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CHARLES DA FLAUTA

Charles_Flauta2Aguinaldo Loyo Bechelli

Conheci Charles da Flauta menino (13 anos), tocando na rua Barão de Itapeteninga – Centro Velho de São Paulo, para ganhar uns trocados, acompanhado por seu pai, José e dois irmãos (violão,  cavaquinho e pandeiro). Parei para ouvir, encantado com o virtuosismo daquele garoto. Mais tarde, já mocinho, reencontrei-o na Loja Contemporânea, do meu saudoso amigo Miguel Fasanelli, onde músicos de  choro se reuniam, todos os sábados pela manhã. Charles ingressou no mundo das drogas. Caiu de forma deprimente. Morava nas ruas, à beira da mendicância. Mas por mais que caísse, impossível vê-lo como um farrapo humano. Sua aura era maior. Levantar-se não foi fácil. Muito foi ajudado por Miguel Fasanelli e Valter Seresteiro, além de outros abnegados. Destaque-se Altamiro Carrilho e o consagrado maestro Isaac Karabtchevsky, que lhe deram a mão. Mas o maior mérito de sua milagrosa recuperação foi dele mesmo, Charles e tanto!     

Hoje – 05.04.2015, convidado para dar “canja”, tive o prazer e honra de tocar com Charles no aprazível Centro Cultural Jabaquara, com o esmerado Conjunto Retratos, dirigido por Alex do Bandolim. Do meu antológico Conjunto Lenha de Casa, fez parte o inspirado flautista e compositor Plauto Cruz, ouvido absoluto, dotado de sopro grave, divino. Também toquei casualmente com os flautistas Manezinho, Carlos Poyares, João Dias Carrasqueira, e até com o mellhor expoente internacional, Altamiro Carrilho. Rampal, Jean-Pierre Louis, considerado o maior flautista erudido do mundo afirmou: “Existem flautistas e existe Altamiro Carrilho. Numa tradução livre, leia-se: “Há duas categoria de flautistas: Altamiro Carrilho e os outros.” Mas voltemos ao Charles Pereira Gonçalves – O Charles da Flauta.  É mágico. Está com 41 anos. Com todo respeito e admiração que nutro pelos exímios flautistas que topei na minha trajetória musical, enalteço, coloco  no podium esse monstro sagrado – CHARLES. Difícil explicar tanto talento com palavras. Chega a debochar, cheio de truques. E o maior mistério é a inversão de valores:  o som que a flauta tira de dentro dele, como uma extensão do seu corpo. Só assistindo tanta versatilidade. Sua improvisação conversa. Comove. Demais! É ver: quando Charles divide o solo com outro músico, não retorna a sua partitura simplesmente na pausa natural. Surpreende: antevê a deixa, improvisa rote e faz um bordado de introdução,  não escrito pelo compositor. Prodigioso. De carona, ele pega o bonde andando. Pixinguinha tomar-lhe-ia a bênção.

CHARLES   E   AGUINALDO APRESENTAÇÃO NO CENTRO CULTURAL JABAQUARA  – SÃO PAULO PROJETO CHORO DA MANHÃ COM O CONJUNTO RETRATOS,  DIRIGIDO POR ALEX DO BANDOLIM

ALEX  MENDES  -  Bandolim. PAULO GILBERTO    Flauta CESAR RICARDO  -  Violão-7 FERNANDO  HENRIQUE -  Cavaquinho DONISETE FERNANDES -  Pandeiro


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  1. admin #
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    Isso foi no final dos anos 80 (87-88). Eu o vi tocando com o pai e os irmãos ali nas imediações das ruas D. José de Barros e 24 de maio (em frente a finada Mesbla). Incrível a habilidade dele, talento puro. Mal sabia eu que um dia ele viria tocar na minha casa quando lhe contei essa história. Outro grande cara que tive o privilégio de conhecer foi o velho Miguel Fasanelli, que já não está mais entre nós, lamentavelmente. Sujeito extremamente generoso, de bem com a vida, sempre pronto a ajudar aqueles que necessitavam de seu apoio. Quando eu entrava na Contemporânea lá vinha ele me cumprimentar com aquele sorriso largo, franco e escancarado. Um gentleman, não havia uma só pessoa que não gostasse dele. Muitos contatos que fiz, muitos artistas que conheci devo a ele, fazia questão de me apresentar. Esbanjava simpatia e cordialidade.
    Pena que o Criador o tirou do nosso convívio, ele nos faz muita falta.
    Marcello Laranja



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