Pois é quem diria, o Juvenal. O mequetrefe morava bem ali na Rua são Judas Tadeu, num pequeno chalé mais adernado que bêbado em ventania.
Juvenal era um sujeito dito bem apessoado, não se mostrava por inteiro, nunca. Estava sempre no meio, na verdade, era meio barro, meio tijolo, meia idade, meio canalha, meio cafajeste. Não, não era político. Era bem melhor. O homem carregava água em peneira, enfiava água no espeto.
Além de todos esses atributos, o homem era mulherengo e não perdoava ninguém. Gostava mesmo era de comer o miolinho da alface.
Juvenal, se interessado, ia pra cima da vítima sem maiores remorsos. Não tinha predileção nem por cores nem por idade. O papo furado do Juvenal nem sempre dava certo, porém, quando, às vezes acertava, partia para o crime com o coração a gargalhar.
A caça preferida do Juvenal, porém, caro leitor, era sem sombra de dúvidas a bela e fagueira mulata Mercedes, esposa do vizinho Bide de nome Alcebíades.
Permita-me acrescentar, leitor amigo, que o malandro Juvenal que, a par de todas as virtudes que um bom cafajeste possui ainda se dava ao luxo de passar bem longe do trabalho, pois que era lavado, passado e engomado pela generosa aposentadoria da Avó Belinha, fugia do trabalho como político foge também do trabalho e o diabo da cruz e, assim como os políticos, adorava visitar as bases. Visitava a zona todas as noites. Adorava jantar de graça.
Pela Mercedes do Bide, porém, dizia o Juvenal, eu faço qualquer coisa neste mundo até trabalhar, Deus me livre, eu trabalho meu irmão! Conversa pra boi dormir, pois que o nosso estimado Juvenal não era homem de cumprir palavra e nem promessa. Ficava sempre na dívida com o Santo.
Mercedes, a esposa do Bide, até que valia o sacrifício. Tirava o juízo do homem que vai trabalhar como diz o samba do Caymmi. A Cabrocha tinha cinturinha de pilão, bunda grande, peitão arrasa quarteirão, despedaçava os corações e era o sucesso na Quitanda do Emílio, na venda do Seu Avelino e no açougue do Seu Maneco.
Juvenal perdia o rumo quando a Mercedes desfilava no Império do Samba, do afamado Nego Dráuzio. Mercedes era a principal cabrocha da escola. Na avenida dava um separa o visgo, olhava a platéia com olhar de mata o pinto e transformava o coração do Juvenal em dez réis de mel coado.
Bide, o dono do monumento, não estava nem aí. Não gostava de carnaval. Acompanhava apenas o desfile levando frutinhas e bebidinhas para a doce patroa. Quinze anos de casamento perfeito. Vestia e calçava a patroa nas melhores lojas e magazines, principalmente as de alta patente, pois que a mulata era de fino trato.
Juvenal soltava umas graças pra cima da Mercedes que, aliás, nutria até certa simpatia pelo mandrião, mesmo sabendo que o homem não valia porra nenhuma.
Dona Maria que desconfiava do caráter do nem sempre confiável Juvenal, dizia: “Meu filho, peneira que côa ouro, não pode coar fubá!”
Depois de muitas ladainhas e promessas de amor eterno, não deu outra, lá se foi a Mercedes apanhar gabiroba no quintal do Juvenal e rebolou sem bambolê.
Pois é meu amigo leitor, o capim da lagoa o viado comeu e o Juvenal se deu bem e dançou feio. Era muita banana pra macaco.
A Mercedes, esposa do Bide, não era Mercedes e nem era a bela mulata de cor de jambo dos sonhos do Juvenal. Mercedes, na verdade, era Julião, antigo valentão do cais do porto que enfrentava qualquer um na navalha, no canhão e não recusava briga, pois que era o bom no rabo de arraia e na pernada, nas horas vagas, porém, mordia a fronha com muito amor.
Pois é mano velho, o Bide perdeu a esposa Mercedes e o Juvenal ganhou o marido Julião, pois que poleiro de pato é terreiro e quem refresca bunda de pato é lagoa.
Renê Rivaldo Ruas é escritor. Foi passista da Império do Samba, baliza da Embaixada de Santa Tereza, fez parte da bateria do Bloco do Boi, foi integrante do grupo de choro Regional Varandas, formado por jovens amantes do Choro. Desde 1986 toca cavaquinho e solta a voz na roda de samba e choro do tradicional Ouro Verde e diretor do Clube do Choro.