Durante o memorável show do CHORO DAS TRÊS, no Teatro Guarany, dia 26 de abril, me lembrei, nem sei bem porque, do Choro “Três Estrelinhas” do Anacleto de Medeiros. As senhorinhas, no palco, ou fora dele, são as mesmas senhorinhas com todo o jeitão das jovens meninas que vão à missa no domingo de manhã nas Igrejas do interior do Brasil. Não se engane, porém, pois elas não enjeitam de forma alguma uma boa roda de Choro, principalmente, aquelas que não têm hora para terminar.
E foi o que aconteceu no Teatro Guarany naquela noite, uma verdadeira roda de choro, lamentavelmente, com hora marcada pra terminar, uma pena.
O show, em comemoração ao Dia Nacional e Municipal do Choro e ao 12º aniversário do Clube do Choro de Santos, começou muito bem com a apresentação dos alunos da Escola Choro e Cidadania Luizinho 7 cordas, comprovando o acerto no direcionamento dos objetivos do Clube do Choro como, por exemplo, atender crianças com necessidades sociais ou não e, ao mesmo tempo, preservar essa musica tão importante para a cultura do povo brasileiro.
Os meninos, mais uma vez, comandados pelo Maestro William, emocionaram a plateia que, também, por sua vez, entendeu e acolheu os nossos alunos com muito carinho. Pixinguinha, sem dúvida, deve estar muito feliz.
Depois de tanta emoção, mais emoção ainda, em dose dupla, com as senhorinhas do Choro das Três e com a participação do Stanley do clarinete.
As meninas do Choro das Três, nascidas em Porto Feliz, cidade do interior do Estado de São, começaram muito cedo, pois, acompanhadas pelo pai, Eduardo, frequentavam os bares, botecos e quintais onde rolava rodas de Choro.
Em, 2005, no terceiro aniversário do Clube do Choro de Santos, coube ao Choro das Três, ainda Balaio de Gato, a realização do show comemorativo. A pequena Elisa, hoje com 20 anos de idade, tinha apenas 11 anos, e já mostrava todo o seu talento e sua musicalidade demonstrando o seu futuro promissor no Bandolim.
Com apenas 12 anos de carreira, o Choro das Três, confirmando toda a magia das meninas, consolida uma carreira não só no País como também vem se firmando no cenário internacional com diversos shows já realizados e tantos outros já confirmados nos Estados Unidos e Europa.
O Clube do Choro de Santos acertou em cheio quando convidou o Choro das Três para o show comemorativo. O trio das irmãs, mais o pai, fizeram um show emocionante e inesquecível mostrando todo o talento e a sensibilidade da família.
Descontraída e muito simpática, Corina, 26 anos, confessa que se encantou com a flauta depois de ouvir, certa vez, o genial Altamiro Carrilho. Não poderia estar em melhor companhia. Corina, com sua flauta e flautim, além de encaminhar o show com graça e charme, está cada vez melhor, quando necessário usa toda sua técnica, porém, na maioria das vezes, passa pelo choro com a malícia rítmica dos velhos chorões. Grande flautista.
Bem tímida, ao que parece, talvez até pela introspecção do violão de 7 cordas, desponta a menina Lia, 24 anos. Lia, que estudou e tocou com o não menos genial Luizinho 7 cordas, quando veio a Santos em 2005, dava ainda, seus primeiros passos e primeiros acordes no violão de 7 cordas, porém já demonstrava raro talento para desenvolver as “baixarias” imprescindíveis para a execução do Choro. Hoje, bem a vontade, percorre o braço do violão com autoridade e rara sensibilidade no trato das passagens mais rápidas e, o mais importante, sem atropelar o fraseado, dialogando, tanto com a flauta da Corina quanto ao bandolim da Elisa. Uma beleza de violão de 7 cordas.
O que falar da pequena Elisa? Difícil mesmo é encontrar adjetivos. Em 2005, quando as meninas vieram a Santos, pela primeira vez, a encantadora e caçula Elisa, tinha apenas 11 anos e já impressionava pela técnica apurada no Bandolim, deixando alguns velhos chorões assombrados, entre eles o Ari 7 cordas que, encantado com a performance da abusada senhorinha, previu que ela iria, em pouco tempo, se tornar uma das melhores bandolinistas do País, entre os grandes bandolinistas. O Ari acertou em cheio. Elisa extrapolou.
A brejeira senhorinha, além de se transformar numa exímia bandolinista, pianista e clarinetista, compõe maravilhosamente bem. Entre Choros e Valsas a Elisa brilha sem perder, em momento algum, a simplicidade e humildade dos grandes artistas.
Basta ouvir o choro Carijó e a valsa Dias de Verão para constatar a beleza de composição e a enorme sensibilidade da Elisa. Hoje com 20 anos de idade Elisa mostra toda a sua maturidade sem perder a brejeirice de uma pequena menina do Interior do Brasil.
O ritmo do Choro das Três é garantido pelo pandeiro cheio de “malandragem” do pai das meninas, o Eduardo, que mantem a unidade e a uniformidade do som do, com licença da má palavra, “regional”.
Não podemos esquecer a participação, aqui sim, luxuosa do clarinete do Stanley que, como grande musico que é, se permitiu dividir os solos com a Elisa e a Corina.
Na verdade o show do Choro das Três, na noite do dia 26 de abril, no Teatro Guarany, foi a constatação e a confirmação do talento e da musicalidade das senhorinhas que, lá no início chamei de Três Estrelinhas, mas que poderia ter chamado de Três Marias nos céus do Brasil.
Renê Rivaldo Ruas é escritor. Foi passista da Império do Samba, baliza da Embaixada de Santa Tereza, fez parte da bateria do Bloco do Boi, foi integrante do grupo de choro Regional Varandas, formado por jovens amantes do Choro. Desde 1986 toca cavaquinho e solta a voz na roda de samba e choro do tradicional Ouro Verde e diretor do Clube do Choro.