“Pergunte sempre a cada ideia: A quem serves?”
Bertolt Brecht
Meu carnavalesco internauta amigo, todos sabemos do tanto que o povo brasileiro é da folia, da esbornia, da orgia, mesmo estando o nosso Carnaval, atualmente, um tanto quanto moribundo, ou seja, caindo pelas tabelas, mais para samba canção, em resumo, um final de feira, o povo brasileiro ainda encontra caminhos para fazer a sua folia, dita momística.
Sabemos também que o Carnaval, ensejou a criação, no Rio de Janeiro, da dita canção carnavalesca ainda no final do século XIX e início do século XX.
Pode-se garantir que essa manifestação musical carnavalesca nasce com a primeira marcha de rancho, “O Abre-Alas”, composta por Chiquinha Gonzaga, em 1899, para o Cordão Rosa de Ouro, fixando definitivamente o ritmo do Carnaval.
Já a partir de 1920 surgem o samba e a marchinha e, logo após, na década de 30, surgem a batucada e samba de enredo.
Em 1917 surge, composição de Donga e João da Baiana, o tal samba carnavalesco Pelo Telefone, marcando definitivamente o samba como a manifestação maior do povo brasileiro.
Quanto ao samba e a escola de samba, concordo inteiramente com o Escritor, Poeta e Compositor Nei Lopes quando diz: “Alguns entendem que o Samba e a Escola de Samba é a mesma coisa e que o gênero-mãe de nossa musica popular é um tipo de musica de Carnaval. Pois não é, não! A Escola de Samba nasceu do Samba.”
Toda a conversa ai de cima é para chegar na musica que representa verdadeiramente a trilha sonora do carnaval, a Marchinha.
Com elementos da polca e o andamento mais adiantado da Marcha de Rancho é que surge lá pelos idos dos anos 20 do século XX a marchinha de carnaval. Tudo leva a crer que a primeira marchinha e, que faz um grande sucesso popular, é O Pé de Anjo, de Sinhô, no carnaval de 1920.
Podemos até afirmar, sem medo de errar que, a Marchinha é que vai dar o caráter definitivo do carnaval em todos os tempos. A marchinha guarda o espirito carnavalesco do povo, pois além de espalhar a alegria, ela é crítica, buliçosa, gaiata, caricata, brejeira, maliciosa e, algumas vezes, altamente canalha. Ela desenvolve elementos de crítica contra os desmandos dos governos, é satírica e como manda o espírito carnavalesco, ela é fundamentalmente transgressora e brincalhona.
Nossos maiores compositores, entre eles, Lamartine Babo, Noel Rosa, João de Barro, Ary Barros, Sinhô, Caninha, Eduardo Souto e outros tantos conseguiram transformar dezenas e dezenas de marchinhas em clássicos eternos do Carnaval. Como não lembrar, por exemplo, do hino do Carnaval Brasileiro, a inesquecível – Cidade Maravilhosa – de André Filho.
É inegável a força das marchinhas no cancioneiro carnavalesco, mesmo porque ela surgiu exatamente com muita força dentro do espírito transgressor do carnaval e, pelo seu espírito satírico, ela representa também uma radiografia da vida brasileira desde o início do século XX.
No ano 14 do século XXI, porém, a marchinha carnavalesca desapareceu por completo do carnaval brasileiro. O Carnaval se transformou num grande negócio para malandrecos, vivaldinos e 171 em geral. A cada Carnaval, essa gente fica armando pequenos golpes para criar novos ritmos (??) para os tais trios elétricos e bandas que representam a negação do espírito carnavalesco em desfiles melancólicos onde só meia dúzia de “espertos” ganham muito dinheiro.
Mato a cobra e mostro pau. Se não bastasse tanta burrice e tanta malandragem, uma poderosa gravadora, ávida por muito dinheiro, perpetrou, contra o bom gosto e a cultura nacional, um crime de lesa pátria associando as marchinhas históricas ao pior dos piores do mau gosto musical, o tal funk ou o chamado pancadão. Uma nova roupagem? Não meu caro leitor, é a malandragem dos malandrecos. O que não se faz por um punhado de grana, né não?
Zé do Camarim