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O LEGADO DE CYRO PEREIRA


Pois é gente, lamentavelmente perdemos o simpático e muito querido maestro Cyro Pereira que faleceu nesta quinta-feira passada, dia 09 de junho, em São Paulo…! Destacado regente, compositor e arranjador, fez historia na época áurea da TV Record nos anos 60. Era professor da Universidade Livre de Música Tom Jobim (ULM), atual Santa Marcelina.


 

 

Na foto, o registro da visita dos diretores Luiz Pires, Marcello Laranja e Valdo (da esquerda para a direita) a  ULM em 2007, quando foram recebidos muito amavelmente pelo maestro. Visitávamos a ULM para findar as tratativas para a vinda da Orquestra Jovem Tom Jobim em comemoração ao 5º aniversário de fundação do Clube do Choro de Santos, que resultou numa memorável apresentação no Teatro Municipal Braz Cubas, em abril daquele ano.

 

Cyro Pereira junto com seu amigo e parceiro, o também maestro e compositor Mário Albanese, criou o ritmo conhecido como “JEQUIBAU”…!

 

 

 

 

Abaixo texto explicativo de Mario Albanese sobre a Lei Estadual nº 13.095/08, que instituiu o dia 13 de agosto, no mês do Folclores, como o Dia do Jequibau e o último adeus deste ao parceiro.

 

 

Celebrar o Dia do Jequibau aos 13 de Agosto e  no Mês do Folclore, é alargar o horizonte musical com o surgimento, em 1965, de um ritmo que, por sua natureza original, deu identidade  própria ao compasso de 5 tempos, Uma fórmula com um balanço tão redondo que não se percebe que é cinco! Sua importância foi consignada em livros e métodos de ensino, além de reverenciada por nomes ilustres do cenário mundial da música. Jequibau é uma ousadia premiada que, mesmo depois de 44 anos do seu lançamento oficial, continua instigante e desafiando o status quo. A palavra Jequibau ainda é um neologismo não vocabularizado. Jequibau é jequibau, diferente marcação, cinco tempos por inteiro, contrariando a tradição. Um compasso brasileiro, nova forma de expressão. Jequibau é jequibau, a palavra é singular, não existe em dicionário, não adiante procurar e, depois de tantos fatos, é hora de registrar! Do livreto de cordel de autoria de Teo Macedo. Realmente, o ensino tradicional conceituava o compasso de 5 tempos como misto, resultante da soma de dois compassos, um de três tempos com outro de 2  e vice-versa. O termo misto é inoportuno porque  significa a fusão de  dois elementos diferentes que, uma vez ligados, não se separam…  Portanto é, no mínimo, estranho chamar a soma de  2 compassos como se fosse 1!

 

O  cordão umbilical do jequibau é o folclore, ponto de convergência das pesquisas de Mário Albanese e Cyro Pereira. De fato, os fatores intuição e liberdade são tão impositivos que o enquadramento de qualquer tipo, anestesia a alma e aprisiona a criatividade. A sabedoria popular, propaga-se por via oral. A música  escrita é uma certidão de nascimento que, por mais elaborada e minuciosa que seja,  registra o fato mas não  expressa a emoção.  Cabe ao intérprete reler a partitura dando-lhe vida e condições de repassar o sentimento  da música para o ouvinte. A estrutura da palavra jequibau revela coalescência, a junção de duas palavras:

 

Jequi, do tupi iekei, cesto indígena de pesca, e, bau, sufixo de berimbau, instrumento africano, usado por metonímia, como símbolo sonoro de referência, de acordo com a análise estrutural realizada pelo lexicólogo Prof. Dr. Ermínio Rodrigues. O termo jequibau é um neologismo que não foi ainda  vocabularizado.

 

 

 

CYRO MARIN PEREIRA (14.8.1930 – 9.6.2011)

 

Músico é aquele que consegue transformar em som tudo que acontece ao seu redor. A música nasce por um impulso inato, sendo óbvio que necessita de conhecimento técnico para ter molde artístico. O ensino musical no Brasil sempre foi entendido como um complemento da educação e, portanto, um privilégio dos mais abastado. Já, como fato social, sempre teve marcante importância, pois inexistem períodos sem música e, as expressivas manifestações musicais no Carnaval, nos chorões e serenatas assim o comprovam. Ainda é de amplo conhecimento que a maioria dos grandes nomes da música popular do passado foi autodidata, instruiu-se por si, no convívio com outros músicos, ouvindo discos e também pela comunicação oral. Houve época em que o músico era tratado como um pária, um indivíduo sem casta na sociedade, por ser boêmio e sem profissão definida. Cyro Marin Pereira, nascido na cidade de Rio Grande, no Rio Grande do Sul, veio para São Paulo em 1950 com 20 anos e foi um dos que aprimorou seu conhecimento musical no dia-a-dia, trabalhando como pianista, arranjador e regente de orquestra na Rádio Record de São Paulo na Rua Quintino Bocaiúva onde me foi apresentado pelo inesquecível Garoto, Aníbal Augusto Sardinha. Àquela época e no campo da música popular, geralmente as músicas não eram escritas sendo apresentadas pelo autor tocando, cantando ou numa gravação em minicassete caseiro. Assim e nessas condições a importância do arranjador se evidenciava na estrutura final da composição ao agregar introdução, harmonia e ritmo, fatores decisivos para sua aceitção. Em um artigo sobre o Cyro, publicado no Jornal Hora de São Paulo, em 1982, destaquei a importância do arranjador e a necessidade de reconhecer como legítimo o direito conexo a que faz jus. Nesse sentido e com essa ótica o Ciro produzira um programa intitulado o Maestro Veste a Música, para explicar com detalhes a instrumentação utilizada e os efeitos produzidos. Lembro-me de Insônia, de minha autoria, com letra de Heitor Carillo, foi dissecada pelo Ciro nesse programa sem imaginar que no futuro seríamos parceiros. Dessa proximidade resultou a gravação de SOL, minha composição inserida no LP Música dos Astros, PPL 12014, da Continental, com Cyro e Orquestra. O fato curioso foi o expediente utilizado pela gravadora de lançar esse mesmo disco mudando o título para Românticos Del Caribe, como contraponto ao sucesso obtido pelos Românticos de Cuba. Sem dúvida, o convívio diário com o Cyro nos anos sessenta foi produtivo. Eu o reencontrei na Rádio e TV Record instaladas na Av. Miruna, pelo do Aeroporto de Congonhas num momento especial, pois os Maestros Gabriel Migliori, Hervé Cordovil e Ciro Pereira, estavam com folga no trabalho em razão das radicais mudanças realizadas na grade de programação da emissora. Assim tivemos horas produtivas para conciliar as pesquisas que resultaram no Jequibau, uma inovação autêntica que conseguiu, tal qual rastilho de pólvora, enorme repercussão nos EUA, consubstanciada nas gravações de renomados artistas e na inserção em métodos de ensino. Vencedor de concursos internacionais sua expansão mereceu registros em matérias publicadas por revistas e jornais especializados do mundo. No livro, Cyro Pereira, Maestro, escrito por Irineu Franco Perpétuo, por feliz coincidência, a história do Jequibau se inicia na página 5/4 e vai até o número 58. As pessoas queridas não morrem porque ficam encantadas na nossa lembrança para sempre. O pensamento cria, o desejo atrai e a fé no trabalho realiza. Seu irmão de alma eterno parceiro.

Mário” Jequibau” Albanese.

 

 

 


1 Comments Add Yours ↓

  1. Yara Ferrauto #
    1

    Em nome dos maestros e dos músicos da Jazz Sinfonica e da família do maestro
    Cyro Pereira, agradecemos as palavras de carinho.

    Obrigada,

    Yara Ferrauto
    Coordenação de Produção Jazz Sinfônica I APAA Associação Paulista dos
    Amigos da Arte I 11 3882.8080 ramal 127 I Skipe yara.ferrauto



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