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O dossie de Geraldo Vandré

“Pelos campos a fome em

grandes plantações.”

(Geraldo Vandré)

 

 

A Globo News veiculou no último final de semana, uma entrevista com Geraldo Vandré, no momento em que ele completava seus setenta e cinco anos de existência. Ídolo e ícone dos anos sessenta, Vandré se notabilizou por uma composição que falava diretamente ao povo, dos problemas desse mesmo povo. Sua musicalidade se deixava dúvidas nos “experts” do assunto, vinha acompanhada de uma letra forte e de enorme poesia.

Desde que retornou do exílio, Vandré se impôs um isolamento e uma distância total da mídia. Residindo em hotéis de trânsito da Aeronáutica, tem sido amparado pelos militares dessa arma. Conforme confessou a Geneton Moraes Neto, desde criança sempre gostou de aviões e tinha como sonho de infância, tornar-se piloto de aeronaves. Uma de suas últimas criações, “Fabiana”, é uma homenagem à Força Aérea Brasileira.

Inquirido, negou veementemente, que tivesse tido qualquer problema com a área militar durante a revolução, e que jamais foi torturado por eles. Declarou que jamais foi militarista ou anti militarista, e que nunca pertenceu a qualquer partido ou facção política. Desafiou o repórter a apresentar o vídeo da final do Festival Internacional da Canção, realizado em 1968 no Maracanãzinho, o que realmente não foi possível. Sem que se saiba de quem foi a ordem, esse vídeo foi apagado restando apenas a parte sonora. Disse-se desinteressado dos rumos da atual MPB, e que se voltasse a compor novamente esse tipo de música, continuaria falando dos mesmos problemas, “pois que a miséria e a fome continuam nas cidades nos campos e nas construções”.

Está compondo uma sinfonia sem tempo para ser acabada, e que tem feito várias composições com as quais pretende gravar um novo disco, mas não no Brasil. Deverá ser gravado em um país de língua espanhola. Mostrou-se distante de qualquer tentativa de realizar apresentações no país, e em todos os momentos de seu depoimento demonstrou muita lucidez.

Em verdade o que aconteceu com Vandré após sua volta ao Brasil, continua envolto em densas nuvens. Em nenhum momento se dispôs a responder os questionamentos sobre tais fatos. Ídolo da juventude e dos estudantes do final dos anos sessenta, suas músicas eram um libelo contra a fome e a miséria, a censura e a falta de liberdade daquele período. “Caminhando” ou “Prá não dizer que não falei das flores”, era o grande hino que se ouvia em comícios e passeatas pelo retorno da democracia. Inquirido qual das suas musicas tinha sua preferência, respondeu que gostava de todas, muito embora “Disparada” e “Caminhando”, caíram no gosto popular.

É pena que continuemos sem saber quais os reais motivos que levaram Vandré a se afastar dos palcos. Poucos compositores nacionais conseguiram, através de uma poética tão bem fundamentada, falar de perto aos corações do povo brasileiro. Foi muito bom rever Vandré e, acima de tudo, assistir a um vídeo onde militares entoavam “Caminhando”, com Vandré na platéia. Realmente o Brasil vem mudando para melhor. Espero que não se desencaminhe.

 

Carlos Pinto

Jornalista

(26.09.10)

Secretário de Cultura de Santos

 

 

O paraibano Geraldo Pedrosa de Araújo Dias completou 75 anos no dia 12 de setembro de 2010. Nascido em João Pessoa, aos 16 anos foi para o Rio de Janeiro. Entre ginásio e colégio, passou por Nazaré da Mata (PE) e Juiz de Fora (MG). No Rio, estudou Direito (de 1957 a 1961) para satisfazer a família, mas depois pendurou o diploma e foi viver de música. O sobrenome artístico veio do segundo nome do pai, o médico José Vandregísilo. Começou usando o nome artístico de Carlos Dias, homenagem aos cantores Carlos Galhardo e Carlos José. O Dias era de seu próprio sobrenome. Foi influenciado pela Bossa Nova, mas depois introduziu outros elementos em sua música. 

Vandré, militares, Força Aérea? A relação parece estranha, mas vem dos tempos de criança. O pequeno Geraldo tinha 4 anos quando explodiu a 2ª Guerra Mundial, e ele gostava de imitar o vôo de caças. “Porque só tu soubeste enquanto infante/ As luzes do luzir mais reluzente/ Pertencer ao meu ser mais permanente” são os versos finais de “Fabiana”, escrita em 23 de outubro de 1985 “em honra da Força Aérea Brasileira”. Daí o nome, “Fabiana”. “Musicalmente é uma valsa. Literariamente, compõe de três estrofes de seis decassílabos e um refrão de três versos de seis sílabas”, explicou, didático, em entrevista ao jornal paulistano Diário Popular (atual Diário de São Paulo) em 26 de julho de 1991. 

Fonte: site Digestivo Cultural (www.digestivocultural.com) 

Em 18 de julho de 1997, ele esteve presente a um desfile cívico-militar em comemoração ao aniversário de Santos Dumont, com a presença do então Governador de São Paulo Mario Covas. Nesta foto de autoria desconhecida, tirada no Parque Ibirapuera, Geraldo Vandré conversa sobre a FAB com o então Sub-Oficial Obed Zelinschi de Arruda (clarinetista e saxofonista), na ocasião regente da Banda da Base Aérea de Santos, hoje na reserva e atuando como diretor do Clube do Choro de Santos. 

Fonte : Acervo do Clube do Choro de Santos


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