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UM SAMBA PRA TODOS OS SANTOS

Texto do compositor Teroca (Marcelo Longo Vidal) publicado no caderno “Tô ligado” do jornal “Tribuna Impressa” de Araraquara (SP) em 1 de fevereiro de 2013.
Todos eles foram homenageados, desde Santo Antonio, passando por São Benedito, São Carlos e fechando com São Zoroastro…Mas não foram só eles, já que, dentro do brazuca sincretismo religioso, os respectivos orixás também foram louvados…Ogum, Oxossi, Pai Oxalá vieram nos valer, entre caldinhos e canjas dos bambas do litoral, comandados pela Rafaela Laranja.


Feijoada de primeira no Bodegaia, sempre servindo mais um que chegava, botando água no feijão conforme receita antiga de Jorginho do Império. E chegou o grande amigo Vadinho Nogueira e a esposa Marilda, e chegou o Marco Bailão e a Dona Ináh, fazendo companhia ao Pio menestrel e ao Marcello presidente do nobre Clube do Choro de Santos, estes últimos nossos mais recentes velhos amigos, que conhecemos pra valer ali mas que aparentam nutrir amizade antiga, pela atenção, simpatia e brasilidade com que nos receberam.
Roda de samba que se preza, todos sabem, tem somente horário para começar, inda mais se a mesma estiver emoldurada em local aprazível e belo, como o histórico centro que conjuga a sede – lindíssima – do Museu do Café, no entroncamento do famoso bondinho turístico que tem seus trilhos fixados nos paralelepípedos assentados pelos negros escravos que construíram, inclusive, o primeiro e mais importante porto marítimo do país, da sempre rejuvenescida cidade santista, com seus 467 anos de idade.
Tarde memorável, aliás, sábado memorável, que nem a torrencial chuva de véspera e a manhã modorrenta fez esmorecer os ânimos. No poente sem sol saímos dali para um autêntico “coffee break” na Conselheiro Nébias – recanto do Vadinho e da Marilda – com direito a bolo de fubá em sua primeira degustação e, pouco tempo depois, já estávamos aterrisando no Marapé, mais especificamente na sede do Ouro Verde Futebol Clube, onde já reinava a mais longeva e famosa roda de samba da Baixada, comandada pelo Pio e composta por várias percussões, três cavacos simultâneos – que não brigavam e se completavam – e o trombone do “seo” Mario…
Impagável, indecifrável a cena e o cenário…Portões abertos, ambiente familiar, vovôs e vovós com seus filhos e netos, negros, brancos, louras e nisseis, todos cantando, sambando, em harmonia com o repertório de linhagem que desfilava pérolas sagradas eternizadas por Roberto Ribeiro, Paulinho da Viola, Dona Ivone Lara, entre outros. O curioso é que, na esquina adjacente, rolava uma roda de pagode-de-boutique, portanto um outro público completamente distinto, sem nenhuma briga de espaços, filosofias de vida e quetais.
Ali, esse espaço serve, todo dia 02 de Dezembro, como Rua do Samba, que faz 50 anos que é comemorada em Santos, e, pelo que li no libreto alusivo que me fora presenteado pelo Marcello – para mim um novo troféu em minha biblioteca – reafirma-se no texto que lá se encontra, indubitavelmente, o berço do samba paulista do litoral, honrando as tradições e elencando série infinda de grandes bambas da cidade que lutaram pela tradição das nossas raízes africanas, em movimento paralelo ao ocorrido no Rio de Janeiro ao final de 1.962.
As rodas de samba, as novas amizades, o ambiente festivo e fraterno e o libreto ganho, a partir de agora, ocupam um espaço indeletável em minha memória e em meu coração, recordações da belíssima cidade praiana que revelou Pelé, revela Neymar e continuará revelando grandes personagens do samba – e do chorinho, como batalha o Marcello, pai da Rafaela, ela, que se jogou na música por sua direta influência  – para a preservação da nossa cultura musical. Um dia que parece durar um ano, até o momento de nossa próxima futura e certeira visita…Salve Santos, e todos os santos e orixás, estamos mais fortes pra seguir nas batalhas da vida !!!


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