no tempo e, na sua essência, surge das festas pagãs do Egito ou nas bacanais de Roma. Com muitas transformações, o Carnaval, chega a outros povos e, logo vira festa tradicional.
Entre os séculos XV e XVI, o carnaval, em Portugal, chega na forma de Entrudo, com muita grosseria e violência.
Assim é que esse carnaval chega até nós com os colonizadores e que logo toma conta de todos e de tudo. Logo de cara, no século XVII se faz necessário a reação da polícia para conter os excessos produzidos pelas brincadeiras (?) de mau gosto do tal Entrudo.
Apesar da vulgaridade e das bárbaras brincadeiras, essas festividades faziam grande sucesso entre os nobres, plebeus e escravos, sendo, entretanto, vedado aos escravos o direito do brincar no entrudo.
Tanto D. Pedro I, bem como seu filho, eram doidos pela brincadeira vulgar.
A coisa era tão séria que, já em 1850, houve uma grande confusão com o envolvimento de dois dos mais conhecidos e influentes cavalheiros da incipiente sociedade santista e que foi parar no Tribunal de Santos.
Com a criação da Sociedade Carnavalesca Santista em 1857 e com as novidades que chegam da Corte, o carnaval de Santos, a partir do início do século XIX, toma um novo rumo com o surgimento dos grupos e grandes sociedades que vão determinar a vocação de Santos para o Carnaval, notadamente, o carnaval de rua, que sempre foi a riqueza e a diferença que se estabeleceu entre o nosso carnaval e o carnaval de outras cidades e capitais.
Desaparecendo as brincadeiras do Entrudo, Santos vive, entre os anos trinta e o final dos anos sessenta, os melhores períodos do carnaval de rua, se transformando, depois do Rio de Janeiro, em um dos maiores e melhores carnavais de rua, ao menos do Estado de São Paulo, incluindo-se a Capital.
Em meados dos anos setenta tem início a decadência do carnaval santista com o desaparecimento dos Corsos, Blocos, Ranchos e Choros, bem como o enfraquecimento e posterior desaparecimento dos Bailes carnavalescos dos Clubes, sobrevivendo apenas, com muita luta e persistência, as bravas Escolas de Samba.
Uma das maiores e melhores representantes do carnaval de rua foi, sem dúvida alguma, o “Dona Dorotéia, vamos furar aquela onda?”. Criada em 1923, Dona Dorotéia, por cerca de sessenta e sete anos (acabou em 1990), brindou o povo santista com o melhor do carnaval de rua. Quem tomou parte lembra com saudades das brincadeiras dos patuscos com suas fantasias de papel que facilitavam o banho de mar depois dos desfiles.
Lamentavelmente, os desfiles de “Dona Dorotéia”, foram encerrados ainda na década de 1990. Transcrevo aqui algumas palavras encontradas nos jornais da época que descreveram o último, triste e melancólico desfile da “Dona Dorotéia”.
Agressões, gestos obscenos, violência, muita gente embriagada, brincadeiras grotescas, falta de respeito, falta de educação e uma mar de vulgaridade.
É fácil perceber que foi um breve renascimento do arcaico e fora de moda Entrudo, depois de um século e meio.
No final dos anos sessenta, no Rio de Janeiro, alguns foliões resolvem criar a Banda de Ipanema e, logo em seguida, o pessoal do José Menino, aparece com a Banda da Divisa. De vida efêmera, a Banda da Divisa se apresentava com lindas mulheres, por isso logo se tornou a queridinha do carnaval santista. Era uma Banda cheia de charme e dado o seu sucesso começou a pipocar uma infinidade de Bandas, claro, sem o charme e a elegância da Banda da Divisa.
Outra moda que Santos importou, essa sim, infelizmente, ainda nos anos oitenta, foi a dos chamados “Trios Elétricos”, com seus infernais alto falantes e o horroroso perfume de óleo diesel.
As Bandas, como o atual carnaval de rua, são todas iguais, com o mesmo carnaval de camisetas e os indefectíveis e primários sambas (?) de enredo (?).
Esses desfiles, além de melancólicos, contam agora com a tal serpentina de garrafa que é desagradável e sem nenhum charme e bom gosto. Fantasias nem pensar.
Temo que, através desses desfiles, o carnaval santista de rua, lamentavelmente, volte aos péssimos costumes do vulgar e grosseiro Entrudo. Estamos a poucos passos disso.
Ora senhores, o Carnaval de Santos sempre ditou normas e, atualmente, está na contra mão dos carnavais de outras cidades, pois, nos desfiles desses agrupamentos carnavalescos, nessas cidades, poucos são os grupos de rua que ainda se utilizam do tal caminhão de som e, convenhamos, já está mais do que na hora da volta as origens, ou seja, vamos botar nossos blocos na rua.
Renê Rivaldo Ruas é escritor. Foi passista da Império do Samba, baliza da Embaixada de Santa Tereza, fez parte do Bloco do Boi, integrante do grupo de Choro Regional Varandas, desde sempre toca cavaquinho e solta a voz na roda de Choro e Samba do tradicional Ouro Verde e Diretor do Clube do Choro
Saudosa e fantástica Banda da Divisa, fez escola, marcou época, deixou saudades. A não menos fantástica Banda de Ipanema continua firme até hoje enquanto que a Banda da Divisa passou, ficou na história.Tem alguma coisa errada nisso, você não acha?
Ora Presida é claro que tem coisa errada nisso, alias, tem muita, mas muita coisa errada nisso tudo. Penso, inclusive, que a própria Banda de Ipanema já não tem mais a mesma função daqueles tempos e nem mesmo a espontaneidade e o espírito do início da Banda. Cá na terrinha então, onde as pessoas confundem desfile de Escolas de Samba com Carnaval, afirmo que o carnaval santista é de uma tristeza arrebatadora.
Perefeito Renê, faço minhas as suas palavras. É triste ver a que ponto chegou o carnaval santista.
Grande artigo, Renê. Logo, logo será postado na página do Bloco do Balão!