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ENTREVISTA COM NETINHO, O BATERISTA DO GRUPO “OS INCRÍVEIS”, SANTISTA DE NASCIMENTO E CORINTHIANO POR OPÇÃO

incriveis 2MARCELLO: Antes de entrar no bojo da entrevista sempre fazemos um “bate-bola” com o nosso entrevistado.

Então vamos lá.

Nome completo: Luiz Franco Thomaz

Data e local de nascimento: Santos 05 – 04 – 46

Nome da esposa e dos filhos: Sandra Haick Thomaz – Sandro Haick Thomaz – Samadhi Haick Thomaz que mora a 13 anos em Adelaide Australia

Além de você alguém da sua família também enveredou pelos caminhos da música? Sim, meu irmão Marinho, meu filho Sandro e meu sobrinho Nandinho.

Time de futebol do seu coração: Corinthians          

Tem preferência ou simpatia por alguma escola de samba: Mangueira (mas não sou tão fanático)

Na sua opinião, qual o maior conjunto de rock que você já viu: Viggg, ahi são muitos Queen, Led Zepellin, Deep Purple, mas sou mais adepto ao fusion de Chich Corea, Joe Zawinul, etc

MARCELLO: Agora sim, vamos à entrevista. Como você começou na música e como a bateria surgiu na sua vida.

NETINHO: Minha família sempre foi musical, isso me ajudou a me interessar em estudar música e tocar repique na fanfarra da escola com 8 anos e com 11 na banda do Seminário Diocesano de São Vicente, e com 14 / 15 anos já era profissional baterista da Orquestra Tropical de Itariri.

MARCELLO: Você se inspirou em algum baterista, tem algum ídolo no instrumento, Ringo Starr, por exemplo?

NETINHO: Meu ídolo na bateria é o eterno Buddy Rich.

MARCELLO: Você além de baterista é compositor também? Em caso positivo, cite algumas composições de sua autoria.

NETINHO: “Boato” gravado por Originais do Samba e regravado por nós agora em 2015. “Casa de rock” da banda Casa das Maquinas. Tenho 70 composições gravadas, e um livro “Minha história ao lado das baquetas”.

MARCELLO: A princípio o conjunto chamava-se “The Clevers” e depois mudou para “Os Incríveis”. Porque a mudança, houve algum problema de homonímia?

NETINHO: Vários motivos nos levaram a optar pela mudança de nome.

MARCELLO: Quem sugeriu o novo nome e em que ano foi isso.

NETINHO: Nosso 3o. e 4o. LP chamaram-se “Os Incríveis The Clevers”, foi fácil escolher um novo nome.

MARCELLO: Conte-nos como foi o exato momento em que o grupo The Clevers saiu de cena e, logo em seguida, surgiu o conjunto Os Incríveis.

NETINHO: Foi em 64 quando fomos para a Argentina e durante quase 1 ano em Buenos Aires passamos a usar “Los Increíbles” que ficou pra sempre.

MARCELLO: Escale a formação original dos Clevers.

NETINHO: Mingo, Manito, Netinho, Risonho e Neno.

MARCELLO: Agora escale a formação original dos Incríveis.

NETINHO: Só o Nenê que entrou no lugar do Neno.

MARCELLO: Tanto um como o outro poderiam ser considerados “cover” de The Ventures e The Shadows?

NETINHO: Eu não diria cover mas gravamos algumas músicas dos Ventures.

MARCELLO: Esses conjuntos, de alguma maneira influenciaram vocês?

NETINHO: Sim, sem dúvida, mas a gente já tocava mpb individualmente antes deles existirem.

MARCELLO: Se bem me lembro vocês chegaram a gravar coisas deles, “O Milionário” (The Milionaire), por exemplo.

NETINHO: Milionário foi uma versão dos Dakotas. Ventures era: Venus, The Intruder, Gandy Dancer e outras.

MARCELLO: Engraçado que vocês, no auge do rock’n'roll, gravaram – com uma roupagem mais moderna para a época – um clássico do samba-canção, a composição “Molambo” de Jaime Florence, o “Meira” e Augusto Mesquita. Como foi isso, de quem foi a ideia.

NETINHO: Nosso grupo sempre tocou de tudo, fazíamos baile que na época tinha que conhecer música mesmo pra poder tocar; samba, bolero, rumba, chá chá chá, mambo, valsa, etc. Molambo nos inspiramos no estilo do Cris Montez

MARCELLO: E The Beatles, o que eles significaram na sua vida, aliás, não só na sua, mas, na vida de todos os integrantes do conjunto.

NETINHO: Não tivemos muita influencia dos Beatles que conhecemos quando estávamos em tournè pela Europa com Rita Pavone, bem antes de aparecerem no Brasil.

MARCELLO: Efetivamente, o “Fab Four” foi o maior de todos?

NETINHO: Não sei o que é o Fab Four, desculpa.

MARCELLO: Logicamente que essa pergunta eu não poderia deixar de fazer, com todo o respeito, obviamente. Aliás, você está absolutamente à vontade para responder ou não. Como aconteceu seu romance com a espevitada e sardenta cantora italiana Rita Pavone. Na época foi bem marcante, né?

NETINHO: Sim, marcou até hoje. Aliás troquei duas palavrinhas rápidas com ela pelo facebook a poucos dias. Foi uma experiencia que mudou minha vida com projeção do meu nome no exterior e convites pra filmar com artistas internacionais, etc.

MARCELLO: Na ocasião vocês se conheceram na Europa durante uma turnê do conjunto, certo?

NETINHO: Nos conhecemos no Brasil quando ela veio se apresentar na TV Record em 63, e ela nos contratou para acompanhá-la e aí nosso universo se abriu, só na Europa fizemos mais de 40 shows com ela.

MARCELLO: Isso foi em 1965? E quando vocês retornaram, vieram para participar do programa Jovem Guarda na TV Record?

NETINHO: Sim, participamos algumas vezes do programa Jovem Guarda mas não fazíamos parte dos artistas fixos contratados do programa.

MARCELLO: Na sua opinião, os três maiores sucessos da banda foram “Era um garoto que como eu amava os Beatles e os Rolling Stones”, uma versão de Brancato Junior da canção “C´era um ragazzo che como me amava i Beatles i Rolling Stones”, sucesso do cantor italiano Gianni Morandi, “Eu te amo meu Brasil”, de autoria da dupla Dom e Ravel e “O vendedor de bananas”, do Jorge Ben?

NETINHO: E a música “O milionário”.

MARCELLO: Além dessas três composições você colocaria nesse rol mais alguma ou mais algumas musicas que você destacaria?

NETINHO: Sim, “Marcas do que se foi” e “O vagabundo” também.

MARCELLO: Conte pra nós como foi o convívio com todos aqueles craques da era da Jovem Guarda, Roberto, Erasmo, Wandeca, Martinha, Demétrius, Vips, Leno, Lilian, Golden Boys, Trio Esperança, Dori Edson, Meire Pavão, Waldirene, Jerri Adriani, Silvinha, Eduardo Araujo, Renato e seus Blue Caps, enfim, aquela galera toda.

NETINHO: Fomos um dos primeiros a viajar pela Europa e ter nosso programa próprio “Clevers Show” na TV Record antes da Jovem Guarda, isso nos fazia trabalhar e viajar muito, o que não nos proporcionava um convívio igual aos demais artistas infelizmente. O bom é que a banda tinha o maior cachê no Brasil de 64 a 68.

MARCELLO: Lembro-me que quando o programa começava a cidade parava. Conte-nos como era a sensação dentro do teatro, a molecada ia à loucura, né?

NETINHO: Sem dúvida, era comum chegarmos em casa ou mesmo no palco com as roupas rasgadas pelos fãs. No meu livro eu conto diversas passagens interessantes.

MARCELLO: Salvo engano de minha parte o programa durou aproximadamente quatro anos (de 65 a 69) e marcou muito aquela geração de jovens, certo?

NETINHO: Em 66 nós fomos contratados pela TV Excelsior pra comandar o programa Os Incríveis nas noites de domingo, por isso ficamos pouco tempo na Jovem Guarda, viramos concorrentes…rsrs…

MARCELLO: Você também acha que aqueles programas da Record na década de 60 (Jovem Guarda, O Fino da Bossa, Show do Dia 7, Esta noite se improvisa, Bossaudade, Festivais de MPB e outros) fizeram parte de uma época histórica da TV brasileira? Qual sua opinião a respeito.

NETINHO: A época era muito rica musicalmente e Os Incríveis participava de todos esses programas que você citou. E no nosso programa na Excelsior nós levamos todo tipo de convidado, desde Mutantes, Tim Maia, a Altamiro Carrilho, Caubi Peixoto, etc.

MARCELLO: Em 1966 você conheceu sua esposa durante as gravações do longa metragem “Os Incríveis neste mundo louco”. Foi isso mesmo?

NETINHO: Sim, a conheci a bordo de um navio num cruzeiro pela Europa quando filmamos o 1o. longa metragem. Fizemos 2 filmes.

MARCELLO: O fim do grupo “Os Incríveis” deu-se em 1972, confere? O que aconteceu, porque houve a separação.

NETINHO: A banda começou a casar, ter filhos, e também a montar negócios fora do ramo artístico, e também as influencias do novo rock, isso fez a gente se separar.

MARCELLO: Infelizmente o Nenê e o Manito faleceram. Você tem notícia de que algum outro integrante do conjunto tenha falecido também?

NETINHO: O 1o. a falecer foi o Mingo em 93 e ano passado faleceu o Neno também.

MARCELLO: Após a separação você criou o grupo “Casa das Máquinas”, certo? Conte-nos algo a respeito, como foi a trajetória do grupo.

NETINHO: Bem, com o final dos Incríveis eu acabei assumindo o staff da banda, comprando o nome, a empresa, o estúdio, os instrumentos e o caminhão. Influenciado pelo novo rock tive a sorte de montar uma grande banda que foi o CASA, com 3 LPs pela Som Livre, mais os discos piratas, claro…hehe…Brasil!

MARCELO: E agora, depois de passado meio século e com aquele sucesso todo, como você vê a música hoje, tem muita coisa de qualidade duvidosa na mídia, você não acha?

NETINHO: A música continua rica e cada vez mais rica porque com a internet as informações fluem facilitando o conhecimento. A mídia, os produtores e os empresários do ramo nos dias de hoje insistem em tentarem acabar com a qualidade da música.

MARCELLO: Você também acha que os programas daquela época e a grande profusão de talentos era muito melhor do que hoje, afinal, grandes nomes da MPB surgiram naquele momento?

NETINHO: A música
sempre teve grande influencia nas revoluções de mudanças de comportamentos. As
notas musicais são as que mais falam de amor. Eu diria até que os anos que
antecederam essa nossa época dourada, foram tecnicamente e musicalmente mais
ricos, mas a música quanto mais antiga, melhor executada era. No entanto, entre
talentos natos e dons em fortes paixões nas artes do sentimento, em tarefas
árduas com provação no sistema atual e na frágil missão que se arrola, raras transformam-se em obras imortais. E eu me
pergunto! Por onde andam as grandes orquestras e os espaços que se davam aos
bons musicistas, principalmente nas gravações? Não existe mais um belo solo
instrumental nas músicas pops que hoje se repetem nas milhares de rádios deste nosso
imenso país, procurando somente pela melhor oferta… É mole? Não, é
triste! Imaginar que a tecnologia veio
pra facilitar. A arte está em
extinção, ou só cedeu lugar ao infirmado carnaval? Entre os
músicos costuma-se dizer que não existe música ruim, existe sim, a música mal
tocada, ou mal interpretada. Por isso ouço de tudo. Dependendo do momento,
costumo ouvir desde Strawinsky e Villa Lobos a Zawinul e Hermeto. Ou um bom
jazz da época do preto e branco apresentados em traje de gala, entre diversos
sabores de fuzions internacionais, e às vezes também, um bom bolero a la King
Cole, ou aquele bom rock and roll que ainda me pega na veia! Sou um eterno
apaixonado pela música brasileira, mas no meu entender; sertanejo de raiz não é
pop romântico, e um bom samba não é pagode, assim como xaxado e baião não são
axé! Ah! Os bons
instrumentais e os ritmos de percussão das diversas regiões do Brasil. Um
maracatu que ainda é nosso, como eu gosto, da batucada e dos chorinhos. (trecho do meu novo livro ainda não lançado)

 

MARCELLO: De uns tempos pra cá você tem participado de shows reunindo boa parte daqueles integrantes da Jovem Guarda e chegaram a gravar dois CDs, certo? Diga-nos qual a sensação de estar novamente no palco ao lado dos companheiros daquela época.

NETINHO: Ah! Sim, tem sido gratificante essa experiencia que andamos fazendo produzindo esse reencontro com a galera da Jovem Guarda.

MARCELLO: Finalizando, pois, meu caro Netinho, sempre perguntamos ao entrevistado se deixamos de fazer alguma pergunta relevante ou se não citamos algum fato importante da sua carreira. Por favor, esteja absolutamente à vontade para fazê-lo agora.

NETINHO: Bem, eu sempre digo que a banda foi pioneira em vários itens, inclusive o fato de termos sido o 1o. artista brasileiro a se apresentar no Japão em 68.

*Em maio deste ano estaremos lançando pela gravadora Eldorado, um DVD histórico comemorando 50 anos da banda Os Incríveis, gravado em maio de 2014 no teatro Bradesco com mais 50 músicas e 80 profissionais envolvidos na produção.

MARCELLO: E também, ao final da entrevista, pedimos ao entrevistado que deixe uma mensagem para o Clube do Choro de Santos.

NETINHO: Bem, sou Santista, fã de chorinho, meu tio João Franco tocava muito chorinho e meu filho Sandro Haick também sabe tudo do estilo e manda muito bem no bandolim. Espero muito em breve conhecer o Clube do Choro que a muito tempo eu ouço falar. Parabéns a todos vocês que fazem parte desse patrimônio histórico e cultural dos mais agradáveis da nossa música brasileira.

MARCELLO: Valeu Netinho, muito obrigado pela atenção e receba um forte abraço, foi um grande prazer entrevistá-lo.

NETINHO: Eu que agradeço pelo carinho e espero poder ter correspondido à expectativa de vocês a quem devemos toda nossa gratidão.

Obrigado amigos.

Netinho
EMAIL > netinho@internetinho.com
BLOG > www.internetinho.com
FACEBOOK > facebook.com/netinho.baterista
TWITTER > @InterNetinho


3 Comments Add Yours ↓

  1. Marcello Laranja #
    1

    Grande Netinho, obrigadíssimo pela atenção, avise quando você lançar o livro, quero um exemplar. Abraços

  2. EDSON MARAVILHA #
    2

    Meu comentário refere-se única e tão somente, à agradecer tanta alegria, que o Sr. Luiz T.Franco(Netinho) e seus competentes parceiros musicais, me proporcionaram na infância quase juventude. Hoje sou um profissional da musica,inspirando-me em: Mingo,Netinho,Risonho (o Maior Guitar man do País) Neno,Manito e Yrupê,a inesquecível Banda Os Incriveis.Deixava de fazer lições de casa para vê-los tocando ao vivo nas Tvs, do Brasil e Mundo afora !Parece incrível, mas Conjunto, (como se falava na época) igual VOCÊS, nunca mais veremos ! Uma certeza: Vocês serão sempre meus Heróis Musicais, mesmo os que se foram antes do combinado, estão guardados em nossos corações. E à você Grande Netinho Batera e o Risonho(Valdemar Mozena), eu desejo muita saúde, muitos anos de vida, e peço ao Nosso Pai CRIADOR, que lhes proteja sempre, extensivo aos seus Entes mais queridos ! Receba um abraço do Amigo e admirador do seu trabalho, Edson Maravilha, Cantor e Comunicador de Sampa ! S.Paulo, 28 -03- 2015, às 22.41 !!

  3. 3

    Mr. Netinho, por gentileza me avise por E.mail ou no Site Acima, quando sair o livro ! Eu quero um Exemplar do mesmo.

    São Paulo 28 Março de 2015.

    Edson Maravilha, Cantor e Comunicador.



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