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DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA

 

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“Por que o senhor atirou em mim?”
(Douglas Martins depois de levar um tiro de um policial)

“O homem brasileiro negro perde 1,73 anos de expectativa de vida ao nascer, devido a violência, enquanto a do branco é de 0,71 anos.
A cor negra faz aumentar em cerca de 8% a probabilidade de a pessoa ser assassinada no Brasil. Cada três assassinatos no País, dois são de negros.
Em 226 municípios com mais de 100.000 habitantes, calcula-se que a possibilidade de um adolescente negro ser vítima de homicídios é 3,7 vezes maior em comparação com os brancos. 6,5% dos negros que foram agredidos, em 2010, tiveram como agressores policiais ou seguranças privados, contra 3,7% dos brancos.” – Fonte IPEA.

Os velhos senhores da Casa Grande não querem novos Quilombos, é preciso manter as velhas Senzalas. Favela no morro, Favela na periferia ou em palafitas, a Senzala é a mesma. O novo capitão do mato é o velho capitão do mato, tão pobre e miserável quanto a população de onde eles são retirados. Os novos capitães do mato, assim como seus antecessores, moram também dentro das novas Senzalas e são violentos demais quando perseguem seus iguais. Iguais que são na miséria e na pobreza. Essa violência está numa retomada de posse, na repressão de greve de trabalhadores ou, ainda, numa batida nos morros ou nas periferias. Neguinho tem que rebolar sem bambolê.
“O trabalhador negro recebe em média um salário 36,11% menor que um trabalhador não negro. Os negros recebem menos em qualquer comparação que se faça, seja por setores de atividades, seja por escolaridade.” – Fonte Dieese – Sistema PED -
Os negros que vivem nas novas Senzalas, em condições sub-humanas, permanecem analfabetos, como sempre. Alguns conseguem até se tornar popular e logo são aceitos e se tornam a diversão da Casa Grande e isso acontece na televisão, nos campos de futebol ou no asfalto, também chamado de sambódromo, outros, porém, que questionam essa realidade cruel, não são lá muito bem vistos pelos meios de comunicação e são acusados de racistas às avessas.
Na antiga capital do País, nos anos 40, 50, as favelas nos morros eram vistas como uma entidade folclórica de gente muito boa, de alma branca inclusive, carnavalesca, que descia o morro para alegrar a cidade, principalmente durante carnaval. Barracão de zinco, sem telhado, sem pintura lá morro que fica bem pertinho do céu. Mangueira teu cenário é uma beleza que malandro não descia, mas a polícia no morro também não subia. Lata d’agua na cabeça, lá vai Maria. Aquela gente boa, esbanjando alegria, que vivia ali em paz, em harmonia e que não precisava de mais nada para ser feliz, bastando apenas um barracão, um pandeiro e uma cuíca, um dia desceu o morro pra cobrar a conta e os senhores da Casa Grande ficaram assustados. O sonho acabou. As favelas estavam entupindo o nariz dos filhinhos bacanas dos senhores da Casa Grande de pesadelo branco. Era preciso botar as coisas nos seus devidos lugares, ou seja, a favela precisava voltar a ser Senzala, então os Senhores criaram o nome pomposo de Unidade de Polícia Pacificadora, UPP. A nova Senzala precisava ficar novamente quietinha no seu lugar. A UPP foi criada pra defender quem de quem? O malandro já não desce o morro. Ao que parece, inventamos o apartheid à brasileira.
O morro e suas favelas estão lá, de novo, para divertir os bacanas televisivos e as celebridades que ganham muito dinheiro à custa dos nem tão ingênuos “artistas populares” que se submetem, quase sempre, a um papel ridículo em troca de alguns tostões. Orgulho de morar nas novas Senzalas.
Meu velho amigo, visto assim, através das telas da TV, do Cinema, das Revistas e das Agências de Propaganda, definitivamente, no Brasil, não existem negros. Eis ai o cínico racismo tupiniquim.
Não, senhores, nós não temos tantos motivos assim para festejar o Dia da Consciência Negra que bem poderia ser alterado para o Dia da Consciência Pesada.
Nas favelas, nos morros, nas periferias, nos cortiços e nas palafitas vivem ainda Chico Brito, Benedito Pereira, Nego Dito, Amarildo, Douglas e Silvas e Santos. Iscas de polícia.
Rene Ruas

 


2 Comments Add Yours ↓

  1. Marcos Tavares #
    1

    Parabéns pelo artigo, Renê.
    O dilema Freyriano é tão abrangente que também coloca o branco pobre na mesma condição de Senzala a que vc muito bem se refere no texto. Mais ainda. A violência agora parece vir não somente da Casa Grande, mas da senzala contra a própria senzala. É a violência multi-direcionada …
    Abraço do Marquinho.

  2. Renê Ruas #
    2

    Obrigado meu caro Marcos você tem razão a miséria e a pobreza não tem cor, porém, quando a escravidão foi extinta, os escravos
    foram deixados a própria sorte e, cá pra nós
    não mudou muito né nâo? Só para lembrar, na
    mesma semana que o Douglas, que era negro, foi morto em SP,morreu também assinado um jovem policial, aqui na Baixada, que era negro também.
    O destino é o mesmo, sempre.

    Abraços
    Renê



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