“O Choro não é jazz não. Choro é no quintal.”
(Didi Canela Grossa)
Quem poderia imaginar que o Choro, aquela mistura de estilos e sotaques feita lá pela metade do século XIX e que se transformou no primeiro estilo de música popular instrumental urbana brasileira, estaria hoje, mais de um século e meio depois, viajando pelo mundo a fora, sendo executado em outros idiomas, outras linguagens?
Henrique Cazes – músico e escritor, no seu livro “Choro: do Quintal ao Municipal”, nos diz: “O que mais fascina e impressiona todos os estudiosos que se aproximam do Choro é o fato de que uma forma de música popular seja ao mesmo tempo sofisticada, comunicativa e extremamente resistente. No início do século XXI o Choro continua vivo, se renovando e atraindo novas gerações”.
Henrique Cazes afirma ainda que, “no seu início, o Choro, era apenas uma maneira de tocar e somente a partir de 1910, é que passa a ser também uma forma musical definida”.
A nossa cidade, por sua influência política, por suas atividades portuárias esteve sempre na vanguarda e, com relação ao Choro também não foi diferente, pois, teve importância fundamental na formação e na difusão dessa música que tão bem expressa a alma brasileira.
Já em meados do século XIX, grupos musicais se apresentavam em nossa cidade, executando românticas modinhas, valsas e dengosos lundus, tocando violões, cavaquinhos e pandeiros. Em 1903, em frente ao jornal O Diário de Santos, domingo de carnaval, se apresenta o Grupo dos Boêmios, com bandolins, violões e cavaquinhos. Em 1904, se apresenta em frente ao jornal A Tribuna, o Grupo dos Pierrôs, tocando violões, cavaquinhos, bandolins e pandeiros.
Esses grupos musicais, vão evoluir para os típicos grupos de Choro. Em 1919, surge o primeiro grupo de choro denominado “Choro Carnavalesco”, é o “Sapeca Choro” que, confirmando seu sucesso, faz surgir uma infinidade de outros grupos, manifestação única e típica de nossa cidade e que, lamentavelmente, foi definhando até a sua total extinção no final dos anos 60.
O Clube do Choro de Santos, neste ano, vem, através das comemorações do Dia Nacional e Municipal do Choro, abrir um canal de discussão e tentar entender o que tem de tão especial essa música que atrai tantos músicos pelo mundo afora.
Atualmente o Choro é executado e estudado por músicos brasileiros e estrangeiros em Lisboa, Dublin, Turim, Paris, Tóquio, Miami, Boston, Nova York, Israel, Londres, Copenhagen e em outras cidades do mundo, em Clubes do Choro ou, ainda, em rodas de choro nas praças ou em pequenos clubes.
Contrariando a tese de alguns que afirmam que o prestígio internacional do Choro deve-se a sua sofisticação harmônica o que lhe confere o título de “jazz brasileiro”, prefiro ficar com o depoimento do músico americano John Berman, natural de Boston (EUA), clarinetista e professor de Jazz, que ouviu pela primeira vez um Choro em 2002 e se transformou num “velho chorão”.
John Berman informa que mais e mais músicos norte-americanos estão tocando Choro e resume assim a sua admiração pelas rodas de choro:
- “Já na “Roda de Choro” (espaço tradicional de transmissão do conhecimento sobre essa linguagem), o músico compartilha a melodia com outros músicos, sendo a mentalidade mais comunitária, mais integrativa, mais socializada, ao contrário do individualismo da sociedade norte-americana, pois na roda pode entrar quem está aprendendo, ou seja, os veteranos estimulam os principiantes, todo mundo entra no Choro”.
Renê Rivaldo Ruas é escritor. Foi passista da Império do Samba, baliza da Embaixada de Santa Tereza, fez parte do Bloco do Boi, integrante do grupo de Choro Regional Varandas, toca cavaquinho e solta a voz na tradicional Roda de Samba do Ouro Verde, Diretor do Clube do Choro e um dos fundadores do intrépido Bloco do Balão(2015).