Clube do Choro de Santos

Aproveito aqui a oportunidade para lembrar um fato que aconteceu comigo no ano de 2001. Foi no mês de novembro, estava eu fazendo no programa da Rádio Litoral FM 91,9 (São Vicente), “Litoral Brasil”, a pedidos, uma retrospectiva de “O Fino da Bossa”, um trabalho magnífico compilado em três CDs pelas mãos competentes e sensíveis do professor, escritor, pesquisador e radialista Zuza Homem de Mello. O programa já tinha, aproximadamente, uns quinze-vinte minutos, quando coloquei para tocar a faixa “Discussão” (Vinícius de Moraes e Antonio Carlos Jobim) interpretado por Pery Ribeiro e Elis Regina.

Acreditem, logo em seguida, o telefone tocou no estúdio, meu parceiro Marcelo Petito atendeu e disse: ” Marcello, Pery Ribeiro na linha”…! Eu disse: o que…? Ele repetiu e me perguntou o que fazer. Comecei a tremer, dei um tempo, respirei, isso numa fração de segundos, e disse: baixa o som, deixa a gravação de “back” e põe o “ôme” no ar, não podia perder aquela oportunidade por nada nesse mundo. Pedi licença aos ouvintes, interrompi o programa, disse do que se tratava e entrei com ele na linha.

Foi a glória, sensacional, incrível e coincidentemente, ele estava ouvindo o programa a bordo do “esplendoroso” transatlântico “Splendour of the Seas” – do qual era contratado – que estava atracado no porto de Santos, ao lado do nosso amigo e músico santista, o pianista Ricardo Paulino. Muitos até pensaram que fora armação, mas por tudo quanto é mais sagrado afirmo que não foi, eu não sabia, não tinha a menor idéia do que estava para acontecer naquela tarde…!.

Imaginem eu botando a música pra tocar e o próprio cantor ouvindo, no mesmo momento…inacreditável…! A primeira faixa do CD que toquei foi da Elis cantando com o Ataulfo Alves, depois outra com ela e o Cyro Monteiro e, na sequência, Elis e Pery Ribeiro.

Pery disse-me depois que, ao ouvir a gravação, pediu que alguém arrumasse um celular pois queria falar comigo, queria saber quem era o radialista que estava fazendo aquela retrospectiva de um dos programas mais fantásticos da história da televisão brasileira. E assim foi feito, ligou para a emissora e entramos no ar para bater um papo rápido. Pedi que aguardasse fora do ar pois iria combinar uma entrevista assim que retornasse da excursão. O navio zarparia naquela tarde – era um sábado – com destino ao Rio de Janeiro, Búzios e retornaria a Santos na terça-feira seguinte.

Pois bem, na terça, por volta das 11h00 da manhã – a emissora estava preparada para recebê-lo – entramos no ar com o “Litoral Brasil Especial” e foi um sucesso. Desta feita o operador foi meu colega radialista Marcelo Luiz, pois, Petito estava de folga. O estúdio estava lotado, foi muito legal, a entrevista fluiu maravilhosamente bem, aliás, nem posso chamar de entrevista, pois, na realidade, foi um bate-papo dos mais agradáveis, uma das experiências mais fantásticas que tive na minha vida radialística.

Outra curiosidade também foi a chegada repentina do dr. Lupércio Mucci, diretor da Litoral, que estava no centro da cidade com sua esposa. Ao entrar no carro, ligou o rádio, e, sem saber, pegou a entrevista pelo meio. “Voou” literalmente para a emissora e foi ter conosco no estúdio, que, como eu disse, estava lotado e o calor, mesmo com ar condicionado, estava infernal, senegalesco, eu diria. Aliás, acho que dá para perceber na foto minha camisa totalmente molhada.

 

Minha filha Rafaella – que aparece entre nós – àquela altura, não passava de uma menina…! A esquerda, de lado, o pianista Ricardo Paulino.

Esta entrevista inesquecível está gravada numa mídia que guardo com muito carinho no meu acervo…!

Abraços