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TOQUE DE SILÊNCIO

sambaNão gostaria de comentar o assunto, mas a indignação é grande. Dizem que passarinho na muda não canta, não é o caso. Estava cá no meu canto quietinho, ouvindo o LP – “Lulu de Madame”, do genial Dilermando Pinheiro na minha possante vitrola “National” e, aí surge um lesco lesco que não dá mais pra aturar. É o seguinte mano velho, volta e meia vem à tona aquela velha conversa pra boi dormir que a Roda de Samba do Ouro Verde vai acabar ou vão acabar com ela. Acaba não acaba e todo mundo já está lotado de saber que o samba do Ouro Verde só vai acabar quando o dia clarear como falou Paulinho da Viola.             ===>Pode-se deixar de sambar no Ouro Verde, mas aí nos vamos sambar noutro lugar, pois que a roda de samba do Ouro Verde está muito além desse papo furado. Vinte e oito anos e muito mais de quirelas e quizumbas. Rua do Samba, Patrimônio Cultural e daí? A mesma ladainha de sempre. Claro está e basta dar uma olhadinha em volta, pra se constatar que a cidade, lamentavelmente, mediocrizou-se. A burrice está ganhando de goleada. Num tempo escuro que passou, a cidade sofreu quase que o mesmo processo. Falava-se em cultura neguinho sacava logo o revolver. O inimigo mostrava a cara. Hoje, sitiada, a cidade está entre a minoria silenciosa e os bárbaros consumidores de lixo cultural.
De um lado a poderosa minoria silenciosa que manda e desmanda na cidade. A cidade é portuária e daí? Eles não querem o apito dos navios, não querem o trilho dos trens nem seus apitos também. O sino das Igrejas nem pensar. A concha acústica está muda. Enterraram o carnaval. Cuidado! Amanhã será a vez dos canários, sabiás e coleirinhas. Voem camaradas!
Do outro lado os bárbaros consumidores de lixo cultural que invadiram a cidade. O amigo duvida? Então dê uma conferida nos tais lambes-lambes nos muros da cidade. É de doer ao se constatar a invasão desses bárbaros que com sua vulgaridade e falta de educação transformaram a cidade num imenso espetáculo de indigência cultural.
Graças a Deus e a alguns santistas de quatro costados é que podemos considerar como garantida a preservação do Centro Histórico, convém, entretanto, ficar alerta, pois não podemos e não devemos dormir no ponto. Se a cidade não ficar alerta, os perigosos destruidores travestidos de construtores, logo estarão erguendo assustadores prédios de trezentos andares no centro. Não duvidem eles são poderosos. Lembrem-se do Parque Balneário.
Santos que já foi risonha e franca e que nos anos cinqüenta e sessenta vivia uma efervescência cultural, vibrante e febril, infelizmente se transformou numa cidade envelhecida, chata, pronta pra receber gente chata perdida em teias de aranha e no atraso. Cheirando a mofo.
É triste, é muito chato perceber que abolimos o bom dia, o obrigado, o desculpe, o com licença, ou seja, a cidade, nesses tempos de gente moderna, tem vergonha de ser educada.
Além de tudo isso e para piorar um pouco mais, constatamos com profunda tristeza que aos poucos vamos perdendo nossos artistas.
Há pouco partiu o venerável Nelson Jumba, o Jamelão do Marapé, outro dia se foi o agitado produtor cultural Toninho Dantas. Partiram dias desses também os seresteiros Dorival Loureiro de Paiva, Miltinho do  Cavaquinho, Perácio, Hugo, Dadinho, Walter Caetano e assim vão se acabando os valorosos guerreiros da resistência que em suas trincheiras (quintais e botequins) combatiam o bom combate contra a invasão dos bárbaros.
E, assim, vamos tocando o bonde, dando murro em ponta de faca, dando nó em pingo d’água pra ver onde vai dar tudo isso. A cidade, meu caro amigo, já perdeu o mel e, pelo andar da carruagem, logo, logo perde a cabaça também e, aí só nos resta perguntar. Afinal, Santos, onde estão teus bandolins?
Zé do CamarimZe_camarim_completo_jpg


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  1. Marcello Laranja #
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    Beleza cumpadi,falar mais o que se você já disse tudo e mais alguma coisa, né? É isso, salve a província que empobreceu e emburreceu também. Abraços.



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