CHIQUINHA GONZAGA
Neste “Dia Internacional da Mulher”, se me dessem o direito de escolher um ícone para destacar uma criatura dentro do processo de liberação e libertação da Mulher, escolheria, sem pestanejar, Francisca Edwiges Neves Gonzaga, a fabulosa Chiquinha Gonzaga.
E muitos até perguntariam por que Chiquinha, por que buscar uma figura que viveu no século XIX e que veio a falecer nos anos 30, já no século XX…? E eu diria: muito simples, meus caros, ela foi uma mulher magnífica, adiantada para o seu tempo. Todavia, tinha que viver naquela época para mostrar ao Brasil como era uma mulher de fibra, corajosa, que bateu de frente com a sociedade carioca que não admitia que ela tocasse piano, fosse abolicionista, republicana e compositora de maxixes, a música e a dança execradas por esta mesma sociedade.
Chiquinha foi uma mulher especial, quebrou todas as regras e preconceitos existentes na época e era branca, teve até problemas com os próprios filhos, afinal, ela, filha de militar foi obrigada a casar com outro militar engajado na Guerra do Paraguai – de triste memória para todos nós – e se viu, ainda jovem, logo depois, separada e com filhos no colo. Acho que dá pra imaginar o que foi aquilo na ocasião.
Desculpem as expressões, mas, mulher, só servia pra dar cria, lavar roupa e chão, não participava de conversa de homens e sempre andava atrás destes. Não, a maestrina, primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil e autora da primeira marcha da história do Carnaval brasileiro, “Ó abre alas”, jamais admitiu isso, a história é testemunha desses fatos funestos.
Um fato histórico – dentre outros – destaca isso. Dona Nair de Tefé, a primeira mulher caricaturista do Brasil e esposa do então presidente da república, Hermes da Fonseca, quando recebeu diplomatas estrangeiros no Palácio do Catete, resolveu colocar música para entreter os visitantes. Corajosa como ela só, apresentou, em primeira audição e em violão, a famosa composição de Chiquinha Gonzaga, “Gaúcho, o Corta Jaca”…! Foi um perereco daqueles na então Capital Federal, a ponto de, o então senador Rui Barbosa, manifestar-se efusivamente na tribuna do Senado dizendo: “como o Presidente da República permitiu a execução do maxixe no recinto do Palácio e, ainda mais, em violão, “instrumento de capadócio”…!
Pois bem, assim foi, e o resto da história, quem quiser saber, está nos livros…!
Dentre tantas facetas de sua personalidade marcante, Chiquinha saía batendo de porta em porta, com partituras debaixo do braço, tentando vendê-las para, com o produto dessas vendas, alforriar escravos. Estávamos, aquela altura, sob a égide das Leis Sexagenária e do Ventre Livre, algum tempo antes da Lei Áurea.
Certa feita, numa de suas andanças, vendeu uma de suas partituras contendo a composição “Caramuru” e alforriou um escravo músico. O bem-aventurado escravo chamava-se José Flauta, que, a partir daquele momento estava livre…! Chiquinha era assim, despojada, ciente e absolutamente consciente de seus ideais abolicionistas e republicanos…!
Se temos hoje – e há algum tempo – mulheres vereadoras, deputadas, senadoras, médicas, advogadas, engenheiras, ministras, juízas de direito, diplomatas, governadoras e, por fim, uma Presidenta da República, tenho pra mim que devemos isso a ela, Chiquinha Gonzaga, a pioneira, sem dúvida nenhuma, uma grande Mulher – com letra maiúscula – que o Clube do Choro de Santos destaca neste Dia Internacional da Mulher…!
Abraços
Zé do Camarim