A linguagem é simples, às vezes se atrapalha um pouco, as palavras embolam, é natural, mas a genialidade de Zé Menezes – 91 anos de idade e 83 de carreira – flui naturalmente, é um gigante apesar da baixa estatura. Fala com grande orgulho sobre Garoto, Radamés Gnatalli, Laurindo de Almeida, Luiz Bandeira e mais uma infinidade de grandes músicos instrumentistas e compositores com quem trabalhou. Dizia, “não há um cantor, um conjunto, uma gravação ou uma orquestra no Brasil da qual não tenha participado”. E é verdade, desde mil novecentos e quarenta e bolinha, quando Menezes veio para o Rio de Janeiro – não sem antes deixar que o velho Padim Padi Ciço passasse a mão na sua cabeça e dissesse, “você vai ser um grande músico meu filho” – e aportou na Mairynk Veiga e depois na Nacional, dois templos fantásticos da Era de Ouro do rádio…!
Pois é, esta coluna mestra da Música Popular Brasileira nos brindou com um workshop e um show brilhantes no Teatro Guarany – quarta-feira, 3/10/2012 – acompanhado de outras feras da nova geração, Marcelo Gonçalves (violão 7 cordas) do Trio Madeira Brasil que, em breve, apresentará sua tese de mestrado com trabalho focando a obra deste cearense arretado, Beto Cazes, experiente e destacado percussionista e a simpaticíssima e sempre sorridente Daniela Spielman (sax soprano e flauta). Muito timidamente – é meu jeito – não resisti, fui falar com ela nos corredores do teatro após o espetáculo e disse-lhe: “menina, tens uma qualidade que admiro nas pessoas, você sorri o tempo todo, transmites alegria a todo o momento, notei, mesmo quando não estás tocando, olha para os companheiros – em especial com olhar fixo no mestre – e sorri, simplesmente sorri”, diferentemente da normal e secular tromba dos velhos chorões – alguém já reparou que raramente eles sorriem…? – que sempre mantiveram essa postura carrancuda e antipática. Pois então, essa moçada não é mais assim, a maioria tem semblante angelical, eles passam isso, graças a Deus mudou a característica, embora ainda existam remanescentes. Nossa cidade teve o privilégio de receber esse quarteto que interpreta temas da autoria de Zé Menezes com maestria, quem dera Pixinga, Radamés, Jacob, Ari, Noel estivessem por aqui. Eles, sem dúvida nenhuma aplaudiriam, tenho certeza disso. Exceção feita a Noel, todos os outros conheceram e conviveram com o maestro. Pena que o público santista deu o “ar da graça” novamente, não compareceu, uma pena, foi uma apresentação para poucos privilegiados, brindados com essa maravilha graças a Halliburton (patrocinadora do evento) e a Secretaria de Cultura. Agora, os quatro, na sequência, estarão empolgando outras platéias pois farão apresentações em Macaé (RJ), Salvador (BA), Natal (RN) e Mossoró (RN). Por fim, registrado está a obra de Zé Menezes neste mais recente trabalho, o CD autoral “Regional de Choro, Gafieira Carioca e Nova Bossa”, um 3 em 1 espetacular com coisas muito apetitosas bem no estilo deste cearense de nascimento e carioca por adoção…! EM TEMPO: Zé Menezes esteve em 2008 na antiga sede do Clube do Choro de Santos ao lado dos companheiros Rogério Souza (violão 7 cordas) e José Carlos “Bigorna” Ramos (flauta) onde nos concedeu uma entrevista e tocou no velho violão tenor branco – aquele mesmo em que Garoto tocava quando vinha a Santos para se apresentar na Rádio Atlântica de Santos (PRG-5) e nos cassinos Ilha Porchat e Atlântico – que está sob a guarda do nosso diretor musical Jorge Maciel. Acreditem, ele lembrou de tudo e ainda pediu para que trouxéssemos o violão para ele dedilhar novamente assim como fez na ocasião…! E assim foi feito, quem estava nos camarins testemunhou…! Valeu, foi tudo muito bom…!
Abraços Zé do Camarim