A Rádio CBN SANTOS recebeu, neste sábado, dia 11 de Janeiro de 2014, as presenças de Marcelo Laranja, Vanessa Ribeiro e Plácido Júnior do Clube do Choro de Santos. Na entrevista a Osvaldo Jr, Mayara Rached e Guilherme, o presidente da entidade, Marcello Laranja contou aos ouvintes sobre a nova sede do Clube do Choro de Santos, no boulevard da Rua XV, centro histórico de Santos e que estão abertas as inscrições para formação de nova turma da “Escola de Choro e Cidadania Luizinho 7 Cordas”, através dos fones (13) 991056315 e 3219-2191 para crianças e adolescentes de 9 a 17 anos. O curso é totalmente gratuito e as aulas acontecem às segundas e quartas-feiras.
Não é necessário ter instrumento ou possuir conhecimento musical. As oficinas são realizadas no Mercado Municipal em parceria com a Prefeitura de Santos. O programa está registrado no Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente e o Clube do Choro de Santos possui cadeira no Conselho Municipal da Juventude. O Clube do Choro de Santos é uma organização da sociedade civil de interesse público. Abaixo segue um trecho da entrevista.
Osvaldo Jr: Dando início à parte de entrevistas aqui do CBN – Santos neste sábado nós estamos recebendo o presidente do Clube do Choro Marcello Laranja. Marcello, bom dia, obrigado pela presença aqui na CBN.
Marcello: Bom dia Osvaldo, bom dia Maiara e Guilherme – eu que agradeço a atenção e o espaço que vocês nos abrem. Estou à disposição de vocês.
Osvaldo Jr: Nós temos a participação da flautista Vanessa Ribeiro – Vanessa, obrigado pela presença aqui na CBN.
Vanessa: Obrigada, bom dia a todos.
Osvaldo Jr: Também o violonista Placido Jr – Placido, obrigado pela presença.
Placido: Obrigado pela oportunidade e um bom dia para todos.
Osvaldo Jr: hoje nós teremos a participação do Clube do Choro no programa e eu gostaria de ouvir do presidente como está o Clube do Choro em Santos?
Marcello: Vem bem, graças a Deus – vem vindo bem. Agora nós conseguimos a nova sede, estamos arrumando, dentro daqueles projetos que nós planejamos a realização e agora acho que fechou. Estava faltando só isso. Com o sucesso da Escola de Choro, os nossos eventos. Agora com a sede a gente tem um espaço à disposição para a realização de encontros, workshops, aulas, enfim, exposições. É um ponto de encontro cultural e estamos aguardando a regularização da documentação, tanto da Prefeitura como do Corpo de Bombeiros. Enquanto a gente não tiver esses alvarás de licença para uso e funcionamento, não tem atividade nenhuma. Estamos aproveitando para dar uma ajeitada porque tem algumas coisas a fazer. São coisas pequenas, mas estamos aos poucos arrumando.
Osvaldo Jr: E onde vai funcionar a sede? Marcello: Na rua XV de Novembro, 68 – altos. É quase em frente ao prédio da Bolsa. É um cenário lindíssimo, no calçadão em pleno coração do Centro Histórico.
Osvaldo Jr: O choro está bem representado em Santos, Marcello?
Marcello: Está, não só em Santos como no Brasil e até no exterior. O choro passa por um momento muito bom, não é fato novo, isso já vem acontecendo há alguns anos. Principalmente a busca dos jovens, o interesse deles, a curiosidade em executar essa música que é difícil. O aprendizado é longo, está aqui a Vanessinha que além de instrumentista é professora de música, ela sabe disso, o Placido também – você não aprende a tocar isso da noite para o dia. É o que eu falo: tocar choro não é tocar pagode. Já começa por aí. É muito complexa a execução. É muito difícil, tem que estudar muito, tem que tocar muito, entendeu? Você não toca um choro com dois, três acordes ou duas, três posições. A coisa é bem complicada mesmo. E eu venho notando que a molecada está muito interessada nisso e tem um exemplo vivo aqui dentro da cidade que é a própria Escola de Choro Luizinho 7 Cordas. Aquela meninada está entusiasmadíssima e nós também – a gente se entusiasma com eles. Nós acabamos de formar a primeira turma e foi muito bacana. Eles estão super aplicados e por enquanto é iniciação musical, eles têm muita lenha pra queimar ainda, tem muita coisa a fazer. Mas eles já têm uma base excelente, estão começando pelo mais difícil. Dali eles podem partir pra qualquer lugar, até para a música clássica. Essa iniciação, essa base eles já têm, e alfabetização musical. O maestro Wiliam tem um método interessante. Ele já sai ensinado os meninos e eles já começam tocando. Porque essa parte de iniciação musical, de teoria, é muito chata. O cara tem que ser perseverante e estudar. Ao passo que quando ele começa a ser alfabetizado musicalmente ele já começa a tocar, muda tudo, o clima é outro, porque a molecada – o que é que eles querem? – eles querem é pegar o instrumento e sair tocando. Então é interessante isso – a gente nota o progresso deles em muito pouco tempo. Nós estamos com um menino que é flautista que tem 8 meses de curso, você precisa ver o moleque tocar, cara, é o maior barato. Você nota, obviamente, que ele é principiante, mas você também já nota que o cara leva jeito. Tem oito meses de estudo de um instrumento que não é tão simples assim.
Mayara: Marcello, a gente vê, como você mesmo disse agora, os jovens hoje em dia querem fazer tudo ao mesmo tempo, e por ser algo mais complexo, existe uma procura boa dos jovens aqui da nossa região pelo chorinho?
Marcelo: tem sim, inclusive tem muita gente que nem sabe, né? Não porque não tenha divulgação, é porque às vezes as pessoas tem medo, tem receio. Nós estamos com as inscrições abertas lá no Mercado Municipal, depois eu vou passar o telefone de contato para as crianças de nove a dezesseis anos – é só nessa faixa de idade, entendeu? – que a idéia é ensinar para a criançada. É você trazer de volta a cultura brasileira para o brasileiro, porque a cultura brasileira virou estrangeirismo para o brasileiro, com todos esses modelos que foram importados. Então a respeito da cultura brasileira, tem muito brasileiro que é ignorante. Você fala em Monteiro Lobato ou qualquer mestre da literatura brasileira, eles não sabem. Eles conhecem Michael Jackson, conhecem Funk, Halloween, isso é o que o brasileiro médio conhece. Esse brasileiro emburreceu e empobreceu culturalmente. Cultural e monetariamente. Então você tem que trazer de volta para não haver preconceito com a sua própria cultura. Com a sua música, com a sua literatura, com o seu folclore, e o brasileiro é totalmente burro para essas coisas, infelizmente, de umas gerações pra cá. Essa é a minha opinião.
Guilherme: Eu tive a oportunidade, uma vez, de ver uma aula lá no Mercado Municipal e vi a garotada tocando, tudo pequenininho, com o violão na mão, tocando pandeiro, e eu conversei com o pai de um aluno e ele me falou que o filho melhorou na Escola porque agora ele é mais concentrado, tem uma disciplina maior. Tem isso também.
Marcello: Exatamente. Uma delas, a Rafaela, que formou-se na primeira turma, tocava pandeiro – porque eles passam por todos os instrumentos, eles tocam bandolim, cavaquinho, violão de 7 e 6, pandeiro, tudo, flauta transversal – e a Rafaela é metaleira, anda com o headphone e vem da casa dela ouvido aquelas pauleiras todas até o Mercado. Quando ela chega lá ela arranca aquilo, pega a flauta e se transforma. E a avó dela me falou que ela melhorou, e até ela mesma diz “eu mudei muito depois que descobri isso aqui, foi muito legal”. E a reação de todos eles é mais ou menos a mesma. Eles já entram numa coisa assim de disciplina, de perseverança, estão sempre estudando. O pai do Cesar fala pra mim que ele não larga o cavaquinho, fica de manhã, de tarde e de noite. É uma coisa muito interessante isso porque não é porque não gosta, é porque não sabe. Se você não mostrar para a pessoa, como é que ela vai consumir aquilo? A partir do momento que você mostra, o aluno aparece. Nós já temos mais duas turmas lá dentro, formamos a primeira e já tem mais duas. E isso não acontece só aqui, não. Acontece no Brasil inteiro. Você vai na Escola Portátil de Música do Rio de Janeiro e é assim, você vai na Escola Superior de Choro de Brasília e é assim. Você vai no Conservatório Musical de Tatuí e é da mesma forma. E o que tem de jovem, o que tem de moçada, tanto meninos como meninas, estudando a música brasileira. E olha, cada baita músico que está surgindo por aí, é impressionante.
Osvaldo Jr: Então vamos mostrar para o ouvinte CBN?
Marcello: Vamos lá.