Clube do Choro de Santos

Já dizia meu velho pai que é muito fácil bater em cachorro morto, roubar esmola de cego, tirar doce de criança. Isso é muito fácil e não dá publicidade pra ninguém. Nos dias de hoje qualquer pereba consegue se promover sem muito esforço. Celebridades, modelos e outros bichos viram manchetes em questão de minutos, basta, por exemplo noticiar que aplicaram botox, colocaram 800 ml de silicone nos peitos ou ainda, que fizeram nova bunda. Isso tudo porque a ciência ainda não descobriu como transplantar cérebro e por isso mesmo é que não adianta aplicar botox, peito novo ou bunda nova se a burrice continua impune.

O papo aí de cima é para explicar que publicidade nos dias atuais é fundamental, principalmente se o artista ou o impostor for televisivo. No caso específico, o cantor e compositor de rock nacional Lobão, não satisfeito em aporrinhar nossos ouvidos com seu medíocre rock e de se achar uma grande intelectual, claro, de vanguarda, nos brindou com sua biografia, fundamental para a literatura universal. Os novos intelectuais, principalmente os que labutam na televisão, pretensiosos e arrogantes, depois de tanta verborragia, adoram mostrar a sua erudição pra lá e prá cá, e, aí é um tal de Kafka, Jung, Hegel ou, ainda, para parecer mais profundo e incompreensível basta citar algum filósofo, de preferência alemão ou russo, um desses kovoski da vida, pouco conhecido, e, aí correr pro abraço da galera. Chique ou de bom tom também, atualmente, é citar o tal Freud que é o preferido de nove entre dez dos nossos bem informadinhos colunistas sociais.

Voltando a vaca fria. O nosso roqueiro Lobão precisa promover o seu livro e aí se utiliza da estratégia do início aí de cima, ou seja, vai bater em cachorro morto? Roubar docinho de criança? Não mesmo né, cara pálida. A venda do produto precisa de manchete, precisa de um pequeno empurrão. O ponto de partida. Entrevistas explosivas. Atacar alguém. Quem? Dupla sertaneja? Pagodeiros? A avalanche de conjuntinhos de rock dos mais imbecis e medíocres que já apareceram? Isso todo mundo já faz e não vende livro.

Atacaremos então a Bossa Nova, O Choro, Caetano, e, claro, o quase intocável Chico Buarque. E lá está o nosso imortal escritor, compositor, cantor, nas revistonas e nos jornalões a bater nos intocáveis medalhões da intocável MPB. A crítica funciona assim. A crítica da esquerda para a direita é patrulhamento ideológico, da direita para esquerda é perseguição política e assim caminha a humanidade, cada vez mais burra. Lobão, bater no Chico, no Caetano, na Bossa Nova, é problema teu. Não estou nem aí, que isso é briga de cachorro grande e, como sempre, vais clamar no deserto ou, na pior das hipóteses, vais se transformar no queridinho dos jornalões e revistonas. Pois é, que voltas o mundo dá.

O que me deixou indignado foi o comentário que fizeste a respeito do Choro. Pode até ser, mais eu duvido que conheças alguma coisa sobre o Choro pra falar bem ou mal do dito cujo. Lobão pra ficar um bundão você não precisou ouvir o Chico, porém, te garanto, se eu tivesse ouvido teu inteligente rock seria hoje um grande babaca, como qualquer roqueiro brasileiro.

Lobão velho de guerra, cuidado, pois, pelo andar da carruagem, logo, logo serás o ídolo maior da moçada da TFP. Que final de carreira! Não dá mais pra ser um jovem roqueiro rebelde brigando contra o sistema e sem o vil metal, né não? É constrangedor assistir um show dos nossos vetustos e lépidos roqueiros tropeçando nas varizes, em cima do palco. Tragédia! Velho Lobão, você já percebeu como os velhinhos roqueiros brasileiros estão cada vez mais parecidos com as duplas sertanejas? Vocês conseguiram.  Inventaram o rock sertanejo. Vocês estão em boa companhia.

É o seguinte meu caro Lobão. Não vem de garfo que hoje é dia de sopa e em pau de aroeira pica pau quebra o bico. Lobão vai plantar batatas, lamber sabão e deixa o Choro e os chorões em paz.

Abraços, Zé do Camarim …!