Tivemos a alegria de entrevistar o artista cantor, compositor e arranjador Paulo Costta, radicado na Europa, com grande reconhecimento internacional pela voz suave, afinação impecável e alma bossanovista, um dos interlocutores ativos da cultura nacional e considerado o embaixador da bossa nova na França, em recente passagem por Santos/SP. Curtam esse agradável bate-papo, clicado por nosso diretor de fotografia de Luiz Fernando Costa Ortiz.
BATE – BOLA:
NOME: Paulo Costta
DATA E LOCAL DE NASCIMENTO: Nasci em Bandeira do Colonia, distrito de Itapetinga, Bahia em abril há muitos anos atrás. (risos)
TIME DO CORAÇÃO: Corinthians, claro!!! (um dia fui “Baêa”, mas a democracia Corinthiana me cativou) e como cantava um sanfoneiro nordestino:” não interessa se é paulista ou se é baiano, o que interessa é ser bom Corinthiano”! rs
ESCOLA DE SAMBA OU BLOCO DE SUA PREFERÊNCIA: gosto de ver o Ylê passar. Ou Filhos de Gandi. Uma queda pela Mangueira e simpatia pela “Beija Flor”. Ah e claro, “Gaviões da fiel”!
Marcello: Olá meu prezado Paulo Costta, muito bem-vindo ao blog do Clube do Choro de Santos, prazer muito grande para nós entrevistá-lo.
PAULO COSTTA: Posso dizer com toda certeza que o prazer é todo meu!
Marcello: Como se deu sua iniciação musical, onde você estudou, sua família é de músicos também?
PAULO COSTTA: Outro dia estava pensando sobre isso. Penso que minha iniciação musical se deu ouvindo radio e vitrola “hi fi” que haviam em casa. Ainda criança ganhei da minha professora Mabel Velloso, um pandeiro e maracas. Mais tarde, escrevi no pandeiro “Mono bossa”, confeccionei umas vassourinhas com fios descascados e passei a me acompanhar enquanto cantava. Tive uma passagem como aluno ouvinte nos Seminários de Musica da UFBA. Mais tarde, comecei a tocar bateria. Depois veio o violão com o qual me identifiquei bem mais e casava melhor com minha vontade de cantar. Minha formação foi mais “de ouvido”. Tive aulas bem mais tarde com o guitarrista Felipe Avila já em São Paulo. Aprendi muito na minha convivência em studios com grandes músicos em SP como Theo de Barros, Laercio de Freitas, Mauro Giorgetti, Edgard Gianullo, Marconi Campos e muitos outros Na minha família todos são “normais” (rsrs) so eu sou musico.
Luiz Pires: Apesar da fama de ser um povo festeiro que tem no São João e no Carnaval suas maiores manifestações populares, que ritmo que o baiano mais curte?
PAULO COSTTA: gostaria muito que preferissem o samba de roda, o maxixe, baião, frevo ou xote. Porém hoje percebo a liderança total do Axé ou pagode baiano.
Marcello: Você vive na França há quantos anos e o que o trouxe a Santos.
PAULO COSTTA: há uns dez anos vivo na França, primeiro fui pra Toulouse, posteriormente mudei para Paris. Estou de volta ao Brasil para concluir um projeto que comecei ainda em Toulouse, que é um cd com poemas (que eu musiquei) da minha primeira professora e poeta Mabel Velloso. Na verdade seriam so uns seis ou oito meses que foram se prolongando devido as dificulades em encontrar parceria, patrocínio etc. o cd esta pronto. Com participações especiais de Caetano Veloso, Maria Bethania, Moreno Velloso, também responsável pela produção, Jaques Morelembaum, Jota Velloso e grandes músicos cariocas, como Bebe Kramer, Domênico Lancelotti, Nando Duarte, Joana Queiroz, Bruno diLullo, etc. Minha esposa é Santista. E por ser uma cidade com ótima qualidade de vida, praia, etc e próxima a São Paulo, Rio, optamos em ficar este tempo por aqui. E com certeza é pra onde sempre estaremos voltando.
Marcello: Como você vê a aceitação da música popular brasileira e dos músicos brasileiros pelos franceses. Eles são receptivos?
PAULO COSTTA: existem centenas de músicos brasileiros pela Europa. A bossa nova é respeitada como uma musica de grande qualidade. e por onde vc anda, se encontra grupos de choro, de samba e até de maracatu e forro formado por franceses, alemães, belgas, etc. raramente encontro brasileiros nos meus shows. Eles (os estrangeiros) não entendem como nos, que temos uma variedade incrível de ritmos, estilos, etc e uma musica de excelência, ainda consumimos tanta musica estrangeira como rock e pop.
Luiz Pires: Caymmi dizia que seus sambas – reflexo nítido do samba de rua que se fazia então na Bahia num ambiente “negro, mestiçado, do azeite de dendê” – eram bem diferentes dos cariocas. Explica isso pra gente.
PAULO COSTTA: como disse o Vinicius “o samba nasceu la na Bahia…”
O samba na Bahia tem sempre a cadencia do samba de roda e como somos um povo “brejeiro” o samba é mais “amarrado”, preguiçoso, malemolente, com tempero dos ritmos do candomblé e da capoeira sendo tocado no inicio por atabaques, pandeiro e palmas. Mas ao chegar ao Rio, juntaram o surdo, o tamborim, cuíca, etc. Com a adesão de grandes compositores, cantores e poetas populares, tomou uma proporção maravilhosa que chegou em todo pais através das rádios e do carnaval, sendo reconhecido e cantado inclusive no exterior. O sotaque é diferente, mas é samba!
Luiz Pires: Você pesquisou sambas de roda da região do Recôncavo Baiano?
PAULO COSTTA: Na verdade fui criado ouvindo da fonte. Passei minha infancia em Sto. Amaro da Purificação, Ba. O samba de roda era trilha sonora da cidade, no carnaval, nas festas populares, etc. havia o maculelê também onde a percussão era feita com paus ou facões numa especie de dança e luta oriunda dos escravos como a capoeira.
Ou seja, sempre esteve comigo. Fico feliz em ver que existem em Cachoeira, Sto Amaro, etc grupos de samba importantes e ativos como o da Dona Dalva do samba.
Marcello: Qual sua opinião a respeito da música que é feita no Brasil na atualidade. Fale alguma coisa sobre esses movimentos, funk, hip-hop, rap, axé, sertanejo, pagode, forró… etc…etc…os manipuladores da mídia são os grandes responsáveis por essa mistureira danada que acaba interferindo de maneira efetiva na qualidade musical?
PAULO COSTTA: eu vejo tudo como um grande equivoco. Adoraria ver novos Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Cartola, Pinxinguinha, Noel e muitos outros.
Gostaria que se manifestassem inclusive socialmente através de sambas e baiões.
A mídia, claro é a principal responsável, além da falta de cultura, etc. creio que o movimento Musica nas Escolas seja bastante valido no sentido não de formar músicos, mas sim bons ouvintes. no mínimo saberiam que existem outros ritmos, estilos e outros instrumentos como bandolins, fagotes, violinos, etc. isso despertaria a curiosidade em crianças e adolescentes.
Luiz Pires: Fale-nos das parcerias com a educadora baiana e poetisa Mabel Velloso e com o poeta espanhol Gabriel Sandoval.
PAULO COSTTA: Bom, a Mabel Velloso foi minha primeira professora; quem me ensinou a ler e escrever. Há alguns anos li um poema dela e resolvi lhe prestar uma homenagem fazendo uma musica. Gravei e mandei para ela que gostou muito. Depois disso, resolvemos continuar a parceria que acabou se transformando num cd já gravado e que logo mais será lançado. Conheci o poeta Sandoval em Toulouse, Fr. Participei de um programa de radio dele, ficamos amigos e logo parceiros. Gabriel é irmão de um grande guitarrista e cantor espanhol que se chama Bernardo Sandoval.
Marcello: Você tem outros parceiros?
PAULO COSTTA: Sim, geralmente as parcerias são feitas via internet. Minhas parcerias mais constantes são com o baiano Antonio Miranda, o cearence Tiago Araripe, também cantor e compositor e com o hoje político, Penna.
Luiz Pires: O estilo bossa-nova – uma vertente do samba que ganhou o mundo a partir de João Gilberto – é considerado por muitos como música de elite. Você concorda?
PAULO COSTTA: A bossa nova quando surgiu, era musica da juventude. Ouvia-se nos rádios e TVs. João Gilberto era ídolo em quase todo pais. Era uma revolução. Muitos odiavam por achar que era um estilo onde cantores desafinados e sem voz faziam sucesso. (Ainda não percebiam a afinação perfeita do João). Ou seja, era musica para jovens, gente que queria fazer e ouvir musica brasileira mais moderna e sofisticada. Falava-se mal e muito bem. Mas era popular! Creio que o pais é que mudou. Naquela época havia também o cinema novo, etc. O Caetano Veloso diz : “o brasileiro precisa merecer a bossa nova”. Vejam o João Gilberto: ele canta samba! sambas bem populares e conhecidos. o Jobim é com toda certeza um dos maiores compositores do mundo. A bossa nova é admirada cantada, tocada e copiada em quase todo mundo. Rotular como musica de elite é no mínimo um desperdício, um sacrilégio!
Deveríamos nos orgulhar pela bossa nova, pelo choro, baião, etc. dizem que a bossa nova é coisa velha, já passou, mas e o rock? São dois cinquentões! Eu não sou e nunca fui elite. Ou será que ler um bom livro, ver um bom filme também é coisa da elite? A diferença é que a bossa nova (assim como o choro) é musica popular pra se ouvir e cantar e não “prapular”. Mas creio que a grande mídia mais uma vez tem muita culpa.
Luiz Pires: Conte-nos sobre o seu trabalho de divulgação da música brasileira na Europa, que, inclusive lhe rendeu o título de Embaixador da Bossa-nova na França.
PAULO COSTTA: Bom, na verdade foi meio sem querer que tudo começou. Estava em Toulouse quando um cd antigo meu foi parar nas mãos da produtora de um grande festival de jazz no sul da França. Fui convidado a participar junto com grandes nomes do jazz norte americanos e também da França. Certa vez, já tendo feito vários concertos na região, fui entrevistado por uma conceituada jornalista que postou na manchete da matéria: “o embaixador da Bossa nova vive em Toulouse”.
À principio achei que era um titulo meio pomposo, mas com o tempo percebi que era um pouco do que fazia: levar e mostrar a musica brasileira pra onde eu pudesse. Esse “rotulo” pegou e hoje já vejo com simpatia e quase como uma missão.
Luiz Pires: E sobre sua participação no documentário no documentário “Saveur de Bossa” (Sabor de bossa-nova) do cineasta Yves Billon.
PAULO COSTTA: Ainda não sei como vai se chamar o documentário, talvez “amor à bossa”. O Yves, que um grande documentarista e cineasta francês, havia feito um belo documentário com o Hermeto Paschoal. Uma noite vendo um concerto meu, fez o convite para filmar. Ele reuniu material como shows, entrevistas etc. há um ano me entrevistou longamente no Rio. Deve ser apresentado no próximo ano. Alias ando bem curioso pra ver como ficou…
Luiz Pires: Você ainda participa do movimento concretista na cidade de São Paulo?
PAULO COSTTA: Na verdade há muitos anos atrás, eu participava de uma banda chamada “Papa-poluição” em São Paulo onde morava à época. Cantavamos uma canção feita em parceria com o poeta Décio Pignatari e tínhamos uma proximidade com os irmãos Campos. Admiro demais este movimento poético.
Marcello: Paulo qual sua opinião a respeito do filme “Saravah” o Pierre Barouh que chegou ao Brasil em 1969 com uma finalidade e acabou fazendo outra coisa, ou seja, ligou a câmera e registrou momentos absolutamente sublimes da Música Popular Brasileira, destacando, principalmente, Pixinguinha, Baden Powell, Luiz Carlos Vinhas, Paulinho da viola, Maria Bethania e a cantora Márcia, dentre outros.
PAULO COSTTA: O Pierre, quase sem recurso, acabou fazendo um trabalho admirável! Ciceroneado pelo Baden Powell, simplesmente ligou a câmera e deixou rolar. Era muito talento reunido num clima super descontraído. Ele até hoje é um apaixonado pela musica brasileira e é um dos responsaveis pela grande divulgação da nossa musica na Europa. vez por outra quando canto em Paris, ele aparece pra cantar “Samba da benção” comigo.
Marcello: OK…meu caro Paulo, muito obrigado pela atenção, foi muito legal trocar e papo contigo, valeu mesmo, seja sempre muito bem-vindo ao nosso convívio. Forte abraço.
PAULO COSTTA: Sou eu quem agradece a vocês, esta oportunidade. Espero que com o tempo e nas minhas vindas por aqui possamos estreitar ainda mais nosso convívio e amizade. Obrigado, grande abraço!
Olá, Marcello! Foi im grande prazer conhecer pessoas tão generosas e empenhadas em levar cultura pra nossa gente. Obrigado pela amizade. Grande abraço
Paulo Costta
Olá; Quero receber todas as informações de eventos do Clube do Choro de Santos.
grata
Nadja Soares
olllloooo