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CAFEZINHO NO COPO

“Povo, assim conta a história
de 1888, logo após abolição,os
escravos mostrando gratidão, ofertaram
uma Rosa de Ouro à Princesa Isabel.”
 (Samba da X9 de 1966 da autoria de Seu Muniz)

Em 1966 a turma resolveu sair na X9. No carnaval daquele ano a galera toda do fundão do Marapé foi parar no Macuco. Bonde 25. No ano anterior a rapaziada tinha desfilado na Escola de Samba Império do Samba, campeã em Santos e em São Paulo, na Lapa. Na verdade, o Império, em 1965, matou a pau dando uma aula de samba pro pessoal de São Paulo.
A turma não tinha nenhuma Escola de preferência, pois todos eram torcedores fanáticos das Dengosas, Aborrecidos e Embaixada de Santa Tereza. A rapaziada gostava mesmo era do Samba.
E assim lá se foi a cambada toda para o Macuco, Dedeco, Beto Neguinho, Cabeleira, Reinaldo, Xavier, Jorge Baba, Jair Neguinho e o locutor que vos fala.
Rua Almirante Tamandaré. Cerca de madeira na frente, terra escura. Chão batido. O velho chalé de madeira nos fundos e o terreiro na frente onde a Escola ensaiava. Era o terreiro do samba.
A molecada foi entrando no terreiro bem devagar, na maciota, pois malandro que é malandro não espalha e, apavorados, foram se chegando sem saber o que ia acontecer, afinal era chão desconhecido. Para nosso espanto, fomos recebidos por uma Senhorinha educada, de aparência frágil e fala mansa. É isso mesmo meu amigo, Tia Inês, que a molecada, ainda, com o devido respeito, chamava de Dona Inês.
Para espanto maior, Dona Inês, serviu, pra aquele bando de branco azedo, um cafezinho quentinho em copo americano e, íntimos da casa, Dona Inês virou Tia Inês.
Seu Muniz, Cabo Batucada, hoje Marechal do Samba, recebeu a molecada com um grande sorriso, sem soberba e logo botou os folgados branquelos pra fazer a tão temida prova de fogo. A prova de fogo era o grande desafio a ser vencido e cá pra nós, não era fácil não, pois, que, naqueles tempos só tinha craque, reis do improviso, balizas e passistas. Nas Escolas de Samba, nos carnavais passados, não havia esse monte de gente em cortejo, nas alas, pois que a moçada precisava mesmo era saber sambar, passistas, balizas e cabrochas.
Mestre Rubens acendeu a bateria. E pegou fogo. Lá fomos para o meio do terreiro, Beto Neguinho, Dedeco e o degas aqui. Com medo de fazer feio e depois ter que aturar a gozação no Marapé, a meninada começou devagar, ressabiada, e aos poucos, porém, já estava dando saltos e pinotes, cada um a sua maneira. Talvez, num ritual de aprovação e iniciação, os renomados passistas da Escola juntaram-se aos três abusados jovens, naquele momento donos do terreiro.
Aprovados e sorridentes recebemos das mãos do Cabo Batucada, depois dos parabéns da Tia Inês, o figurino das fantasias e, nada bobos, escolhemos, claro, a de Embaixador. Com o figurino, o chapéu coco e os cortes de cetim na mão, fomos embora se achando os bambambans, afinal, naqueles tempos, quase cinqüenta anos passados, contava-se nos dedos os brancos em uma Escola de Samba. Uma ousadia, não pra Escola é claro, mas para as famílias. Onde já se viu?
Saboreando o resultado da prova de fogo, ficamos na torcida da moçada que queria sair na bateria. E tome prova de fogo, muito mais severa. Todos foram aprovados, menos o compadre Cabeleira que não foi aprovado na malacaxeta e teve que desfilar tocando ganzá, meio chateado é claro.
Na bateria, comandada pelo mestre Rubens, o grande nome da malacaxeta era o Mestre Alemão, o Rei da Labareda, que reprovou o Cabeleira na prova de fogo.
Depois dessa aventura voltamos para o Marapé com assunto para o mês todo. E tivemos que contar essa história várias vezes para os incrédulos moleques do bairro. Que vitória!
E desfilamos no Gonzaga, no Centro da Cidade, nas Batalhas de Confete e em São Paulo, onde fomos campeões.
É Seu Muniz, quase meio século depois, quanta diferença. As Escolas de Samba se transformaram numa grande mistura de Bloco Carnavalesco, Rancho e Escola de Samba. Pode-se afirmar, sem medo de errar que, atualmente, o que menos tem numa Escola de Samba, é Samba.              
Finalmente, falando sobre o samba e as Escolas de Samba, o Mestre Nei Lopes escreveu: “Alguns entendem que samba e escola de samba é a mesma coisa, e que o gênero-mãe de nossa musica popular é um tipo de musica de carnaval. Pois não é, não! A escola de samba nasceu do samba.”
Como sempre, o Mestre Nei Lopes acertou na mosca.


1 Comments Add Yours ↓

  1. admin #
    1

    Olá…!
    Legal, gostei…!
    É muito bom ouvir e descrever historia do passado e assim fica a tradição e o que realmente aconteceu no passado. PARABÉNS…!
    Por outro lado estou com o meu pai aqui do meu lado. Gostaria de saber quem assinou a materia…não conseguimos identificar a pessoa.
    Quanto ao texto, apenas pequenas ressalvas…!
    “No carnaval de 1964 a X-9 foi a campeão do Concurso em Santos e no Campeonato de Âmbito Estadual da Lapa, em São Paulo com o enredo BRÁS CUBAS. Foram duas vitorias em um só carnaval. Em 1965 a campeão do concurso da Lapa foi a Unidos do Peruche, ficando a X-9 como vice-campeã ambas as escolas com o enredo EXALTAÇÃO AO IV CENTENÁRIO DO RIO DE JANEIRO. Ainda no Carnaval de 1965, a campeã do Concurso das Escolas de Samba de Santos foi a Império do Samba, que de 1967 a 1970 sagrou-se Tetra-campeã do Campeonato Estadual de Escolas de Samba realizado em Santos. As únicas escolas que ganharam concursos carnavalescos em São Paulo, a partir de 1948, foi a X-9 e a Brasil, que sagrou-se campeã do carnaval do IV CENTENARIO DE SÃO PAULO em 1954.”
    Deixo aqui meu cordial abraço e sem duvida manter a tradição viva é realmente manter a verdadeira história do samba em Santos.
    Valeu!
    JADIR MUNIZ



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