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AGOSTO MÊS DO FOLCLORE – HISTÓRIAS QUE MEU AVÔ CONTAVA

sACIFalando sobre as coisas do interior, do folclore, Saci-Perere, Mula-sem-cabeça, Cobra Norato, Boitatá…etc…o vô Biju, filho da cidade de Limeira, foi sitiante em Ibiuna (SP) e Vassouras (RJ). Dentre outras, lembro de uma foto bem antiga onde estou montado no seu cavalo e ele, ao lado, todo paramentado – bota, espora, chapéu, canivete, relho e o escambau – ajustando o arreio. Ah…e teve também uma chácara no Morro da Nova Cintra. Nessa época eu ainda não era nascido, só ouvi falar muito na criação, no bode que chamava Jorge e o galo que se chamava André. Eu era bem garoto, ele gostava de contar histórias. Contava que, de madrugada, ouvia na cocheira os cavalos agitados e o gado na mangueira, idem. Dizia: era o Saci-Perere que vinha dar nó na crina dos equinos. E era verdade, pela manhã, elas estavam cheias de tranças. Naquele universo ainda infantil eu perguntava: vô, mas como é que pode, o Saci vinha mesmo…? Vinha sim, ele era muito serelepe e aprontador, corria pra lá e pra cá fazendo a maior algazarra. Mas com uma perna só…? É, com uma perna só. Contava também que, a cavalo, quando chovia, no meio do breu, ele com sua famosa capa de chuva que o cobria e chegava até a anca do animal, dizia: quando relampiava ele apertava o passo, seguia na marchinha picada aproveitando o clarão. E tome água. Outra relampiada, mais um troteado, ia assim até chegar na porteira da fazenda. Foi tropeiro, tocador de boi, pelas bandas do interior de São Paulo. Caçador de onça pintada, ele e os companheiros botavam a cachorrada na batida e acuavam a bicha.    

Ele tinha um casal de Fila brasileiro, mas, não soltava de jeito nenhum, a dupla ficava na caçamba da caminhonete, pois se o fizesse correria o sério risco de perdê-los. Uma patada da onça arrancaria a cabeça do cachorro e o Fila, pra quem não sabe, é onceiro, cachorro valente mesmo, investe sem temor contra o inimigo. Como na época ainda não havia ração, foram criados com bofe servido naquelas antigas bacias de lavar roupa. Quando estava na cidade andava com os dois dentro do Jeep e lhes ensinara os comandos ao contrário. Se dissesse “larga” era pra pegar; por outro lado, se dissesse “pega” era pra largar. Assim como Carlos Gardel, também faleceu com uma bala no ombro, coisas dos tempos tórridos da política, os “Bois” como ele dizia. Eram grupos formados por partidários de um determinado candidato e os caras arreliavam mesmo, chegava a haver confronto. E, numa dessas, uma bala – não sei se perdida ou não – o atingiu na altura da omoplata. Só me lembro que, quando mudava o tempo, ele levava a mão ao ombro. Finalizando, pois, não posso afirmar que parte dessas histórias são verdadeiras, umas sim, outras, talvez, não; porém, lhes afirmo com toda a segurança, ele as contava com tanta firmeza que, pra mim, elas são verdadeiras até hoje. E não foi uma única vez que ele contou, foram várias, e nunca se contradisse. Portanto, acabou-se a história, morreu a Vitória e quem quiser que conte outra.
Abraços
Zé do Camarim

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1 Comments Add Yours ↓

  1. Júlio Mendes #
    1

    Muito boas histórias.
    Lembro de meu pai (Piracicaba 1914- São Caetano do Sul 1993) que, lá no sitio onde morávamos, também contava muitas histórias. Até tenho gravada uma sobre A Caçada da Onça” e outra sobre Pedro Malazartes.
    Abraços



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