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TERNO DUCAL

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A primeira copa a gente nunca esquece e, confesso, aquela de 1958, foi, verdadeiramente, inesquecível. A música que a molecada cantava era àquela do Jackson do Pandeiro: “Vocês vão ver como é Didi, Garrincha e Pelé, dando seu baile de bola.” A molecada, santista de capa e espada, porém, mudava a letra e cantava:

“Vocês vão ver como é Durval, Coutinho e Pelé dando seu baile de bola é o Alvinegro da Vila quando pega no couro mostra o que é nossa escola.”   

A seleção, a melhor de todas, de todos os tempos, sem dúvida alguma, Gilmar, Djalma Santos, Beline, Orlando, Nilton Santos, Zito e Didi. Garrincha, Vavá, Pelé e Zagallo, ganhou com sobras o nosso primeiro caneco. O moleque Pelé tinha 17 anos apenas e, só não tinha aparelho nos dentes porque não havia. Na decisão, na Suécia, nossa seleção deu um delicioso chocolate de 5 a 2 nos gringos. A seleção brasileira, naquele dia, só faltou fazer chover, aliás, nem sei, na verdade, se choveu ou não, que importância também não tinha. Naquele dia o fundão do Marapé botou o bloco na rua e a batucada comeu solta até o sol raiar. Estava todo mundo lá. Daniel Feijoada, Diamantino Cavaco, Mingão, Primo Waldemar, Geraldão, Seu Landulfo, Seu Jumba e até o Seu Joaquim que não era versado em coisas de futebol, mas sabia cantar belos sambas. O Marapé em peso se espremeu entre o Bar do Seu João e a Quitanda da Carminha e brincou o carnaval com tudo que tinha direito, serpentina, confete, muita lança perfume e muito mais ainda cachaça da boa, lá do morro, do alambique do Seu Antônio, que ficava pertinho da casa do Seu Lili. A rapaziada reunida acompanhava o jogo através do potente autofalante instalado no parque de diversões no terreno baldio em frente ao bar do Seu João. Quando Pelé marcou o quinto gol, a explosão foi avassaladora. Os meninos alucinados corriam atrás dos gigantescos balões (naquele tempo ainda podia) e atrás das varetas dos rojões que explodiam nos céus do Marapé. Que festa meu caro! O foguetório e a batucada não deixou o pessoal lá do fundão do bairro dormir naquela noite e, afinal, ninguém queria dormir mesmo. O povo queria é mesmo que o tempo ficasse assim, paradinho da silva, pra sempre. O caneco era nosso. A seleção era nossa. Não, não era a pátria de chuteiras não, que isso era conversa pra boi dormir, de gente letrada que nunca deu um dia trabalho pra nação, assim como hoje, pois que a turma pensava mesmo era apenas na bola e tão somente no jogo jogado, afinal o lambari é pescado. Todo menino queria ser o Mané Garrincha, o Pelé e bater sua bolinha na rua de terra batida ou ainda nos campinhos armados nos incontáveis terrenos baldios do Marapé, isso sim era o sonho mais importante. O melhor de tudo é que depois de uma semana lá estava a molecada na Vila Belmiro assistindo o treino com Zito, Pelé, Mauro Ramos, Pepe e tudo mais que tinha direito, além de, possivelmente, dar de cara com o garoto Pelé, que nem Rei era ainda, bem ali no canal 1. É quase impossível esquecer aquela festa que o Marapé fez com a seleção canarinho que, assim como a rapaziada boleira, só queria mesmo era bater uma bolinha apenas. Os nossos valorosos jogadores, depois de campeões do mundo, foram recebidos pelo povo brasileiro com muita festa, muito carinho e com seus prêmios a tira colo, uma bicicleta Monark, um aparelho de TV preto e branco e um moderno e bem cortado Terno da Ducal.

Renê Rivaldo Ruas é escritor. Foi passista da Império do Samba, baliza da Embaixada de Santa Tereza, fez parte da bateria do Bloco do Boi, foi integrante do grupo de choro Regional Varandas, formado por jovens amantes do Choro. Desde 1986 toca cavaquinho e solta a voz na roda de samba e choro do tradicional Ouro Verde e diretor do Clube do Choro.


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