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HOMENAGEM DO CLUBE DO CHORO AO CENTENÁRIO DO SANTOS F.C.

 

Gravura da Vila Belmiro por Paulo Consentino

 

Na verdade, comecei a torcer pelo Santos no ano de 1949.

Meu pai que era português e associado da AA Portuguesa, e me levava para ver os jogos do seu clube todos os domingos à tarde no campo da av. Pinheiro Machado. Lá eu assisti aos jogos da Portuguesa contra o Corinthians, São Paulo, Palmeiras, Portuguesa de São Paulo e todos os clubes que disputavam o campeonato paulista. Todavia, num desses domingos,  eu vi um clube todo de branco entrar em campo para jogar contra a Portuguesa, e fiquei profundamente atraído, vindo a saber, em seguida, que se tratava do Santos FC, e que jogava sempre num campo do outro lado do canal. Como eu residia no bairro da Vila Belmiro, numa distância, mais ou menos, de quatro quadras desse campo, comecei a ir, todos os domingos, sozinho, no campo do Santos, só que tinha que esperar os 15 minutos finais da partida, quando as portas do campo eram abertas para saída dos torcedores e eu entrava para assistir, somente,  os minutos finais da partida, daquele time de camisas brancas, que vezes outras, atuava com camisas listradas branco e preto. Meu pai, tomando conhecimento desse fato, me colocou de sócio no Santos FC (eu já era sócio da Portuguesa), e a partir de então eu comecei a comparecer aos jogos do Santos FC, e assistir as partidas das arquibancadas sociais, que naquela época eram ainda de madeira. De 1950, até hoje, e já se passaram mais de 60 anos, eu assisti, não só a transformação do Estádio de Urbano Caldeira, de madeira para cimento armado, como também, o seu time de futebol, que tinha no início da década de 50, dois excepcionais e inesquecíveis jogadores: Antonio Fernandes, ou Antoninho (meia armador), e Hélvio Peçanha Moreira, ou Hélvio (o melhor zagueiro central, ou de área, que eu vi na minha vida). O Santos FC, na verdade, começou a transformar-se num grande time de futebol, a partir de 1954, com a chegada em fins de 1953, do técnico Luiz Alonso Peres, o Lula. Com ele começaram a chegar, além de poucos outros que lá se encontravam, para formar o grande time de futebol, o goleiro, Manga, o Hélvio (de quem já falamos),  o Ivan, que começou como médio volante e depois se transformou no melhor lateral esquerdo que eu ví jogar no Santos, o Ramiro, zagueiro que começou como meia de armação, e depois se transformou no segundo melhor lateral direito que eu ví jogar no Santos (pois, o melhor, foi o Carlos Alberto) e seu irmão Álvaro, um excelente centro avante e meia, o Formiga, quarto zagueiro de excelente técnica, o Zito, que veio de Roseira, SP, que revezava no meio de campo com o Urubatão, que veio do Bonsucesso do Rio de Janeiro, e que muitas vez jogaram juntos, o Walter Marciano de Queiróz, excelente meia direita que veio do Ypiranga de SP, para substituir o Antoninho que estava encerrando a carreira, e que se transferiu em 1955, para o Vasco da Gama do Rio de Janeiro, e depois para o Valência da Espanha, o Tite, que foi, tecnicamente, um dos melhores ponta esquerda do Santos FC, por sua habilidade, e que veio a formar com o Vasconcelos, meia esquerda, que veio da Portuguesa de Santos, uma das melhores alas esquerda do futebol brasileiro (para muitos, se Vasconcelos não tivesse se acidentado num jogo do Santos com o São Paulo, no Estádio Urbano Caldeira, em 1956, que o afastou do futebol por longo tempo, o Pelé não teria tido a oportunidade de surgir para o futebol tão rápido como aconteceu, porque teria que assistir o Vasconcelos jogar por alguns anos). Em 1954 e 1955, surgiram o Del Vecchio, inicialmente, como ponta direita, transformando-se, posteriormente, em 1955, no centro avante artilheiro do Campeonato Paulista, e o Jose Macia, o Pepe, um dos cinco maiores jogadores que o Santos FC, teve, na minha opinião, por sua técnica, por sua objetividade – fez mais de 405 gols, além do que, por sua dedicação ao clube, e por ter só atuado no Santos FC, no decurso dos seus quase 15 anos de carreira. Em 1956, vieram para o Santos dois jogadores fora de série, o Pagão, o mais habilidoso de todos que já passaram pelo Santos FC, e o mestre Jair Rosa Pinto. Este não veio para jogar, e sim, para lecionar futebol dentro das quatro linhas. Formou com Dorval, Pagão, Pelé e Pepe, o melhor ataque que eu vi jogar pelo o Santos FC. No campeonato Paulista de 1958, com esse ataque, o Santos FC, fez mais de 100 gols. Jair Rosa Pinto veio para o Santos FC, depois de surgir no Vasco da Gama, no inicio a década de 1940, e passar pelo Palmeiras, onde atuou de 1950 a 1956, já veterano, com 34 anos de idade, e foi um dos principais jogadores do Santos FC, no período que mediou entre 1956 a 1960, quando cedeu o seu lugar, já tendo mais de 38 anos de idade, a Mengálvio, Figueiró, que começou a surgir no futebol. No inicio da década de 1960, e se não me trai a memória, o Hélvio, que também estava em fim de carreira, num jogo do Santos FC, que venceu o Nacional de Montevidéu, no Estádio Urbano Caldeira, por 5 X 0, e que teve de deixar o campo um pouco antes do encerramento da partida, eu devo confessar, que nunca tinha visto antes nem até o dia de hoje, no Estádio de Urbano Caldeira, um jogador de futebol ser tão ovacionado como ele (nem Pelé, quando encerrou sua carreira). Para substituir o Hélvio, o Santos FC., trouxe, inicialmente, do Flamengo do Rio de Janeiro, o vigoroso zagueiro Pavão (santista, que iniciou sua carreira na Portuguesa), e posteriormente, o Mauro Ramos de Oliveira, que veio do São Paulo FC, para compor com Calvet, uma das melhores duplas de zaga que o Santos teve, além do excelente goleiro, Gilmar dos Santos Neves, que chegou do Corinthians. O aparecimento do Coutinho, que veio de Piracicaba - SP -, e estreou no Santos, com 16 anos de idade, entrando no intervalo do primeiro para o segundo tempo, numa partida que o Santos jogou com a Portuguesa Santista, em 1959, numa quarta feira, à noite, no Estádio de Pinheiro Machado, tendo havido o empate de 0 X 0. Coutinho se transformou, se não o melhor, pelo menos o segundo melhor centro avante que eu vi atuar no Santos, porque o melhor, tecnicamente, na minha opinião, foi o inesquecível Pagão.Com estes, e com os outros que já no Santos se encontravam, o Santos FC, na década de 1960, ganhou todos os campeonatos: Paulista, Rio, São Paulo, Taça Brasil, Taça Libertadores da América e Mundial. Para falar do Santos FC, nesses mais de 60 anos que eu tenho o acompanhado, eu ficaria aqui, durante dias e semanas. Aquela estória da mala de dólares que caiu da janela do avião quando o Santos FC retornava de uma viagem vitoriosa pela Europa, e outras estórias interessantes, eu conto em outra oportunidade.

Luiz Polaco (Luizinho)
Diretor Jurídico do Clube do Choro de Santos e Conselheiro Efetivo do Santos F. C.

 

Sobre o autor

Luiz Simões Polaco Filho (Luizinho)

(Giginarede.com.br)

 
     
  Luiz Simões Polaco Filho, ou Luizinho como era conhecido quando jogava futebol, nasceu em Santos- SP, em 10.12.1941.

Em 1955, aos 14 anos de idade, quando jogava pelo time da Portuguesinha, do bairro do Macuco, ao final da partida algumas pessoas comentaram que havia um “velho” do outro lado do campo que queria falar com ele.

Meio assustado, atendeu o chamado e lá encontrou o tal “velho”, que depois descobriu tratar-se do treinador dos amadores do Jabaquara A.C, que o convidou a comparecer na sede do clube, na rua Frei Gaspar, no centro de Santos.

 

Na segunda-feira, o esperado encontro aconteceu. Ali, Luizinho passou a conhecer melhor o “velho”, que era conhecido e chamado nos meios desportivos da cidade por “Papa”. Tratava-se de um homem muito sério e falante, mas, também desbocado e, às vezes, brincalhão. Dois ou três jogos-treino realizados em pouco mais de uma semana, e Luizinho era inscrito como atleta amador do Jabaquara A.C, para disputar o campeonato infanto-juvenil de 1956.
Meses depois, o velho Papa, cujo nome era Arnaldo de Oliveira, deixou o Jabaquara A.C, e foi dirigir os amadores da A. A. Portuguesa, levando consigo um bom número de atletas amadores, inclusive o “Luizinho”. Este começou a jogar pela Portuguesa, em 1957, quando tinha 16 anos de idade, e foi campeão juvenil-aspirante, nos anos de 1957, 1958 e 1959, tendo sido tricampeão juvenil-aspirante da cidade.
Em 1959, foi lançado no time de profissionais por Filpo Nunes, num sábado à noite, quando a Portuguesa venceu o XV de Novembro de Jaú, por 3 X 0, tendo ele feito o 3° gol. Luizinho atuou, nos anos de 1958 e 1959, no time juvenil do Grêmio São Luiz, do Colégio Santista, que não disputava campeonatos oficiais, e por isso era integrado por jogadores juvenis da A. A. Portuguesa, do Jabaquara A. C. e do Santos F. C. Estes jogadores eram selecionados pelos treinadores Danilo Aniceto e Arnaldo Alves (o Redondo),  a fim de disputarem torneios não-oficiais e partidas amistosas, notadamente, nas preliminares dos jogos em que o grande Santos F. C. realizava em suas dependências nos anos de 1958 e 1959, no Estádio Urbano Caldeira,  contra Corinthians, Palmeiras e São Paulo.
Vale registrar que  numa dessas partidas amistosas, o Grêmio São Luiz venceu a Seleção Paulista Juvenil, que era dirigida por Canhotinho, ex-jogador do Palmeiras, por 3 X 2. Luizinho não se lembra, jogando pelo Grêmio São Luiz, de ter perdido um jogo sequer. Na várzea santista, onde se jogava descalço, Luizinho, quando tinha oportunidade, mesmo já sendo atleta profissional, costumava atuar pelo time do “9 de Julho”, do bairro da Vila Belmiro, divisa com os bairros do Marapé e Campo Grande, onde ele nasceu, foi criado e viveu a sua juventude.

 



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