RSS

ENCANTADOR DE MULTIDÕES

Orlando Silva“Foi o maior cantor brasileiro de todos os tempos”
(João Gilberto)

A música popular deste País comemora, no dia 3 de outubro, o centenário de nascimento do cantor Orlando Silva.
Nascido no Rio de Janeiro em 3 de outubro de 1915, Orlando Garcia da Silva, filho de José Celestino da Silva e Balbina Garcia, Orlando Silva se tornou um dos maiores cantores do Brasil, se não o maior.
Orlando Silva, de infância muito pobre, começou a trabalhar muito cedo, mesmo porque seu pai morreu de gripe espanhola, quando ele tinha 3 anos apenas. Pela pobreza da família, Orlando teve que trabalhar muito cedo, por esse motivo teve que abandonar os estudos muito cedo. Foi trabalhar entregando marmitas e como não tinha sapatos fazia o serviço descalço. Aos dezesseis anos caiu do bonde perdendo um quarto do pé esquerdo e para suportar a dor teve seu primeiro contato com a morfina. Nessas alturas já era muito fã do rei da voz Francisco Alves e cantarolava as músicas do ídolo. Aos 18 anos, na garagem de uma empresa de ônibus onde trabalhava, Orlando começou a cantarolar deixando o pessoal encantado. A voz de Orlando, além do timbre lindo, tinha uma tessitura de mais de duas oitavas. Passou a cantar todos os dias depois do trabalho.     
Um amigo logo levou Orlando para um teste na Rádio Cajuti. Lá foi recebido pelo produtor Luiz Barboza que pediu que ele cantasse. Muito tímido, Orlando, fez o teste cantando a valsa Céu Moreno. Sua linda voz tomou conta do ambiente deixando todos impressionados, principalmente o compositor Bororó que, entusiasmado, o levou para o Rei da Voz Francisco Alves.
O encontro deu-se no centro cidade. Chico Alves ficou penalizado ao ver aquele garoto tímido e muito magrinho. Pediu para o menino entrar no carro e ali mesmo cantar alguma coisa. Quase em pânico, Orlando Silva, ficou um bom tempo mudo, tempo depois se pôs a cantar “Lágrimas”, valsa de Cândido das Neves.
Fortemente impressionado com o poder e a beleza da voz de Orlando, o “Rei da Voz” não podia acreditar no que estava ouvindo e mesmo com certa insegurança apresentou o menino em seu programa na Rádio Guanabara. Mais tranquilo Orlando cantou como se em casa estivesse, mostrando toda sua capacidade de interpretação e, claro, a bela voz. Passados dois anos o sucesso de Orlando foi estrondoso e fulminante.
A partir de 1937, Orlando Silva já na gravadora RCA Victor, fazia enorme sucesso na Rádio Nacional que o projetou para o país inteiro, por isso mesmo passou a ser procurado pelos grandes compositores da época.
Neste mesmo ano, Orlando gravou dois petardos, “Lábios que beijei” de J.Cascata e Leonel Azevedo e “Juramento Falso” de Pedro Caetano.
Ainda em 1937 o homem grava duas brasas vivas, uma verdadeira porrada. Lado A: “Carinhoso” de Pixinguinha e Braguinha – Lado B: “Rosa” de Pixinguinha e Otávio Souza. Sucesso assustador que ninguém, nem a gravadora e muito menos Orlando, poderia imaginar. Orlando Silva só vai constatar o grandioso sucesso quando, em uma apresentação no centro de São Paulo, foi atacado pelas fãs totalmente enlouquecidas, nascendo ai o “Cantor das Multidões”.
Orlando Silva e mesmo a gravadora não tinham estrutura para suportar o sucesso tão repentino e avassalador e, para agravar mais ainda a situação já difícil, tem início a segunda guerra mundial, obrigando as estações de rádio investir quase que exclusivamente em noticiário deixando os musicais de lado.
Com todos esses problemas a vida de Orlando Silva começa fazer água e sofrer diversos revezes. Sua vida amorosa em frangalhos abala a sua já reconhecida e frágil saúde e para piorar a situação, Orlando passa a sofrer de uma séria infecção na gengiva que lhe destruiu parte dos dentes causando dores insuportáveis. Além da bebida, pela segunda vez teve que fazer uso da morfina.
Com todo esse sofrimento sua voz perde o brilho, sua popularidade já não era a mesma. Em 1946 é demitido da Rádio Nacional e pela gravadora Odeon. Dai para o ostracismo foi um pulo.
Retoma a carreira nos anos 50, quando é chamado de volta pela Rádio Nacional e diversas gravadoras o procuram também. Com tudo, Orlando Silva já não era mais o mesmo e a fase de luxo e sucesso dos programas de rádio tinham acabado e, para complicar mais ainda surge um novo tipo de comunicação, a televisão e mais tarde um pouquinho, a Bossa Nova.
A velha estética de voz poderosa, derramada, carregada nos vibratos e emocional, perde a vez.
É preciso, no entanto, considerar que, tanto ele, com sua voz e seu modo de cantar, romântico e emoção na dose certa e mais ainda Mário Reis, sem dúvida alguma serviram de inspiração e de guia para os cantores bossanovistas.
Orlando Silva morreu em 7 de agosto de 1978, aos 63 anos.
Paulinho da Viola disse certa vez: “Depois do Orlando cantando com arranjos do Pixinguinha e Radamés Gnatalli não preciso ouvir mais nada.”
Renê Rivaldo Ruas é escritor. Foi passista da Império do Samba, baliza da Embaixada de Santa Tereza, fez parte do Bloco do Boi, integrante do grupo de Choro Regional Varandas, desde sempre toca cavaquinho e solta a voz na roda de Choro e Samba do tradicional Ouro Verde e Diretor do Clube do Choro.


1 Comments Add Yours ↓

  1. Marcello Laranja #
    1

    Beleza cumpadi Renê, salve o “Multidão”. Tive o privilégio de apertar a mão dele nos anos 70 (72 ou 73) no Chão de Estrelas. Abraços
    Marcello



Your Comment