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MIÚCHA DOCE (EN) CANTO

Miucha(Cá no meu canto, tenho as Divas Dalva, Elis, Elizete, Elza, Bilie, Nina, Nana, Alaíde…
e o coração da voz de Miúcha e seu silêncio e sua respiração. Achei por bem então escrever minhas falas do doce canto de Miúcha).
Sei de Miúcha de há muito, não sei explicar, mas a vejo de tudo com o João do Vale, que tive a honra de conhecer cá na terrinha num show com Chico Buarque, irmão de Miúcha, em homenagem ao ídolo Pagão.
Bem pelos anos oitenta e um pouco mais é que eu, entre tantas cantoras e cantorias me dou com a doce voz da Miúcha cantando com João, o Gilberto e o do Vale, com Tom e tantos mais e assim veio também cá pro meu canto de casa.
Vai de Cabrochinha a Gente Humilde com a mesma paz de quem sabe sempre o que quer. Fiquei apaixonado pelo Samba Erudito do Vanzolini em gravação deliciosa, e mais, e Daí e Daí – preguem avisos, fechem portas, ponham guizos e vamos em frente que atrás vem gente.
Miúcha de muitos idiomas, de muitas palavras outras, cantora desse mundão e coração do João, do Ary, do Tom, do Dorival e do irmão, e de muitos mais e de todos os brasis. Agradeço Miúcha pelo Refém da Solidão do fundo da alma que cantou um dia que escutei e escutei e guardei no peito pelo querido amigo Nelsinho Boneca que amava Miúcha – “Infelizmente eu nada fiz, não fui feliz e nem infeliz, eu fui somente um aprendiz”. “Vai ver até que essa vida é morte e a morte é a vida que se quer.”
Miúcha, vamos vendo a vida passar ouvindo sua voz e seus silêncios e pausas e a respiração e o sopro do coração.      
Ouço que ouço você e as “águas de março” com João. É o pé, é o chão, uma ave no céu, uma ave no chão e a voz de Miúcha e a voz do João e é assim que a vida rola e se desenrola, de cá pra lá e de lá pra cá.
Fico muito mais, Miúcha, remoendo os versos de Ary “na batucada da vida”, ouvindo palavra por palavra que é a ferramenta do cantor e da cantora, pra dar voz a palavra do autor.
Agradeço Miúcha a companhia de tantos anos, de LPs perdidos em incessantes mudanças (mas sempre preservados nos escaninhos mais sutis da memória)… e, também – não sei como explicar -, por ouvir, em sonho talvez, um dia, nos seus preciosos silêncios e pausas, sua voz a acalentar o “Engomadinho”, de Pedro Caetano e Claudionor Cruz – “De terno branco, todo engomadinho, todo faceiro carregando o pinho, já vem chegando o meu feliz cantor, salve o seresteiro, salve o meu amor.”
Acho que porque você sempre cantou os compositores e os seresteiros…então não é sonho, é desejo de lhe ouvir cantar!
Só mesmo com Miúcha é possível levar a vida tocando o nosso bonde, às vezes carregado -
e outras nem tanto.
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(Renê Rivaldo Ruas é cronista, poeta, jornalista e escritor, nascido em Santos, onde há mais de 40 anos exerce seus ofícios literários em dupla jornada, atuando também como músico da Roda de Samba do Ouro Verde, na qual atua há trinta anos. Entre crônicas e artigos em revistas e sites, lançou o livro “Cuíca no Velório– Samba de Arrelia e Arrabaldes”, pela Editora Realejo (2010), e prepara para este ano o livro “Poleiro de Pato é terreiro – Firulas, Parangolés e Coisa e Loisa”, com crônicas e textos inéditos reunidos. É Critico de Música do Clube do Choro de Santos).


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