Este ano, 2015, é um ano muito especial para o “Choro” e para a Música Popular Brasileira, pois se comemora o Centenário de nascimento de um dos maiores gênios da história da música deste País – Aníbal Augusto Sardinha, o Garoto, que nasceu em São Paulo, no dia 28 de junho de 1915 e morreu no Rio de Janeiro em 1955.
Em vinte e cinco anos de carreira, Garoto influenciou algum dos maiores nomes das gerações posteriores. Baden Powell, Raphael Rabello e Yamandu Costa consideram Garoto como criador uma nova linguagem harmônica do violão. A obra inovadora de Garoto está presente no repertório de grandes instrumentistas em várias partes do mundo. No início dos anos 1950, Garoto conviveu com alguns dos nomes que se destacaram na bossa nova, entre eles, Luiz Bonfá, Tom Jobim, Billy Blanco, Dolores Duran, Luiz Eça e Carlos Lyra, admiradores de suas harmonias provocadoras e de suas composições que prenunciavam aquele movimento.
Como multi-instrumentista destacou-se tocando violão tenor, bandolim, cavaquinho, guitarra havaiana e banjo, porém, tocava outros instrumentos com a mesma maestria. Podemos observar, entretanto que, o violão foi seu instrumento de referência, tanto que em 1933 passou a estudar formalmente com o professor Atílio Bernadini.
Em setembro de 1939, a convite de Carmem Miranda, Garoto parte para os EUA, ingressando no conjunto Bando da Lua. Em solo americano, e paralelamente ao êxito de Carmem, Garoto ganhou destaque, a ponto de chamar a atenção de uma plateia diferenciada como Duke Ellington e Art Tatum. O ponto alto das apresentações de Garoto em solo americano foi quando se apresentou na Casa Branca, especialmente para o Presidente Franklin Delano Roosevelt.
Na sua curta vida, Garoto trabalhou em diversas rádios, entre elas a Rádio Atlântica de Santos, onde conheceu Nelson Baptista Campos, o Nelsinho malabarista do violão tenor, a quem dedicou o choro ainda inédito “Pequenininho” e o compositor Gentil Castro para quem compôs “Gentilíssimo”. Ainda em Santos, Garoto se apresentou no Teatro Coliseu e realizou temporadas nos diversos Cassinos da Baixada Santista. Na temporada santista compôs “Sétimas Maiores” e gostou tanto de Santos que compôs um choro dedicado ao bairro José Menino. Foi na Rádio Nacional, porém, que Garoto alcançou sucesso e reconhecimento. As composições que deram ao Garoto maior popularidade foram “São Paulo Quatrocentão”, “Duas Contas”, “Tristezas de um violão” e “Gente Humilde” que, muitos anos depois, ganhou letra de Vinícius de Moraes e Chico Buarque.
Foi Garoto quem primeiro adotou no violão os acordes dissonantes com os chamados intervalos de sétima maior, nona e décima terceira, assim como os intervalos aumentados, que tanto se popularizaram no Brasil a partir da bossa nova. Garoto também explorava bem o desenvolvimento de melodias a partir da sequência de acordes. Garoto representa a própria modernidade da música popular brasileira.
Em junho de 1953, em visita ao Brasil, o violonista espanhol Andrés Segóvia apontou, sem titubear que o maior violonista do mundo, em sua opinião, era o músico brasileiro Aníbal Augusto Sardinha.
Reconhecendo a importância de Garoto, o Clube do Choro de Santos, que o tem como patrono, apresentou propositura ao então deputado estadual Paulo Alexandre Barbosa, que criou Projeto de Lei instituindo a partir de 2009, pela lei 13.447, o dia 28 de junho, data de nascimento de Garoto, como o Dia Estatual do Choro. Celebremos, pois, seu Centenário.