O ano, 67 ou 68 e a onda da rapaziada naquelas alturas era a de se reunir na casa do Cabeleira e ouvir, Gilberto Alves, Cyro Monteiro, Silvio Caldas, Orlando Silva, Roberto Silva, Dalva de Oliveira, beber um monte de cerveja, traçar planos para o início da luta contra a ditadura e terminar a noite nas bocas, mais precisamente no doissetecinco na casa da Tia Ivone, pra troca de óleo de praxe, afinal, naqueles tempos, a moçada não tinha outra saída, ou zona. Ou então a tal justiça com as próprias mãos.
Um belo dia cai na casa do Cabeleira, um LP, trazido pelo Flávio, chamado Samba na Madrugada. Na capa Paulinho da Viola e Elton Medeiros. Mais que um susto, uma porrada!
Todo mundo querendo saber mais sobre os caras. Afinal de contas um samba melhor que o outro. Com eles, Jair do Cavaquinho, Cartola, Zé Kéti e, meu irmão, cada samba do cacete.
A rapaziada passava horas e horas ouvindo aquele som: “Tinha eu catorze anos de idade, quando meu pai me chamou, perguntou-me se eu queria estudar filosofia, medicina ou engenharia, tinha eu que ser doutor”. Samba com flauta, cavaquinho, trombone, violão, caixa de fósforos.
Não deu outra, a rapaziada pirou com a música dos rapazes, pois Paulinho e Elton tinham quase que e mesma idade do pessoal e falavam das coisas que estavam no mundo, minha nega.
A rapaziada querendo saber mais da vida do Paulinho da Viola e do Elton Medeiros. Posso afirmar, sem medo de errar, que, através daquele LP, é que a molecada começou a tomar conhecimento do Cartola, Carlos Cachaça, Nelson Cavaquinho, Clementina, Monarco, Candeia, Zé Kéti, Velha Guarda da Portela e muito mais.
Cada dia aparecia uma novidade. Assando a castanha, o caso é que o tal LP Samba na Madrugada sumiu e ninguém mais soube com quem ficou o dito cujo.
Passados uns vinte e tantos anos a turma ficou sabendo que o LP tinha aparecido em Curitiba na casa do compadre Cabeleira que, afinal de contas tinha um gosto pra lá de refinado. Um roubo do bem.
Muitos anos depois, decretada a morte do vinil, o disco foi lançado em CD para alegria da turma que continua cultuando Paulinho da Viola e Elton Medeiros. Pois é mano velho, depois de tantos anos vamos seguindo devagar e sempre tocando a bola pelas quebradas da vida, cantando os lindos versos dos sambas do imperdível “Samba na Madrugada”, como se o disco tivesse sido lançado ainda ontem.
Quarenta e cinco anos passados e o “Samba na Madrugada” continua sendo a nossa bússola, o nosso guia. Nada mais atual como o samba “Amor Perfeito” do Elton Medeiros: “Sim chegou o esperado amor/Aquele amor chegou, sim eu esperei/Vi chegar…, ou ainda um outro samba do Elton Medeiros com Mauro Duarte, cuja letra de tão atual parece que foi feito ontem, presta atenção mano:
“Uns com tanto outros tantos com algum, mais a maioria sem nenhum/ Essa historia de falar em só fazer o bem/Não convence quando o efeito não vem/Há muita gente neste mundo estendendo a mão/implorando uma migalha de pão/Eis um conselho aos que vivem por aí a esbanjar/Dividir para todo mundo melhorar…”
Precisa dizer mais? Bem sabe o amigo que a vida segue seus caminhos sem que se possa alterar uma vírgula e, mesmo que se entre pelos becos ou se corte caminho, a pedra ou o pote de ouro vão estar sempre lá. E foi nesse caminhar que, tendo o Paulinho da Viola e o Elton Medeiros como ídolos é que, quarenta e cinco anos depois, através da Roda de Samba do Ouro Verde e do Clube do Choro de Santos tivemos o imenso prazer de conhecer o Mestre Elton Medeiros e para nosso orgulho e honra compartilhar do sagrado palco do Teatro Coliseu com o Mestre numa noite memorável e inesquecível.
É isso aí rapaziada. Descubra o Cd, ouça e diga se não tenho razão. Ah! Continuamos a ouvir, é claro, Silvio Caldas, Orlando Silva, Roberto Silva, Dalva de Oliveira e muito mais.
Um abraço do Zé do Camarim!