Em termos de flauta no Brasil duas unanimidades: Altamiro Carrilho e Carlos Poyares, um fluminense e o outro capixaba. Natural de Colatina (ES), Poyares saiu cedo de casa, já tinha no sangue algo de cigano, queria ganhar e mundo e assim foi. Já vivendo na capital Vitória, com apenas oito anos de idade, fugiu de casa para trabalhar num circo, sem abandonar a flauta que já estudava desde muito pequeno com a mãe.
Certa feita, um maestro estrangeiro que nos visitava, falando a respeito dos dois, disse: “vi em Altamiro a técnica apurada da interpretação segura de um músico fenomenal; por outro lado vi em Poyares a sensibilidade e o sopro divino de outro músico brasileiro fantástico”.
Se não foram exatamente essas as palavras pronunciadas pelo regente, foram mais ou menos essas. Até hoje permanece a dúvida, quem era melhor…a velha e trágica comparação que infelizmente sempre ocorre. Mas não, deixemos isso pra lá, fiquemos com os dois, cada um com sua característica e seu jeito todo personal de interpretar…!
Poyares, normalmente, quando tinha alguma excursão a realizar, vinha correndo buscar o Miltinho, seu cavaquinho predileto. Tirava o Hilsdorf do seu recanto ali da Zona Noroeste, os dois – e os demais os integrantes do conjunto – se pirulitavam pelo exterior, tocando aqui e ali, ora Europa, ora Japão e por aí a fora.
Foi um dos precursores da “Rua do Choro” em Sampa, na Rua João Moura em Pinheiros, aliás a capa do LP “Carlos Poyares no Clube do Choro” da gravadora Marcus Pereira, de 1984, traz sua imagem – ao lado de grandes chorões – tocando sua flauta no palco ali montado…!
Aqui em Santos, durante a semana, era quase sempre visto pelas bandas do Carioca, no centro da cidade, com sua bolsa – aquela tipo muambeiro do Paraguai – chapada de fitas cassete e LPs. Como um autêntico camelô. Naquela época ainda não se falava em computador nem em telefone celular, bom, pelo menos que eu me lembre. Seu traje típico era calça vermelha espalhafatosa pra caramba, camisa clara e sapato bicolor, numa profusão de cores que doía a vista. Chamava a atenção, lógico, com seu cabelo e bigode pintados de preto e muito falante, todos queriam bater um papo com Poyares. Não era do tipo arrogante, falava com todo mundo numa boa, era bastante solícito, embora com alguns percalços que não vem ao caso.
Seu CD “Uma Chorada na casa do Six” – isso quero crer lá pelos idos do final dos anos 80 ou início dos anos 90, não me lembro bem ao certo – gravado em Brasília, foi lançado no mezanino do, na época, nomenclaturado “Jobim”, no recinto da Sala Musical Floriano Fernandes. Veio com a filha que o ajudou a vender os exemplares. Comprei um e quando li a ficha técnica fiquei contente pra caramba, vi o nome do Miltinho e fui logo cumprimentá-lo. Quando soube o que de fato aconteceu fiquei um tanto quanto chateado. O bom e velho Milton disse-me que não tinha participado do disco, o nome dele saiu por engano. Mas, tudo bem, valeu pelo registro, afinal, eram grandes amigos e parceiros…!
Era frequentador – quase assíduo – do Ki-Frango (na época era com “Ki”) nos tempos que andou vivendo por aqui, aos sábados era um dos integrantes do regional “Amigos do Campo Grande”, ao lado de Hugo, Braguinha, Walter, Peixe, Dorival e tantos outros papas daquele “conclave” musical.
Nos anos 90, Poyares mudou-se da baixada para Brasilia, foi para o Clube do Choro, presidente Reco do bandolim comentou comigo quando esteve em Santos no final de 2009. Lá acabou falecendo, em 2004, recebemos a notícia algum tempo depois…!
Infelizmente, como nada é eterno nesta vida, as flautas de Altamiro e de Poyares descansam em paz, assim como o cavaquinho do Miltinho que parou de tocar recentemente, todos foram ao encontro do Criador que os chamou para reforçar a lenha no céu. Segundo consta, foram recepcionados por Pixinguinha e Jacob do bandolim, Walter Caetano e Zinomar Pereira, que, quando os viram disseram: “sejam bem-vindos meninos, vocês estavam fazendo falta no nosso regional”…!
E nós aqui, oh…cada vez mais orfãos…!
Abraços
Zé do Camarim
Caríssimo Marcelo Laranja
Muitas saudades desse querido amigo e extraordinário flautista, Carlos Poyares, com quem tive o privilégio de conviver em seus últimos anos de vida!!!
Grande abraço.
RECO DO BANDOLIM
Marcelo, quando eu tinha aquele grupo com o Gentil, Joel da timba, Arrepiado, etc..o Poyares, que era um amigo meu especial, tocava com a gente em SP. na casa noturna CATEDRAL DO SAMBA, mesma casa que um ex-amigo. Benito Di Paula cantava. O Carlos Poyares era bom demais!
Abração!
Caros irmãos do grande mundo.
Se queres amar de verdade perdoem, sempre.
Se queres aprender a perdoar se deem a oportunidade de ouvir, sentir e interpretar músicas com interpretações de alta qualidade técnica, destaco de ouvir músicas as quais detém letra, melodia, harmonia e riqueza de acordes, me referindo ao quantitativa e qualitativamente ao conteúdo e a forma como são escritas e interpretadas.
Nelas estão todos os sonhos, sentimentos, angústias, esperanças, alegrias, em fim, todo o universo de sentimentos humanos.
JOSÉ LUIZ ALVES POYARES (Filho do Flautista CARLOS POYARES).
Bom ler e ouvir falar coisas boas de nossos entes queridos e dos nossos amigos de verdade.
Acabando de refletir sobre a vida, principalmente sobre a necessidade de perdoar para tb merecer perdão e assim estar apto a amar de verdade, falo do próximo, de um amor parceiro, de um filho, dos pais, de um amigo, do Pai maior, de qualquer tipo de amor.
Grande beijo no coração de cada irmão do grande mundo.