“Não se tira nada de nada, o novo vem do
antigo, mas nem por isso é menos novo.”
Bertolt Brecht
Mano velho, um dia, eu vi
Landulfo, Diamantino, Zequinha e Seu Lili
Canhoto, Joãozinho, Daniel Feijoada e Morais
No bambuzal, varandas e quintais
Ainda menino, mano velho, eu vi
Velhos chorões, velhos sambistas,
Velhos malandros, balizas e passistas
Mano velho, eu vi
Borracha, Varoca e Valdir
João Grande, Da Palheta, endiabrados passistas Imperiais
Nas ruas, nos terreiros e quintais
Mano velho, eu vi
Joãozinho, Dadinho, Jacozinho e Maurici
Miro, Hugo, Malandrinho, Walter, do bandolim, o grande ás
Nos butecos, varandas e quintais
Mano velho, eu vi
Roger Cambuça, Capitão Serra, Zico e Didi
Nelsinho Boneca, Jumba, Boró, Serrinha e outros maiorais
No bambuzal, varandas e quintais
Mano velho, eu vi
Santa Tereza, Cruzeiro do Sul, Boêmios
Sanhaços, tiés-sangue e bem-te-vis
Das Dengosas nem é bom falar
Pra não chorar
Bloco do Boi, Aborrecidos e Agora Vai
Sabiás, coleirinhas e pardais
Nos ipês, nas goiabeiras e laranjais
Nas ruas, de memória e quintais
Eu ouvi mano velho
No fundão do Marapé, no pé do morro
E guardei no fundo do peito
Todos os sons e todas as canções
Das flautas, bandolins e violões
Eu vi mano velho, tudo isso e muito mais
No bambuzal, varandas e quintais.
E, nos momentos de melancolia,
Quando só, na escura solidão,
A dúvida surge, tortura e angustia
E, então me pergunto, em vão
Quando a morte chama
Para onde vão
As canções que a gente ama?!
Renê Rivaldo Ruas é escritor. Foi passista da Império do Samba, baliza da Embaixada de Santa Tereza, fez parte do Bloco do Boi, integrante do grupo de Choro Regional Varandas, desde sempre toca cavaquinho e solta a voz na roda de Choro e Samba do tradicional Ouro Verde e Diretor do Clube do Choro