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WALDIR AZEVEDO – MUITO MAIS QUE BRASILEIRINHO

waldirDesde 1935 quando tomou gosto pela música este brasileiro , multi-instrumentista,
que , passando pela flauta, pelo violão , viola americana , banjo, e acreditem, pelo bandolim, chegou ao instrumento MÁGICO, que o consagraria e o faria conhecido mundialmente: o Cavaquinho.

A caminhada foi difícil no começo, como para todos os artistas brasileiros, improvisando regionais, participando de programas de calouros, no Rio de Janeiro , ganhando, em 1942 o concurso de calouros da rádio Cruzeiro do Sul, bem como, o da Rádio Guanabara, conseguindo nota máxima executando ao violão o chorinho “Cambucá” de Pascoal de Barros,

De desejo, ele queria ser aviador, mas trocou a carreira para se dedicar à música (ainda bem) e por volta de 1943, torna-se profissional trabalhando no Conjunto Regional de César Moreno, na Rádio Mayrink Veiga     

Em1945, recém-casado com Olinda em plena lua de mel e trabalhando na antiga Light, Waldir vê a concretização de um sonho ao ser convidado pelo então já famoso violonista Dilermando Reis para integrar, como cavaquinista, o conjunto Regional, recentemente formado, que iria atuar na PRA-3, Rádio Clube do .Brasil, na cidade do Rio de Janeiro. Waldir não teve dúvidas, com a concordância de Olinda, sua recente esposa, atendeu ao chamado.

Nos quatro anos seguintes, Waldir Azevedo, participaria com o destaque deste Regional, sendo que nos dois últimos anos passou a dirigi-lo em substituição a Dilermando Reis.

Nesta época, a Rádio Clube do Brasil funcionava no mesmo prédio da Gravadora Continental, oportunidade em que Waldir Azevedo pôde ser ouvido, quando da execução de suas composições, pelo diretor artístico da gravadora, famoso e reconhecido compositor, ninguém nada menos que João de Barro (Braguinha), o que o convidou para gravar seu primeiro disco.

Uma das faixas deste disco, uma das mais conhecidas, foi composta a partir de uma situação inusitada: “tentando conter o choro de um sobrinho Waldir, começou a improvisar uma melodia em um cavaquinho de 01 só corda e destes primeiros acorde surgiu uma música que marcaria a vida de Waldir Azevedo, e que o acompanharia durante toda sua vida: O Choro Brasileirinho.

Brasileirinho seria gravado e lançado em 1949 – o primeiro disco de Waldir gravado em 78 rpm, pela Gravadora Continental, sob o número 16.189189,
Este disco trazia 02 choros: “Carioquinha” no lado A e “Brasileirinho” no lado B,

Desde então, o Brasil passou a conviver com dois marcos importantes:

1) A extraordinária e excepcional aceitação do choro “Brasileirinho “, por todo o
público do Brasil, como poucas vezes ocorreu na música instrumental de nosso
país

2) O cavaquinho, sendo apresentado como instrumento solo, já que até então
sómente participava das rodas como instrumento de acompanhamento e centro.

Nas mãos de Waldir o cavaquinho torna-se um dos instrumentos mais apropriados para refletir o sentimento do Choro, e caracteriza o mais elaborado e refinado momento da Música Popular Brasileileira.
Waldir Azevedo e seu choro “Brasileirinho”, conheceram momentos de glória,- este recebeu letra de Pereira da Costa, passou pelas mãos de Carrmen Miranda, Percy Faith, Ademilde Fonseca, Orquestra Filarmônica de Boston, Baby Consuelo, entre tantos cantores e outros instrumentistas do Brasil, e nos dias de hoje, o sexagenário Choro é junto com Delicado, um dos mais conhecidos e, além de ser trilha sonora para campanha política, já serviu de ritmo para ginástica olímpica.

Com este espantoso sucesso seguiram-se um segundo disco com as músicas “Cinco Malucos ” e “O que é que há ” seguido terceiro disco com “Quitandinha ” e “Vai por mim “.

É no quarto disco, lançado em dezembro de 1950, que surgiu outro sucesso impressionante; o baião “Delicado ” (curiosidade: originalmente composto em ritmo de bolero), também da autoria de Waldir ,gravado também através da Gravadora Continental sob o número 16.314, que vendeu só no Brasil mais de 500 mil cópias.
Foi graças a um amigo e músico parceiro, que Waldir mudou o ritmo de bolero para baião e concordou com o nome então sugerido: ‘”DELICADO”

O baião Delicado recebeu várias gravações e diferentes arranjos na Europa e Estados Unidos, tmbém passando pelas mãos de Percy Faith, Ray Connjf e tantos outros instrumentistas do Brasil e do mundo.

Delicado continuaria nas paradas e emocionaria Waldir quando em uma viagem, ao Oriente Médio descobre uma caixinha de música que ao ser aberta, tocaria justamente o baião composto por ele e, em 1957, o Baião Delicado se tornou na música brasileira, recorde absoluto em venda e de execuções nas rádios em todo Brasil.

No período de 50 à 57, Waldir divide com Jacó. Pik Bitencourt, o Jacó do Bandolim o centro de uma calorosa e agitada discussão no meio musical brasileiro que tentava eleger o melhor instrumentista, tal o estrondoso sucesso de ambos. Até hoje muitos ainda discutem, mas cada um em seu instrumento foi inigualável.

Neste período, em 1951, Waldir gravaria outro choro, considerado um dos maiores clássicos da musica popular instrumental brasileira: “PEDACINHO DO CÉU” Esta era a música preferida do Waldir, considerada por ele próprio uma das mais elaboradas musicalmente e que fora composta carinhosamente para suas filhas.

A Pedacinho do Céu seguem “Chiquita “ e “Camundongo” (1951 ), “Vai Levando” (1952), “Queira-me Bem” (1953) “Amigos do samba ” (1955) entre outras.

Waldir Azevedo durante onze anos percorreria com seu cavaquinho a América do Sul e a Europa, incluindo duas excursões patrocinadas pelo ltamarati na chamada Caravana da Música Brasileira, bem como, esteve no Oriente Médio com Poly, o multi-instrumentista das cordas, e participou de programa na BBC de Londres-Inglaterra, transmitido para 52 países.
Em suas viagens por quase todo o mundo, encantou a todos com seu talento na execução do cavaquinho, e sempre tinha que explicar sobre a sua “pequena guitarra”.

Sempre muito paciente e simpático, Waldir atendia a todos com bom humor explicando a características de seu instrumento e o gênero genuinamente brasileiro. Waldir Azevedo divulgou diante das mais diferentes platéias não só a sua arte maravilhosa, mas também o choro, nossa primeira expressão musical instrumental genuinamente brasileira.

Waldir segue seu destino quando em 1964 passa por um momento trágico e doloroso, sofrendo um grande golpe com a morte de uma das filhas (acidente de carro). Interrompe bruscamente a carreira, só retornando em 1967 gravando 2 LP´s pela Odeon, sendo que o primeiro deles foi gravado no estúdio carioca da gravadora em 23 de julho de 1967. É um dos últimos grandes momentos individuais deste notável cavaquinhista no final dos anos 60.

Waldir Azevedo se aposentou em 1970 na Rádio Clube do Brasil como diretor artístico. Em 1971, sai do Rio de Janeiro, sua cidade natal, para fixar residência na Capital da Esperança, a cidade de Brasília,

Em 1974, tem novamente sua carreira ameaça devido a um sério acidente:

“Ao manusear um cortador de grama tem uma falange de seu dedo anelar da mão esquerda decepado. Parecia que ali a carreira do Mestre se encerraria. Já no hospital foi constatada a falta da falange. Uma volta ao local do acidente na casa de Waldir proporcionou a localização da mesma dentro de um cesto de lixo. Levada as pressas ao Hospital e após a realização de cirurgia para o reimplante entre outras cirurgias de caráter corretivo, que se sucederam, bem como com cansativos exercícios de fisioterapia, conseguiu-se o que parecia impossível: Waldir volta a tocar plenamente o seu cavaquinho e retornar a música brasileira. “

Em 1976, grava o LP “Minhas Mãos, Meu Cavaquinho” pelo selo Chantecler sob o número 2.04.405.070, em agradecimento à pintora Novelino, de nome Cléa Maria Novelino, por ter pintado um quadro inspirado no instrumentista, ao retratar um cavaquinho sobre a grama de um jardim e sob o toque das mãos de seu melhor intérprete.

Este quadro nasceu com o título de “Minhas Mãos, Meu Cavaquinho – Waldir Azevedo” e foi premiado com o “Medalhão Bronzeado – Yorth for Understanding”, no XI Salão Feminino da Sociedade Brasileira de Belas Artes. Sensibilizado e agradecido com a homenagem recebida da pintora Novelino, Waldir Azevedo compôs um choro com o mesmo nome e título do quadro.

Waldir acrescentou ao final do choro os acordes da “Ave Maria” de Gonoud, em agradecimento a Deus por ter Ele permitido que retornasse a tocar o cavaquinho

Waldir Azevedo, ainda em Brasília, passou a conviver com vários chorões da cidade e foi um dos fundadores do Clube do Choro de Brasília e participando de todas as rodas de choro.

Em 1977, o cavaquinista grava um LP pela Continental sob o título “Waldir Azevedo”, oportunidade em que presta sua homenagem a todo o Brasil, da melhor maneira que sabia, por meio do som de seu cavaquinho.

Neste disco Homenageia Brasília e faz um relato sobre a sua composição chamada “Flor do Cerrado” feita exatamente no dia 20 de setembro de 1977, à bordo do avião que o levava de Brasília à São Paulo, no em que iniciaria a gravação do LP.

Acabou de compô-la já no estúdio da Gravodisc, alguns minutos antes de gravá-la. O título foi dado pelo produtor do disco, Waldyr Santos, na hora em que ouviu o choro terminado.

Em 1979, foi homenageado com show pelos seus 30 anos de carreira na gravadora Continental, tendo a participação de amigos e admiradores. Foi uma roda de choro, onde o calor humano, o sentimento e a emoção, nasceram puros e simples, sem estrelismos e nem truques. Uma festa para Waldir Azevedo por tudo que ele fez pelo seu público e pela música brasileira.

Esta grande e memorável Roda de Choro teve a participação de Isaias e seus Chorões, Carlos Poyares, Ademilde Fonseca, Paulinho da Viola, Copinha, César Faria (pai de Paulinho da Viola e integrante do conjunto Época de Ouro), Raphael Rabelo, Osmar Macedo (criador do Trio Eléletrico) Arthur Moreira Lima, Paulo Moura e Celso Machado, bem como, não faltou o famoso brasileiro João de Barro (Braguinha), que em 1949 era o Diretor. Artístico da Continental, o responsável pelo convite a Waldir Azevedo para realizar a sua primeira gravação em disco.

Esta comemoração dos 30 anos de Waldir Azevedo na gravadora Continental resultou em um disco gravado ao vivo em 27 de novembro de 1979, no Teatro Municipal de São Paulo, registrando-se, assim, uma justa homenagem ao instrumentista que retirou o cavaquinho do anonimato ao colocá-lo em posição de destaque como instrumento de solo.

Em 1980, estava preparando trabalho para a gravação de um novo disco. A medida em que se aproximava a data de sua nova gravação, deixou no ar toda uma preparação, pois Waldir Azevedo era tão minucioso no seu trabalho quanto brilhante.

Desta forma, o mestre do cavaquinho, alguns dias antes do início da gravação do disco, gravou em sua casa uma fita cassete com algumas instruções, enviando-as para o coordenador da produção Waldyr Santos sendo parte delas para o maestro Messias e outras para a própria produção, pois pretendia neste seu novo disco incluir alguns detalhes que até então não havia usado, tais como duas faixas com letras e a utilização de algumas cordas em determinadas músicas, entre outros.

Assim, seis das músicas mereceriam cuidados especiais por parte de Waldir Azevedo, enquanto as outras seis músicas, que completariam o disco, obedeceriam ao esquema tradicional com o seu cavaquinho no solo e o acompanhamento de um regional.
Infelizmente, Waldir Azevedo não pode ver e nem ouvir o seu trabalho realizado.

Seu cavaquinho maravilhoso ficou mudo poucos dias antes da data marcada para o início da gravação deste novo disco. Pois faltava pouco mais de duas semanas para que Waldir Azevedo iniciasse as gravações de seu novo disco, quando uma indisposição fez com que deixasse a sua residência em Brasília e antecipando a sua vinda para a cidade de São Paulo, sendo internado para tratamento hospitalar na Beneficência Portuguesa, e, em 20 de setembro de 1980, viria a falecer, retornando a capital Federal somente para as cerimônias fúnebres.

Coincidência ou não, cabe ressaltar, que em sua discografia, existe uma única menção sobre a data exata de uma composição, sendo esta “Flor do Cerrado” em 20 de setembro de 1977, onde homenageia a cidade de Brasília e a exatamente 3 anos após esta composição, em 20 de Setembro de 1980, o cavaquinho deste gênio de nossa música popular brasileira cala-se deixando uma obra digna de ser estudada por aqueles que apreciam e cultivam o choro.

Cabe destacar que a reconstituição do projeto definido por Waldir Azevedo para esse que seria o seu último disco, recaiu sobre Roberto Barbosa (Canhotinho), exímio cavaquinista, integrante do Grupo – Demônios da Garoa, por ser uma escolha do próprio Waldir de Azevedo, já que algumas vezes, perante testemunhas, afirmava ele ser Canhotinho um do seus legítimos sucessores, e um dos poucos músicos do gênero que tinha muito do seu estilo e técnica.

E foi o som deste cavaquinho, que pertenceu ao grande mestre da música brasileira que Roberto Barbosa (Canhotinho) utilizou na gravação do LP que Waldir Azevedo não gravou com o título de “Luz e Sombras” e também é o nome de um choro de sua autoria que integra o repertório deste disco. Desnecessário falar da responsabilidade, seriedade e do carinho que “Canhotinho” dedicou na elaboração deste disco. É um registro digno e talentoso, realizado a altura das exigências do mestre, por sua própria escolha e por um de seus diletos discípulos.

O disco “Luz e Sombras” foi editado pela RGE sob o número 308.6031 inclui as falas explicativas de Waldir Azevedo sobre as músicas que foram realizadas em um gravador cassete, doméstico, sem grandes recursos técnicos, e não se destinando a utilização em disco, o que em alguns instantes apresenta baixa qualidade sonora.

Mas, deve se destacar e enaltecer a utilização das falas de Waldir Azevedo por preservar em disco a voz de uma das figuras mais importantes da história de nossa arte e de nossa cultura e da música popular brasileira em todos os tempos.

Waldir Azevedo participou de momentos decisivos na música brasileira, foi um ser humano de extrema humildade pois não levava em consideração o vulto excepcional de sua obra e o grande serviço internacional que prestou a Música Popular Brasileira com pelo menos duas composições: Brasileirinho e Delicado.

Recebeu homenagens e reconhecimento em vida, como, em 1977 o choro “Brasileirinho” deu nome ao I Festival Nacional do Choro – ” Brasileirinho” realizado pela rede Bandeirantes.

Waldir Azevedo retirou o cavaquinho do anonimato do acompanhamento para ser valorizado como instrumento solista, estabelecendo um divisor na execução deste instrumento, ou seja, o cavaquinho antes e depois dele.
Por tudo isto e muito mais é que Waldir Azevedo e seu cavaquinho estão inseridos na história do Cavaquinho e da Música Brasileira, merecendo, assim, o reconhecimento e o respeito permanente e definitivo do povo do nosso Brasil.

São aproximadamente 150 composições ao longo da carreira. Dezenas de regravações e acompanhamento a outros grandes músicos. E como ele próprio dizia; “é impressionante que através de um pedaço de madeira com quatro arames esticados eu tenha conseguido sustentar a família muito bem até hoje”..

Sensibilidade e maestria para extrair do cavaquinho uma doçura, uma esperteza sem igual. Waldir virou praça, nome de escola, nome de Parque, de rua e Avenida. Por todo o país.
A cidade de Santos, em São Paulo, por exemplo, durante anos homenageou Waldir Azevedo: De 1980 à 1990, e depois em 1995, então já datando 15 anos de falecimento do Waldir e, com a dedicação do instrumentista Zinomarcos (cavaquinho) foram promovidos lindos espetáculos em grandes teatros e ginásios locais e a “CHOROTÉCA WALDIR AZEVEDO”.

Além de todo este legado, Waldir deixou também algumas músicas inéditas feitas com o parceiro HAMILTON COSTA e algumas melodias gravadas na casa do Cleciús Caldas.

Depois de muitos anos de apenas biografias divulgadas na internet, o site www.waldirazevedo.com.br divulga e torna acessível algumas imagens e shows de Waldir Azevedo.
Não temos noticia mas em 2011 esperava-se o lançamento de um filme em sobre sua vida.

Nota: Este texto resumido nem de longe tem qualquer pretensão além do sincero sentimento de homenagear um músico ímpar e, mais uma vê, tentar conta-la em poucas linhas aos amigos e amantes da obra de Waldir

“Já dizia mais ou menos assim Carlos Poyares:- Pense num músico virtuoso e numa pessoa melhor ainda.. Assim era Waldir. “

Nesta descrição, consigo imaginar um Waldir, que infelizmente não tive a oportunidade de conhecer, a não ser, pela descrição e relatos de amigos que foram seus contemporâneos.

Vários e vários trabalhos já escritos e todos contam à sua maneira a história de um dos músicos mais importantes do Choro Instrumental brasileiro, que o público, muito mais que outros “operários da música”, reconheceu e o distinguiu pelo grande valor.
À internet todos os créditos e muito mais detalhes:

http://musicachiado.webs.com/GravacoesRaras/WaldirAzevedo.htm

http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/diversao-e-arte/2009/11/27/interna_diversao_arte,157375/index.shtml

Paulo A. Pereira (Paulão) é cavaquinista.

20/09/2015 – (35 anos da morte de Waldir Azevedo)


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