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ENTREVISTA COM O VIOLONISTA “MARCEL POWELL” PARA O CLUBE DO CHORO DE SANTOS


Esteve em Santos, no dia 28/05/2010 para divulgar seu novo CD “Corda com Bala” (Robdigital), o compositor e violonista Marcel Powell, filho do mítico violonista Baden Powell e primo-sobrinho do também virtuoso João de Aquino. O show aconteceu no Teatro do Sesi em Santos. Produzido pelo amigo e guitarrista Victor Biglione, com arranjos do próprio artista o disco tem 10 faixas em que ele interpreta obras dos mais variados estilos musicais, que vão desde Lamartine Babo (Serra da Boa Esperança) até o jazz atual (Cry me a River), passando por clássicos da música popular brasileira, como “O Morro não tem Vez” de Tom Jobim e Vinícius de Morais um choro-canção denominado “Chora Violão”,
composição de Baden homenageando Rafael Rabello.
Nascido em Paris, em 1982, mas registrado brasileiro, Louis Marcel Powell de Aquino foi iniciado no violão aos nove anos de idade, tendo o pai como professor. Aos 12 anos, com seu irmão Philippe ao piano, teve a experiência da primeira gravação ao lado de Baden Powell. Três anos depois lançaram outro CD, em Tóquio, no Japão.
O novo disco de Marcel Powell traz também uma composição de sua autoria, denominada “Lamento Fluminense”, lembrando a cidade Varre-Sai, onde nasceu seu pai. Seu violão é do renomado luthier alemão Dieter Hopf (parceiro de Baden Powell desde a década de 60 após um show na casa “Olympia” de Paris), com cordas Giannini, modelo titanium color. Sem esquecer suas raízes Marcel Powell enfatiza com o seu violão um caminho
profissional personalizado, sem rótulos ou comparações com outros virtuosos do instrumento. Logo após o espetáculo Marcel Powell concedeu esta entrevista ao Clube do Choro de Santos, que esteve lá através de seus diretores Luiz Antonio Pires e Luiz Fernando Costa Ortiz.

* Além das fotos do show do virtuose Marcel Powell publicamos também fotos inéditas de uma peixada promovida pelo conselheiro Valdo do Clube do Choro de Santos, na casa do violonista Luizinho 7 cordas, em São Paulo no 16/08/99, após gravação do programa Ensaio de Fernando Faro, com o também renomado violonista Turíbio Santos. Estivemos ainda com o amigo Baden Powell no dia 22/09/99, em seu último show realizado no Sesc Santos, vindo o mesmo a falecer aos 26/09/2000.

O choro é a grande escola da música brasileira …”


Luiz Pires – Como foi a escolha do repertório de “Corda com Bala”?

Marcel Powell – O repertório do ”cd” foi escolhido de comum acordo com o Diretor Musical Victor Biglione e o Produtor e também dono da gravadora Roberto de Carvalho, que tiveram uma participação importantíssima na escolha desse repertório.

Esse repertório começou de um jeito e depois mudou. Nós começamos a gravar coisas que eu já tinha elaborado e depois de cinco músicas gravadas, uma audição do que foi gravado foi feita, e daí então mudanças aconteceram e que foram muito boas para o disco.

Um exemplo do que mudou foi que a princípio seria um disco metade de trio e o resto seria solo ou em duo, e acabou que por excelente sugestão do Roberto fizemos um disco mais focado pra formação de trio, e daí novas músicas que não estavam foram entrando como, por exemplo ”O morro não tem vez” e ”Cry me a river”.

E entre conversas e mudanças chegamos a esse repertório com o qual estou bastante satisfeito.

Luiz Pires – Como surgiu a idéia do Marcel Powell Trio? O formato do trio é também um tributo à memória de seu pai?

Marcel Powell – O formato do trio já vem acontecendo e se aprimorando a mais ou menos uns seis anos pra cá, na minha vida profissional eu tenho sempre influências do meu pai e de muitos outros como Egberto Gismonti, João Bosco entre outros. A formação de trio que o meu pai teve óbvio que me inspirou, mas a minha formação de trio não é única e exclusivamente para homenageá-lo, é também… Porém tem muitas influências envolvidas nessa formação e nesse disco. Meu pai teve uma formação de quarteto na realidade que era violão, baixo, bateria e percussão, a minha é trio violão, baixo e bateria, no qual pode ser uma homenagem a ele, mas não somente isso, como eu já disse tem muitas influências envolvidas nisso.

Luiz Pires – Como começou sua história com a música ?

Marcel Powell – O meu primeiro contato com a música foi com três anos de idade em Baden-Baden, na Alemanha,  tocando violino, porém não foi algo tão sério assim naquele momento, a música entrou definitivamente mesmo aos nove pra dez anos de idade quando meu pai começou a me ensinar.

Luiz Pires – Além de Baden Powell quais são suas influências ?

Marcel Powell – Minhas influências são bastante como: Egberto Gismonti, João Bosco, João de Aquino, Paquito de Rivera, Gonzalo Rubalcaba, Leni Andrade, Hamilton de Holanda, Yamandú Costa, Nicolas Krassik,Toninho Horta, Elis Regina, Tania Maria e por ai vai.

Luiz Pires – Entre os gêneros musicais que Baden visitava, quais são os seus preferidos ?

Marcel Powell – O papai na realidade criou um estilo próprio, ele tinha uma assinatura que foi fruto de buscas e influências sofridas por ele, porém mesmo quando ele interpretava músicas não brasileiras acabavam ficando com a sua assinatura que era e sempre foi brasileiríssima, portanto o gênero que o meu pai visitava quando eu já estava na musica era brasileiro, pois já havia criado a sua assinatura, e ainda dentro da própria música Brasileira ele tinha um estilo diferenciado das demais músicas brasileiras e isso era o que eu mais gostava.

Luiz Pires – No seu trabalho percebe-se uma “conversa” entre o jazz e a “música tradicional do Brasil”. Desde quando vem na sua história e na sua música essa “conversa”?

Marcel Powell – Na verdade tem coisas e rumos musicais que vão acontecendo na minha vida sem eu perceber direito quando começou, mas eu posso dizer que teve uma pessoa que me abriu os horizontes mais ainda depois do meu pai que foi o João de Aquino, meu primo-tio tremendo Compositor e Violonista, parceiro de Paulo César Pinheiro na Música Viagem.


O João foi e continua sendo uma pessoa importantíssima na minha vida profissional esse diálogo de gêneros foi-me apresentado por ele a uns 12 anos atrás.

Luiz Pires – O gênero “choro” está presente no teu repertório também? Você acha que está havendo uma renovação do choro ou parafraseando “Armandinho” estão “retocando o choro”?

Marcel Powell – O choro é a grande escola da música brasileira tanto instrumental quanto cantada, o choro pode se comparar à música clássica não deixando nada a desejar em nenhum aspecto.
O meu aprendizado começou nessas duas escolas o choro e o clássico, porém a minha carreira não é unicamente focada nisso, mas na música brasileira com uma assinatura própria pra interpretá-la. Eu concordo totalmente no fato de estar havendo uma renovação no choro e na musica instrumental brasileira onde Armandinho Macedo com certeza é um dos principais pioneiros dessa renovação.

Luiz Pires – Você também é compositor … como acontece seu processo de composição ?

Marcel Powell – O meu trabalho de compositor é pequeno ainda, pois eu também não me dedico muito a isso, o processo de compor não tem muito mistério como já bem disseram Paulo César Pinheiro e João Nogueira, ”Não precisa se estar nem feliz nem aflito, nem se refugiar em lugar mais bonito, em busca da inspiração”.

Luiz Pires – Você nasceu na França e veio ainda criança para o Brasil; o que a gente pode identificar como sotaque francês na sua música ?

Marcel Powell – De música francesa na minha música não tem absolutamente nada, apesar de ter nascido lá, mas o meu lance é Brasileiro que é a melhor música do mundo.

Luiz Pires – Na obra do Baden, o que mais te impressiona?

Marcel Powell – O impressionante na obra toda do meu pai é a capacidade que ela tem de influenciar gerações, músicos, pois isso é que faz a grande diferença pra qualquer coisa que você for fazer na vida e obter destaque, liderança, é a influência que você ou sua música podem causar.

Luiz Pires – De um tempo pra cá diminuiu o preconceito com o violão, ainda que no Brasil permitam só o violão clássico nas escolas de música não existe ainda, uma cadeira de violão popular. Nós temos violonistas populares reconhecidos no mundo inteiro como Baden Powell, Luiz Bonfá, Laurindo de Almeida, Rafael Rabello e outros. Você acha que o violão popular tem que estar na Universidade?

Marcel Powell – O violão popular  deveria estar nas universidades é um dever e uma necessidade cultural do Brasil, não só o violão popular do Brasil, mas a música popular do Brasil e seus maiores expoentes em todos os gêneros deveriam estar nas universidades e escolas como matéria.


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