“Sede Santos, porque eu, o Senhor, vosso Deus, sou Santo”(Lev. 19:2)
Bento, ainda menino, jogava muita bola, um craque. Dava chapéu, bicicleta e fazia chover. Fominha, era o primeiro a chegar naquele campinho da esquina, limpava o terreno, espalhava a serragem e montava as traves, na verdade, o tal campinho, de terra batida, ficava num terreno baldio no meio da rua, cercado de valetas por todos os lados, onde corria o esgoto a céu aberto. A bola de capão era o melhor amigo do menino. Toda noite a bola era tratada com muito carinho com o sebo que ele conseguia no açougue do Seu Maneco. Bentinho e a bola. O lápis e a borracha. Dormia e acordava com a dita cuja debaixo do braço e, esse amor pela bola, era o motivo maior das encrencas diárias do menino com o pai. Na escola, era o aluno mais ausente, mesmo estando na classe e durante as aulas sonhava com dribles e tabelinhas com o Pagão, seu ídolo. Ivo viu a uva, nem pensar e, na aritmética, três vezes cinco, Bentinho passava longe, bem longe. Fugiu muitas vezes da Escola pra assistir o treino do time amado na Vila Belmiro. Bentinho não perdia nenhum jogo do time do coração, sonhava com o manto sagrado da Vila famosa, com Pelé, Coutinho e Pagão e acompanhava treino, jogo e tudo mais. O pai, Seu Chico, sonhava com diplomas na parede, o motivo maior de castigos e cascudos e, na tentativa de tirar o menino da rua e da bola, Seu Chico falou com o Padre Roque e lá se foi o menino ser coroinha. O tempo foi passando e, o nem tão menino assim, Bentinho, foi ficando, ficando, dividido entre o Pai Nosso e o Alvinegro da Vila. Já rapaz, Bentinho vivia mais na Igreja que em casa. A tão querida bola foi ficando um pouco mais esquecida e Bentinho cada vez mais calado falava até em ir para o seminário e talvez, quem sabe, se tornar padre para a felicidade geral da família e, especialmente do Seu Chico. Só uma coisa a Igreja não conseguia tirar do Bentinho, a paixão cada vez maior pelo glorioso alvinegro da Vila. Não perdia um jogo no alçapão da Vila. Jogo longe da Vila não desgrudava do rádio. Bentinho, depois de muito pensar, resolve se tornar Padre. Bíblia, latim, filosofia e o time imbatível do Santos e, às vezes, entre uma Ave Maria e um Pai Nosso, batia uma bolinha. Depois de muito Salve Rainha pra cá, Salve Rainha pra lá, Bentinho se torna Padre e logo chega o dia da ordenação do agora Padre Bento. A missa de ordenação acontece alguns dias depois do encantado time do Santos FC se tornar bicampeão do mundo dando um chocolate de 4 a 2 e 1 a 0 no Milan, tudo isso no Rio de Janeiro em pleno Maracanã. Padre Bento, duplamente feliz, eufórico com a retumbante vitória, se prepara para a celebração da missa solene. A Catedral estava completamente lotada. A família do Padre Bento, os amigos, o Bispo e todas as altas patentes da Igreja estavam presentes. Missa pra deixar o Papa com o coração a gargalhar. Na homilia, com o coração transbordante de Espírito Santo, Padre Bento fala da ressurreição de Jesus e sua aparição aos apóstolos na Galileia: “Toda a autoridade me foi dada, no céu e na terra, ide, pois e ensinai a todas as nações ….. “ E, naquele silêncio ensurdecedor, a voz forte do Padre Bento inundou a Catedral lotada: - “E então meus irmãos, Jesus, o filho amado, falou aos queridos apóstolos, Pedro, Lucas, Mateus, Marcos, Felipe, Tomé, Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe, ide, pois e ensinai a todas as nações..” Era alvinegro o coração do Padre Bento.
Renê Rivaldo Ruas é escritor. Foi passista da Império do Samba, baliza da Embaixada de Santa Tereza, fez parte da bateria do Bloco do Boi, foi integrante do grupo de choro Regional Varandas, formado por jovens amantes do Choro. Desde 1986 toca cavaquinho e solta a voz na roda de samba e choro do tradicional Ouro Verde e diretor do Clube do Choro.
Nada, absolutamente nada se compara ou se comparou a este super time de futebol em toda a história do esporte bretão. Foi o maior de todos, não tinha pra ninguém, nem Real Madrid, Barcelona, Ajax, Bayern de Munique, Milan, Boca Juniors e o escambau. Santos Futebol Clube na cabeça. Fui um privilegiado, mesmo não sendo o time do coração é o time da minha cidade natal, vi tudo isso ao vivo. Quem viu, viu, quem não viu não vai ver nunca mais. Palavra de corinthiano. Abraços