A Música Popular Brasileira perdeu anteontem um de seus maiores representantes. Faleceu o mestre Paulo Vanzolini. São Paulo lamenta profundamente a perda do grande compositor.
Mesmo com todo o carinho e apreço que as pessoas sempre lhe dedicaram, ainda vivo, passou pelo mesmo problema do descaso do público, assim como Adoniran Barbosa que, normalmente, só é lembrado pelos sambas “Trem das Onze” e “Saudosa Maloca”. Vanzolini também, as pessoas lembram muito bem de “Ronda” e “Volta por cima”, somente. Aliás, sobre o famoso samba-canção, o mestre dizia o seguinte: “o povo acha que Ronda é um hino a São Paulo, mas na verdade ela é sobre uma mulher da vida. É um pequeno golpe. Parece que a personagem procura a outra pessoa para amar, quando, na verdade, quer encontrá-la para dar-lhe um tiro”.
E aí eu pergunto: e o resto, cadê, será que ambos só fizeram isso?
Claro que não.
O mestre, cientista, pesquisador e compositor – que, como sempre disse, não conhecia uma nota musical sequer – Paulo Emílio Vanzolini, tinha umas sacadas muito boas nas suas letras, tiradas finas pra caramba. “Mulher que não dá samba” é exemplo típico. Já sei, ninguém conhece, né? Não é preciso dizer…”se atrás da bronca viesse a roupa limpa, o café quente, ou se fosse ignorante no claro e ardente no escuro, eu lhe asseguro, não faria falta a paz, mulher que não dá samba eu não quero mais”. Sacou a picardia? Pois é, em “Samba abstrato” ele da outro show…”mas ninguém pense que não estou muito consciente, de que fundamentalmente não existe diferença entre morrer pela crença e ser igual a toda gente, é tudo um sonho, tudo uma farsa, uma ideia, autor, ator e platéia, espero que o pano caia pra sair batendo palma ou romper na maior vaia, ou dizer muito ao contrário, que espetáculo tão frouxo nem merece comentário”…!
Em “Capoeira do Arnaldo” foi desafiado pra fazer a composição do dia pra noite. O pessoal duvidou e ele fez.
Mas, além das já citadas, tem outras tantas composições, dentre elas, “Praça Clóvis”, “Samba Erudito”, “Maria que ninguém queria” , “Inveja” e “Cara limpa”, só para citar algumas…!
Veio a Santos em 2003 para lançar, no SESC, a caixa de CDs “ACERTO DE CONTAS”, onde vários músicos e interpretes reuniram-se para homenageá-lo. Confesso que na ocasião tentei chegar perto para cumprimentá-lo, mas, algo me disse para não ir. Seu eterno mau humor poderia causar sérios problemas. Então desisti. Todavia, uma grande amiga que estava com ele à mesa, em um gesto muito nobre, apresentou-me, mas ele nem tomou conhecimento da minha presença…rsrsrs…!
A última vez que estive com ele foi em São Paulo num bar da Vila Monumento, ali no Cambuci, participando de uma roda de samba com meus amigos Marcus Marmello, Silvili Sakovic, Kaká Silva e outros bambas. Gozado, naquela tarde ele estava bem mais simpático, até sorriu pra mim quando cheguei à mesa.
É isso, como pobres mortais que somos, só nos resta lamentar a perda do grande compositor. Fica o consolo de que “o homem passa mas a obra permanece”, esta é imortal…!
Abraços
Zé do Camarim