Miltinho, Milton Santos de Almeida, nascido no Rio de Janeiro, em 31 de janeiro de 1928, faleceu ontem, dia 07 de setembro, aos 86 anos.
Afastado dos shows desde 2010, Miltinho começou a cantar ainda muito moço, nos anos 40, fazendo parte de diversos conjuntos vocais, entre eles, Anjos do Inferno, Namorados da Lua, Quatro Ases em Um coringa, onde, além de cantar, era um notável pandeirista e ainda no conjunto Milionários do Ritmo.
Na década de 60 se consagrou quando gravou o samba “Mulher de Trinta” e, além do reconhecimento público, Miltinho ganhou um bom dinheiro.
Perfeito no domínio da divisão rítmica, Miltinho criou um estilo próprio absolutamente inovador na maneira de cantar.
Dizia ele que “sempre evitei cantar na cabeça da nota, eu canto dois tempos atrasados com a harmonia na frente”. Claro está que, essa facilidade na divisão rítmica, deve-se muito ao notável pandeirista que foi Miltinho que gravou muito se acompanhando com o instrumento.
Miltinho que, compôs algumas marchinhas de carnaval, gravou quase todos os grandes compositores brasileiros, Noel, Wilson Batista, Geraldo Pereira, Caymmi, Luiz Reis, Luiz Antônio, Chico Buarque, realmente a lista é enorme.
Poderia listar uma quantidade enorme de sucessos, mas, na verdade, Miltinho vai ser lembrado sempre pelas definitivas gravações de Lembrança, Palhaçada, Menina Moça, Doralice, Eu e o Rio, O Amor e a Rosa e a inesquecível Mulher de Trinta.
Miltinho, simplesmente, criou uma escola na maneira de cantar assim como Cyro Monteiro, Vassourinha, Moreira da Silva, Jorge Veiga e o genial Dilermando Pinheiro que, com seu “Stradivarius” de Palha, revolucionou o canto popular com seus breques e maneios, atrasando e adiantando as frases.
O Brasil perde um grande inovador e um grande músico que conseguiu juntar, tanto na canção quanto no samba, com sua voz anasalada, o “bip-bop” sincopado.
E assim o País vai perdendo sua memória e sua história sem que as novas gerações tenha tido a oportunidade de conhecer e reconhecer seus grandes artistas.
Renê Rivaldo Ruas é escritor. Foi passista da Império do Samba, baliza da Embaixada de Santa Tereza, fez parte da bateria do Bloco do Boi, foi integrante do grupo de choro Regional Varandas, formado por jovens amantes do Choro. Desde 1986 toca cavaquinho e solta a voz na roda de samba e choro do tradicional Ouro Verde e diretor do Clube do Choro.