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Entrevista com o bandolinista Marco Ruviaro, do duo “Choro na Manga”

Fotografia: Luiz Fernando Costa Ortiz.

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…se houver um Festival Internacional de Choro em Santos, eu vou fazer questão de estar nessa !

(Marco Ruviaro)

Por Luiz Pires

 

Fora do Brasil, cada vez mais o choro começa a marcar presença proporcionando o surgimento de novos adeptos, e nesse mundo de tribos, a comunidade do choro amplia-se cada vez mais, principalmente no exterior.

O Clube do Choro de Santos já recebeu em outras oportunidades músicos estrangeiros como a flautista dinamarquesa P

ia Kaufmanas, a clarinetista israelense Anat Cohen, a flautista japonesa Naomi Kumamoto e o clarinetista e saxofonista norte-americano John Berman. Dentro dessa proposta de intercâmbio cultural, foi com muita alegria que no dia 1º de agosto recebemos para uma Roda de Choro na casa dos amigos Fernando e Mônica, o bandolinista Marco Ruviaro, que embora de nacionalidade brasileira encontra-se radicado na Itália divulgando o choro e organizando o Clube do Choro de Torino.

 

Mesmo sob a batuta de nosso diretor artístico Jorge Maciel foi difícil organizar as divisões dos solos

, diante de tantos talentosos músicos presentes. Eram muitos os contrapontos e improvisos. Estavam lá nosso Presidente Marcello Laranja, o luthier Homero Nardi, os bandolinistas Adriano, Agnaldo Luz, Jean, Monteiro e Nelsinho, no cavaquinho e pandeiro Miltinho e Carlinhos, Manecão na Violinha, Clóvis no violão 7 cordas, Priscila na flauta e os chorões de Peruíbe, Canduta e Débora do duo Choro de Bolso, dentre outros amigos, tendo Ruviaro como convidado especial.

No intervalo da roda, Ruviaro nos concedeu esta entrevista. Foi agraciado com um banner do Clube do Choro de Santos e retribuiu o gesto presenteando-nos com o CD do duo “Choro na Manga”.

Luiz PiresMarco nos conte a tua história, meu amigo… Você é natural de que lugar do Brasil? Como você foi parar na Itália?
Marco Ruviaro – Eu sou de São Paulo capital, e estou entre o Brasil e a Itália já faz três anos. Trabalho profissionalmente com Música. Toco bandolim e Violão 7 Cordas, dou aulas e também sou copista. Eu cheguei à Itália por caminhos que nem mesmo eu conheço bem… para você ter uma idéia, minha intenção inicial era ir estudar violão na Espanha! Já tinha feito vários contatos e tal… bom, eu tenho um certo vínculo com a Itália desde sempre, minha família é de origem italiana. Mas a minha permanência lá não foi algo muito planejado, foi mesmo por acaso.

Luiz Pires - Como nasceram o duo “Choro na Manga” e o “Quarteto Jogral?”

Marco Ruviaro – Como há vários anos tenho me dedicado muito ao Choro, a primeira coisa que eu busquei por lá foram músicos de alguma forma ligados à música brasileira. Obviamente, ao Choro em particular. É o meu espírito como músico, não gosto muito de tocar sozinho. Acho que por isso mesmo, não importa onde eu estiver, eu vou sempre procurar gente para fazer Música. Foi assim que conheci o pessoal com quem toco hoje na Itália, e mais um monte de gente em várias partes do mundo, na Argentina, na Espanha, na França… bom, logo que cheguei a Turim, conheci o Roberto Taufic, uma pessoa incrível, um músico fora do comum que não tem nem 1% do reconhecimento que merece. Ele me apresentou ao Fabrizio, meu companheiro de Choro na Manga (http://www.choronamanga.com). Daí a começar a tocar com eles foi um pulo. O quarteto na verdade surgiu a partir do Trio Jogral, que já tem vários anos e é formado pelo Roberto, pela Simon Papa (cantora) e pelo Gilson Silveira (percussionista). Na verdade não é quarteto, é trio + bandolim… sei lá como explicar!

Luiz Pires – E qual é a proposta dos dois grupos?
Marco Ruviaro – A proposta é bem simples… tocar Choro! Como fora do Brasil o Choro não é largamente conhecido, nós temos uma preocupação muito clara, que é manter a linguagem do Choro muito evidente nos nossos concertos. Inventamos muita coisa, improvisamos, brincamos, mas no final das contas soa Choro. Talvez o Choro na Manga evidencie um pouco mais uma característica que pra mim é fundamental, que é se divertir enquanto toca. Trabalhamos, tocamos, mas principalmente nos divertimos.

Luiz Pires – Conte-nos um pouco do CD do Choro na Manga.
Marco Ruviaro – Em 2008 a idéia era fazer uma demo, para ter algum material gravado pra apresentar, e só. Fomos ao estúdio e gravamos três ou quatro músicas. Acho que foram Horas vagas e A ginga do Mané, do Jacob, Segura ele, do Pixinguinha, não me lembro exatamente, acho que Choro Negro, do Paulinho da Viola, foi gravada nessa leva também. Não imaginávamos um resultado tão legal, e são gravações que hoje fazem parte do disco. Na mesma hora o Roberto Taufic nos aconselhou a gravar mais algumas faixas e lançar um CD… levamos a idéia a sério e poucos meses depois o CD estava pronto, e todo mundo que ouvia gostava bastante… realmente não esperávamos toda essa receptividade.

Luiz Pires – Vocês acabaram fundando o “Clube do Choro de Torino”. Como funciona o clube? Quais são suas atividades e projetos?

Marco Ruviaro – O Clube do Choro de Torino é uma entidade meio “virtual”. Não tem sede, não tem carteirinha de sócio, nem nada. A coisa começou de repente, fizemos uma Roda de Choro na casa do Roberto Taufic, e entre uma musica e outra alguém falou alguma coisa do tipo “pô, com essa Roda hoje a gente tá fundando o Clube de Choro de Torino”. Todo mundo encampou a idéia. Por enquanto o Clube só organiza rodas, hospeda o pessoal que vem de fora, etc. Esse é o espírito por enquanto. Mas quem sabe futuramente a gente não consegue organizar mais coisas, eventos ligados ao Choro e tudo mais. Idéias temos várias…

Luiz Pires – Falando em Roda: e essa história de Praça Pixinguinha, tem mesmo essa praça em Turim?
Marco Ruviaro – Bom… tem e não tem! Na verdade a praça tem outro nome. Mas como virou um ponto de encontro do Choro, como virou palco de várias rodas que organizamos, a gente tomou a iniciativa de rebatizar a praça… se bobear, logo na primeira ou segunda roda que fizemos lá, já mudamos o nome. Publico bastante informação sobre a Praça Pixinguinha no meu site http://www.marcoruviaro.com. Tem até um ensaio de fotos que estou preparando pra publicar, mostrando detalhes da praça, que é muito bonita. O legal é que quando divulgamos alguma roda, é Praça Pixinguinha, o pessoal ligado ao Choro já conhece, e não tem conversa.

Luiz Pires – É incrível a força do Choro que se expande mundo afora… você tem participado de muitas “Rodas de Choro Internacionais” ou encontros chorísticos no velho continente?
Marco Ruviaro – Temos conseguido realizar várias Rodas de Choro com pessoal de dentro e de fora da Itália. Além da gente, existem outras iniciativas do gênero com as quais tenho contato sempre. Por exemplo, tem o Clube do Choro de Kassel, na Alemanha (http://www.choroclubkassel.de/), que é recente mas tem feito rodas de choro mensais, tem também o Bando do Chorão (http://bando.do.chorao.free.fr), que é a linha-de-frente do Choro em Paris, na França… só para vocês terem uma idéia, no primeiro semestre de 2010 o Bando organizou toda semana aulas de Choro, além de Rodas e vários outros eventos. No dia 23 de abril de 2010, aniversário do Pixinguinha e dia nacional do Choro no Brasil, o Bando do Chorão organizou um super evento com três grupos de choro e, claro, uma roda na sequência. Tinha um público de sei lá, 300 ou 400 pessoas, foi maravilhoso. Eu, claro, estava lá! Jamais iria perder uma ocasião dessas.

Luiz Pires – O Bando do Chorão é como um clube de choro?
Marco Ruviaro – Na verdade ninguém sabe direito! É mais ou menos como o nosso Clube do Choro Torino; são forças ocultas que se manifestam enquanto estamos tocando Choro! Ninguém vê, mas paira no ar um poder enorme, todo mundo sente as vibrações!

Luiz Pires – Você é canhoto e toca bandolim de que forma? Como se adaptou? Que instrumento (luthier) você usa? E o encordoamento? E pra amplificação?
Marco Ruviaro – Meu avô tocava um bandolim normal de destro, e desde quando eu tinha uns quatro ou cinco anos ele me ensinava algumas melodias de Choro. Mas eu me sentia confortável segurando o bandolim de ponta-cabeça, sem inverter corda nem nada. Posteriormente eu comecei a estudar a sério e adaptei um instrumento, aquele mesmo bandolim do meu avô. Hoje eu tenho um 10 cordas feito pelo Vergílio Lima (http://vergiliolimaluthier.blogspot.com). Não é um bandolim de roda, não tem aquela potência sonora, mas o timbre é inigualável. Cordas eu tenho usado D’Addario ou Argentine, mas não achei uma ideal ainda. Em casos de emergência, até mesmo a Rouxinol entra na jogada. Para amplificar, eu procuro microfonar sempre. Se o local for meio barulhento, tipo boteco ou então ao ar livre, aí eu uso o microfone AKG C411 com o pré AKG B29. Não tenho nenhum pickup instalado, por opção minha.

Luiz Pires – Que dica você dá pra quem quer iniciar o estudo do bandolim?
Marco Ruviaro – A melhor dica que eu poderia dar é… não estudar somente bandolim. Não estudar somente Choro. Não estudar somente música brasileira. Não ficar achando que a música brasileira é a “melhor” do mundo, como a gente ouve muita gente dizer por aí afora. Mente aberta. E isso eu acho que vale para qualquer músico, artista, seja em qual área for.

Luiz Pires – Aproveitando a tua experiência internacional, que dicas você dá aos músicos de choro no Brasil?
Marco Ruviaro – A coisa mais legal é que fora do Brasil as pessoas adoram a música brasileira, mas conhecem pouco. Estou falando da verdadeira música brasileira, não estou falando dessas idiotices comercialescas que entopem a orelha, essas rodam o mundo facinho. Pouca gente conhece Choro, por exemplo, mas adora desde o primeiro instante que ouve. Isso é incrível, a receptividade do público é enorme. Os músicos que tocam fora do Brasil têm um papel muito importante ao meu ver, que é o de divulgar a nossa verdadeira cultura musical.

Luiz Pires – A cidade de Santos tem potencial para promover um “Festival Internacional de Choro?”
Marco Ruviaro – Bom, acho que qualquer lugar que tenha Choro, que tenha chorões, tem já o elemento principal pra coisa. Aí depois vêm os problemas burocráticos, financeiros, logísticos… isso é inevitável. Mas tem muita gente que consegue realizar coisas incríveis com poucos recursos, repito o exemplo do Bando do Chorão em Paris. Seja como for, se houver um Festival Internacional de Choro em Santos, eu vou fazer questão de estar nessa!