Histórico do Choro
Gênero criado a partir da mistura de elementos das danças de salão européias (como o schottisch, a valsa, o minueto e, especialmente, a polca) e da música popular portuguesa, com influências da música africana. De início, era apenas uma maneira mais emotiva, chorosa, de interpretar uma melodia, cujos praticantes eram chamados de chorões. Como gênero, o choro só tomou forma na primeira década do século 20, mas sua história começa em meados do século XIX, época em que as danças de salão passaram a ser importadas da Europa. A abolição do tráfico de escravos, em 1850, provocou o surgimento de uma classe média urbana (composta por pequenos comerciantes e funcionários públicos, geralmente de origem negra), segmento de público que mais se interessou por esse gênero de música.
Em termos de estrutura musical, o choro costuma ter três partes (ou duas, posteriormente), que seguem a forma rondó (sempre se volta à primeira parte, depois de passar por cada uma). A origem do termo choro já foi explicada de várias maneiras. Para o folclorista Luís da Câmara Cascudo, esse nome vem de xolo, um tipo de baile que reunia os escravos das fazendas; de xoro, o termo teria finalmente chegado a choro. Por outro lado, Ary Vasconcelos sugere que o termo liga-se à corporação musical dos choromeleiros, muito atuantes no período colonial. José Ramos Tinhorão defende outro ponto de vista: explica a origem do termo choro por meio da sensação de melancolia transmitida pelas baixarias do violão (o acompanhamento na região mais grave desse instrumento). Já o músico Henrique Cazes, autor do livro Choro – Do Quintal ao Municipal, a obra mais completa já publicada até hoje sobre esse gênero, defende a tese de que o termo decorreu desse jeito marcadamente sentimental de abrasileirar as danças européias.
Vários músicos e compositores contribuíram para que esse maneirismo inicial se transformasse em gênero. Autor da polca Flor Amorosa, que é tocada até hoje pelos chorões, Joaquim Antonio da Silva Callado foi professor de flauta do Conservatório de Música do Rio de Janeiro. De seu grupo fazia parte a pioneira maestrina Chiquinha Gonzaga, não só a primeira chorona, mas também a primeira pianista do gênero. Em 1897, Chiquinha escreveu para uma opereta o cateretê Corta-Jaca, uma das maiores contribuições ao repertório do choro. Outro pioneiro foi o clarinetista e compositor carioca Anacleto de Medeiros, que realizou as primeiras gravações do gênero, em 1902, à frente da Banda do Corpo de Bombeiros. Assim como outros registros posteriores, essas gravações indicam que a improvisação ainda não fazia parte da bagagem musical dos chorões naquela época.
Sofisticação
Essencial para a formação da linguagem do gênero foi a obra de Ernesto Nazareth, que desde cedo extrapolou as fronteiras entre a música popular e a erudita. O autor de clássicos como Brejeiro, Odeon e Apanhei-te Cavaquinho destacou-se como criador de tangos brasileiros e valsas, mas de fato exercitou todos os gêneros musicais mais comuns daquela época. A sofisticação da obra de Nazareth era tamanha, que (exceto no caso de Radamés Gnattali, um de seus melhores intérpretes) sua obra só foi definitivamente integrada ao repertório básico dos chorões nos anos 40 e 50, por meio das gravações de Jacob do Bandolim e Garoto.
Também genial, Alfredo da Rocha Vianna Filho, o Pixinguinha, contribuiu diretamente para que o choro encontrasse uma forma definida. Para isso, introduziu elementos da música afro-brasileira e da música rural nas polcas, valsas, tangos e schottische dos chorões. É o caso do maxixe Os Oito Batutas, gravado em 1918, cujo título antecipou o nome do primeiro conjunto a conquistar fama na história da música brasileira. Protagonistas de uma polêmica temporada de seis meses em Paris, no ano de 1922, Pixinguinha e seus parceiros na banda Os Batutas (um septeto, na verdade) dividiram a imprensa e o meio musical brasileiro, entre demonstrações de ufanismo e desqualificação. Foi também sob duras críticas que Lamentos (de 1928) e Carinhoso (composto em 1917 e só gravado pela primeira vez em 28), dois inovadores choros de Pixinguinha, foram recebidos pela crítica. O fato de ambos terem sido feitos em duas partes, em vez de três, foi interpretado pelo preconceituoso crítico Cruz Cordeiro como uma inaceitável influência do jazz.
Outra personalidade de peso na história do gênero foi o carioca Jacob Pick Bittencourt, o Jacob do Bandolim, famoso não só por seu virtuosismo como instrumentista, mas também pelas rodas de choro que promovia em sua casa, nos anos 50 e 60. Sem falar na importância de choros de sua autoria, como Remeleixo, Noites Cariocas e Doce de Coco, que fazem parte do repertório clássico do gênero. Contemporâneo de Jacob, Waldir Azevedo superou-o em termos de sucesso comercial, graças a seu pioneiro cavaquinho e choros de apelo bem popular que veio a compor, como Brasileirinho (lançado em 1949) e Pedacinhos do Céu.
Principais representantes do Choro
Além do Pixinguinha, vários outros compositores se destacam dentro do Choro, dentre eles: Jacob do Bandolim, Ernesto Nazareth, Chiquinha Gonzaga, Waldir Azevedo Paulinho da Viola, Zequinha de Abreu e Ademilde Fonseca.
Chiquinha Gonzaga
Francisca Edwiges Neves Gonzaga nasceu em 1847 e faleceu em 1935 na cidade do Rio de Janeiro. Cresceu em um bom ambiente tendo uma boa educação e uma sólida formação musical. Tornou-se a primeira mulher compositora brasileira e também a primeira pianista do choro. Ainda com destaque, consagrou-se a primeira mulher a dirigir uma orquestra, portanto a primeira maestrina brasileira. Em 1889, compôs uma marchinha de carnaval que até hoje é cantada pelos foliões em todo o país: Abre Alas. Chiquinha Gonzaga superou barreiras e quebrou tabus se tornando uma grande contribuidora para a formação do raciocinio musical brasileiro. Pioneira, se encheu de coragem para viver aquilo que gostava, mesmo que para tanto tivesse que superar enormes preconceitos.
Ernesto Nazareth
Nasceu no Rio de Janeiro e aprendeu a tocar piano com sua própria mãe. Se tornou um grande compositor de tangos brasileiros e deu seguimento aos rumos do choro no Brasil. Divulgava sua música vendendo partituras de suas músicas, indo tocá-las diretamente para o cliente. Músico de formação erudita, Nazareth trabalhou e criou fama como pianista da sala de espera do cinema Odeon, para o qual chegou até a compor uma belíssima música, que foi considerada uma de suas peças mais célebres e posteriormente, foi transcrita popularmente para o violão. Já no final de sua vida, foi atacado pela surdez. Nazareth foi um músico que soube trabalhar tanto no estilo erudito quanto no popular dando um toque, particularmente pessoal.
Zequinha de Abreu
José Gomes de Abreu nasceu em 1880, na cidade de Santa Rita do Passa Quatro, SP e faleceu em 1935, na capital paulista, com 54 anos de idade. Desde garoto já mostrava gosto pela música e apesar dos desejos dos pais de seguir outros rumos em sua vida, decidiu mesmo ser músico. Ainda muito ovem, com 17 anos, deu iníco a diversas atividades musicais que variavam desde saraus, a bailes, aniversários, casamentos. Sua música mais conhecida foi "Tico Tico no fubá". Quando sua música emplacou, assinou contrato com uma gravadora se comprometendo a compor uma nova música a cada mês, passando a ser talvez, o único compositor de sua época a trabalhar dessa forma. Durante sua vida deu aulas de piano, sobretudo para jovens de família e aproveitava seu tempo livre para vender partituras de suas músicas nas casas que frequentava.
Waldir Azevedo
Desde muito cedo, passou a tomar gosto pela música e logo foi trocando a flauta por um violão, mais tarde, o bandolin, a viola americana de quatro cordas, o banjo e enfim, o cavaquinho. Foi quando começou a improvisar algumas notas no cavaquinho, que possuia somente a corda ré, que nasceram os primeiros acordes de um dos chorinhos mais famosos de todos os tempos: brasileirinho. Gravou em 1949, seu primeiro disco em 78 rpm, formado por dois choros. De um lado "Carlotinha" e do outro "Brasileirinho". Brasileirinho até hoje ainda é tocado e lembrado pelas novas gerações.
Jacob do Bandolin
Principal referência brasileira no instrumento que virou parte de seu nome. Foi ele quem colocou o bandolin como instrumento solista por excelência. Foi um compositor que não dependeu exclusivamente da música e por conta disso, foi mais livre em suas composições e não sofreu com pressões de gravadoras. Com uma expressiva popularidade, Jacob, ajudou a divulgar o choro tradicional por meio de shows e Lp´s .
Ademilde Fonseca
Natural do Rio Grande do Norte, foi para o Rio de Janeiroem 1941, acompanhada do também marido músico. Obteve sucesso como uma grande intérprete de músicas como "tico tico no fubá" e outro clássico "brasileirinho". Sua fama como cantora de choros aumentou e Ademilde passou a ser procurada pelos compositores para gravar suas músicas. Participou de diversos concursos e festivais divulgando o choro em todo o lugar que cantava.
Altamiro Castilho
Uma lenda viva do chorinho brasileiro levando esse gênero ao conhecimento de várias pessoas em diversos países, tendo o seu enorme talento, fatalmente reconhecido por todo o lugar em que passou. Esse gênio da flauta transversa, gravou mais de 111 discos, compôs cerca de 200 músicas dos mais variados ritmos e estilos. Excursionou pela Europa, União Soviética, onde foi aplaudido de pé e considerado pela crítica como o melhor solista flautim do mundo, instrumento muito difícil de ser tocado. Atualmente, comemora 56 anos de carreira, 75 anos de vida e 125 da criação do chorinho.
Paulinho da Viola
Paulo César de Farias, é um dos grandes nomes da música popular brasileira de todos os tempos.. Paulinho consegue ao mesmo tempo ser um excelente instrumentista, um compositor genial e um sensível poeta.
Paulinho da Viola é inovador e tradicional ao mesmo tempo. Seus sambas e choros trazem inovações melódicas e harmônicas, sempre desenvolvendo, modernizando e evitando que estes gêneros fiquem congelados no tempo. Paulinho numa atitude louvável, tem por costume gravar em seus discos músicas de nomes às vezes esquecidos do samba como Silas de Oliveira e Wilson Batista, assim como de novos compositores.
Sempre tomou iniciativas para resgatar o melhor da música brasileira, desde fundar um escola de samba não competitiva a hoje em dia promover shows de Choro em uma casa noturna do Rio de Janeiro.