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ENTREVISTA COM MARIA INÊS GUIMARÃES, PRESIDENTE DO CLUBE DO CHORO DE PARIS

Ma_InesEntrevista para o BLOG do Clube do Choro de Santos


MARCELLO: Maria Inês, você é de onde, de São Paulo, do Rio de Janeiro, de Minas Gerais…?
MARIA INÊS: Sou de Uberaba em Minas Gerais, no triângulo.
MARCELLO: Há quanto tempo você vive em Paris. Quanto tempo faz que você chegou aí pelas bandas da “Cidade Luz”?
MARIA INÊS: Cheguei em Paris em 1988 onde cursei o doutorado sobre a obra do mineiro Lobo de Mesquita na Sorbonne.
MARCELLO: Você vem ao Brasil com frequência?
MARIA INÊS: Vou ao Brasil dois meses por ano, atualmente. Nos primeiros dez anos de minha presença na França, eu ia quatro meses por ano. Sempre toco com colegas brasileiros, componho inspirada na nossa música.
MARCELLO: Como surgiu a ideia de criar o Clube do Choro na capital francesa.
MARIA INÊS: O Clube de choro de Paris surgiu na Casa do Brasil a partir de uma iniciativa de sua diretora na época, Inez Machado Salim, contando com a participação de músicos brasileiros e franceses radicados em Paris em 2001. O concerto inaugural contou com Aline Soulhat (flauta), Maria Inês Guimarães (piano), Fernando del Papa (cavaquinho), Celinho Barros (pandeiro e violão), Renato Velasco (arranjos e violão), Paul Mindy (pandeiro), Julia Ohrman, Felipe pegado, Daniel Castanheira, Wander Pio (percussões) entre outros .

MARCELLO: O grupo é formado somente por brasileiros que vivem em Paris? Quantas pessoas fazem parte.
MARIA INÊS: Os professores são na maioria brasileiros residentes ou de passagem por aqui e franceses, professionais apaixonados pelo choro e que escolheram nosso gênero instrumental maior como principal estilo de trabalho. Os alunos também são de nacionalidades variadas, brasileiros que aqui estão estudando ou trabalhando, franceses amadores e professionais, europeus, asiáticos… Somos um grupo de 60 pessoas em média por ano.
MARCELLO: Quantas vezes por semana vocês se encontram e em que local…! Vocês tem sede? Qual o endereço.
MARIA INÊS: Os encontros-aula são na segundas e terças feiras, o festival é em março, na Casa do Brasil, 7 Boulervard Jourdan, 75014 em Paris. A Roda da quinta-feira é no Bar Les Lauriers, 98 Rue des Couronnes. A associação Clube de Choro de Paris é dirigida por um conselho constituído de : Maria-Inês Guimarães (presidente), Beatriz Gomes (tesoureira) e Julien Hamard (secretário). Endereço para correspondência : Guimarães, 18 rue Mozart 92160 Antony França. 33 (0)1 71 54 83 85. Email : clubduchorodeparis@club-internet.fr. Site : http://clubduchorodeparis.free.fr
MARCELLO: Recentemente, durante as festividades do Dia Nacional e Municipal do Choro em Santos (23 de abril), por intermédio do amigo e parceiro Sérgio Del Papa, fomos presenteados com um belo CD gravado pelo grupo “TERÇA FEIRA TRIO”, formado por Sérgio Krakowski (pandeiro), Ricardo Herz (violão) e Fernando Cavaco (cavaquinho), interpretando clássicos do Choro, dentre eles, Cochichando (Pixinguinha), Santa Morena (Jacob do bandolim) e Chorinho em Itapeva (Esmeraldino Sales), este último fantástico chorão compositor e instrumentista paulista. O curioso é que as gravações fogem totalmente do comum, choros gravados de forma bem diferente. Conte-nos como foi essa experiência e quem bolou os arranjos.
MARIA INÊS: O trabalho do Terça feira trio é fino, de alto nível artístico e mesmo muito inovante : se encaixa bem no nosso ponto de vista sobre o choro que vemos como um estilo dinâmico, que evolui e absorve novas inspirações vindas de outros estilos e de outras culturas musicais. Fernando do Cavaco é um dos fundadores do clube e nosso professor de orquestra.
PLÁCIDO: Há aproximadamente dois anos toquei numa roda de Choro em Paris num barzinho perto de Montmartre. O grupo era formado por um indiano, dois alemães, dois franceses e dois brasileiros. Esses encontros aconteciam, se não me falha a memória, às terças-feiras. Um dos alemães, o Stefano, tocava cavaquinho. Por acaso essa manifestação teria – ou tem – algo a ver com o Clube do Choro de Paris?
MARIA INÊS: E possível, mas não posso ter certeza. As Rodas regulares do Clube de Choro de Paris tiveram endereços diferentes ao correr dos anos : atualmente acontecem todas quintas no bar Les Lauriers (98, rue des couronnes), esporadicamente no Swan bar (165 Bd de Montparnasse), e o Choro e feijoada em parceria com o Cebramusik no restaurante L’estoril em Antony. Já existiram rodas no Lou Pascalou, no Blue note, na Casa do Brasil. Encontros na casa de particulares são frequentes também.
MARCELLO: Na sua opinião, como é a aceitação da Música Popular Brasileira na Europa, em especial, pelos franceses. Eles, de fato, curtem mesmo nossa música?
MARIA INÊS: A música brasileira tem uma acolhida excelente na França. Somos muito admirados e elogiados pela produção musical de nosso país. E os franceses ouvem o choro com uma certa devoção, frequentemente em silêncio, é muito interessante presenciar isto e observar a platéia durante nossos festivais.
MARCELLO: Não somente o Choro, mas também o Samba, por exemplo? Conte-nos como é essa relação.
MARIA INÊS: O samba é diferente, é tocado e cantado pra dançar e tem ótimo espaço na Europa como no resto do mundo. Creio que podemos afirmar que em Paris acontecem toda semana espetáculos com samba. O pagode chegou aqui também.
MARCELLO: Uma curiosidade: nessa relação música popular – futebol, por acaso, o francês é parecido com o brasileiro, podemos dizer que ambos tem a mesma mania?
MARIA INÊS: Não creio. O francês vê futebol com menos paixão. E nem sempre o associa à música.
LUIZ PIRES: A cultura francesa sempre esteve presente na história do Brasil, principalmente após a chegada da Missão Francesa em 1816. Mesmo não sendo a principal colonizadora do nosso país e não tendo exercido grande influência política ou econômica sobre o Brasil, a França contribuiu para a renovação das artes e para as mudanças dos nossos hábitos culturais e sociais, ajudando na construção da identidade brasileira? Podemos afirmar que a França foi responsável pela primeira colonização cultural do Brasil?
MARIA INÊS: A importância da colonização francesa é inegável, mas nossa primeira colonização cultural é mesmo portuguesa. É verdade que a revolução francesa inspirou muito o brasileiro e marcou nossa história. A presença da lingua francesa, de certos hábitos refinados, também persistiu muito forte no Brasil durante centenas de anos.
LUIZ PIRES: O compositor francês Darius Milhaud, que foi adido cultural no Brasil, ficou impressionado com a qualidade das composições de Ernesto Nazareth e Marcelo Tupynambá, dentre outros. Nas duas primeiras décadas do Século XX destacamos a presença dos primeiros brasileiros a levarem a música e a dança populares para a França, dentre eles, Os Irmãos Martins, Os Geraldos (Geraldo Magalhães e Nina Teixeira), o dançarino de Maxixe, José de Amorim Diniz, o Duque, o pianista Mário Penaforte e, por fim, Pixinguinha com os 8 Batutas. Até que ponto podemos dizer que a música brasileira influenciou a música francesa ou então como os compositores brasileiros influenciaram os compositores franceses?

MARIA INÊS: O intercâmbio é realmente profundo entre as duas culturas musicais francesa e brasileira. O exemplo de Darius Milhaud é mesmo impressionante, tão fascinado, ele compôs a obra Le Boeuf sur le toit com mais de dez peças de Nazareth incluidas no texto musical. Villa-Lobos era apaixonado por Paris e trouxe para a França nossa música clássica que defendeu muito bem e deixou um legado inesquecível que abre portas ainda hoje para os artistas brasileiros que aqui chegam. A série Choros deste compositor muito contribuiu para a divulgação do chorinho no mundo.

LUIZ PIRES: Você fundou o Centro Euro-brasileiro de Música (Cebramusik). Conte-nos qual a proposta.

MARIA INÊS: O Cebramusik promove e divulga a música brasileira na Europa. Trabalhamos com Conservatórios, escolas e entidades culturais publicando, organizando eventos multi-disciplinares e ensinando a música brasileira aos jovens e aos profissionais. Somos um parceiro regular do Club du Choro de Paris.

LUIZ PIRES: Como foram organizados os Festivais de Choro de Paris. Qual era a ideia.

MARIA INÊS: Com uma amiga, a bassonista Andrea Merenzon eu havia imaginado um festival de música em Buenos Aires no qual eu participei por mais de uma década como professora de piano e concertista. Naquela época, o Clube do Choro foi fundado e organizar um Festival Internacional de Choro de Paris me pareceu como uma evidência necessária. Contando com minha experiência, propus esta idéia a Aline Soulhat, flautista francesa que foi a primeira presidente do Club de Choro de Paris. O germe lançado, estas duas afficionadas do choro, uma brasileira e uma francesa (que agora reside no Rio de Janeiro…) deram início aos festivais : hoje são três dias de atividades, seis concertos com músicos brasileiros vindos para a ocasião, oficinas para crianças e adultos, aulas de conjunto, rodas… Tentamos convidar artistas de estados diferentes do Brasil abrangendo o mais possível as correntes de choro do Brasil. Contamos com a ajuda dos professores e dos sócios para organizar este evento que funciona como uma cooperativa. Aqui estiveram : Trio Quintina, Cadeira de Balanço, Quatro a Zero, Toca de tatu, Dois de Ouro, Choro Braseiro, LuziNascimento quarteto, Brazz, 13 cordas, Terça Feira trio, Guimarães Choro Quartet , Trio madeira, Nó em pingo d’agua, Ilustrando o choro, Marambaia, Regional Jazz band, Corda Solta, Rudi e Nini Flores, Armandinho, Hamilton de Holanda, Agenor do Pandeiro, Paulo Moura, Toninho Ramos, Rafael Santos, Rubinho Antunes, Carlos Walter, Aline Soulhat, Mauricio Carrilho, Cristina Azuma, André Simão, Teca Calazans, Ana Guanabara Aurélie e Verioca, Regional de Toulouse.

LUIZ PIRES: Conte-nos sobre as atividades da Roda de Choro do Bando Chorão.

MARIA INÊS: Podemos dizer que o Bando do Chorão é um primo próximo do Club du Choro de Paris. As rodas são um momento de cumplicidade e intercâmbio, de convivialidade.

LUIZ PIRES: Recentemente jovens da Banda Querô – que integram projetos do Instituto Arte no Dique – entidade parceira do Clube do Choro de Santos, se apresentaram nas cidades de Paris e La Ciotat. Existe alguma proposta do Clube do Choro de Paris em promover intercâmbio cultural entre artistas europeus e brasileiros ou de atuar como facilitador na captação de recursos provenientes de empresas estrangeiras ou algum projeto nesse sentido? Vocês recebem apoio governamental?

MARIA INÊS: Não recebemos apoio governamental para as atividades regulares. O intercâmbio acontece sempre com a vinda de artistas brasileiros e europeus principalmente no quadro do festival. Nestas ocasiões temos o apoio do Minc para as passagens dos músicos.
MARCELLO: Finalizando, pois, minha cara Maria Inês, como sempre fazemos, solicitamos ao entrevistado que deixe uma mensagem ao Clube do Choro de Santos.

MARIA INÊS: Desejo ao Clube do Choro de Santos longevidade! A persistência é a maior qualidade dos empreendedores.

MARCELLO: Caso você queira destacar algo relevante a respeito da atividade do Clube do Choro de Paris que, porventura, não tenhamos perguntado ou esquecido, por favor, fique à vontade, faça agora.

MARIA INÊS: Temos também editado um caderno de partituras para os alunos. Nossa meta é continuar com a criação, promoção e divulgação do choro na Europa e no mundo para ajudar a alimentar o nosso maior genero, viveiro de instrumentistas e compositores de todas as outras areas da cultura musical de nosso país.
Hoje em Paris existem em torno de uma quinzena de grupos de choro dos quais diversos músicos foram formados a partir do trabalho de promoção e divulgação do Clube, com aulas, encontros, rodas, festivais; e existem claro, outros grupos aqui formados por artistas brasileiros ou franceses que divulgam o choro pelo mundo : Choroparigo, Brazz, Que isso?, Pingo de Choro, Choro da Jaminha, Bécots da Lappa, Braséine, Travessias, Duo in Uno, Ilustrando o Choro, Guimarães Choro Quartet, Boca de Choro, Terça-feira trio, Choro daqui, Bando do Chorão, Choro de Gafieira…
MARCELLO: Valeu Maria Inês, agradecemos muito sua atenção, foi um grande prazer entrevistá-la. Sucesso sempre, forte abraço a você e a todos os demais companheiros do Clube do Choro de Paris.

MARIA INÊS: Nós é que agradecemos a oportunidade de divulgar nosso trabalho.

Maria Inês Guimarães
Pianiste, musicologue (doctorat Sorbonne), compositrice,
pédagogue (professeur titulaire de piano et improvisation libre)
Présidente du Club du choro de Paris

http://clubduchorodeparis.free.fr

Présidente du Cebramusik
18 Rue Mozart – 92160 Antony – France
00 33 (0)1 71 54 83 85

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