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Yamandú Costa

Yamandu

Em 14 de dezembro de 2007, sexta-feira, no palco do Teatro Coliseu, estiveram presentes os diretores do Clube do Choro de Santos Herlinha Gomes, Ademir Soares, Luiz Pires, Valdo e Marcello Laranja para uma entrevista com o violonista Yamandú Costa. Destacamos que, apesar do seu estado febril, que o incomodava bastante, Yamandú nos atendeu a todos de maneira extremamente simpática e cordial.

Marcello
Uma curiosidade. Você como bom gaúcho, criado musicalmente no meio de vaneiras, fandangos, milongas, bugios, enfim, me surge no meio do choro com um violão 7 cordas totalmente diferente, personalíssimo e com tua base musical do seu pai, da sua mãe. Como é que foi isso na tua vida, de você cair no meio do choro, com toda essa formação forte gaúcha.

YAMANDÚ
O meu pai sempre teve muita admiração pelo choro. Acho que como todo músico brasileiro, de alguma maneira, tem que ter, sabe. Pelo menos como base, de você começar pelo começo. Então, essa admiração que ele tinha pelo choro me passou desde criança. Eu sonhava em tocar chorinho e falava assim: poxa é difícil né! E depois que comecei a ganhar uns discos assim, Rafael tocando Um a Zero, Rosa...É isso que eu quero tocar. É a essa escola que eu quero pertencer, porque isso aqui realmente é de uma profundidade única e tal. E essas influências que eu já tinha elas foram entrar de uma maneira muito natural dentro da história. O primeiro choro, o primeiro disco que eu gravei foi com o pessoal lá do Carrilho, do Maurício Carrilho e tem muita influência de choro nesse disco. É uma felicidade pra mim, agora eu começo a entender um pouco mais essa escola, porque é uma escola que parece simples, se você enxergar de uma maneira um pouco...pouco assim...de uma maneira até equivocada, parece simples, mas não é. É uma música de sabor, de linguagem que você tem que beber na fonte, de ver os caras tocar lá no embrião da história. Então, na realidade essa mistura é muito natural, eu gosto muito, acho que, de alguma maneira, acrescenta.

entrevista com Yamandu

Marcello
E você chegou a pegar roda de choro de boteco, por exemplo?

YAMANDÚ
Ah! sim.

Marcello
Que é a verdadeira escola!

YAMANDÚ
Mas aí é que tá!

Marcello
Aí é que você pega a manha, a pegada toda...! Quero lembrar de uma entrevista que eu vi ha um tempo atrás do Renato Borghetti, na TV Cultura de São Paulo, e eu achei engraçado que ele disse que a verdadeira música gaúcha é o Bugio, inclusive tem aquele festival famoso do Bugio, que eu acho que ainda existe no Rio Grande do Sul. Você acha isso também, é a verdadeira música gaúcha o Bugio ou tem outras manifestações?

YAMANDÚ
Na verdade é um ponto mais formal de se falar, um ponto, um ritmo criado no Estado, parece que é realmente o Bugio. Agora essa coisa de denominar assim...espaço das coisas é muito engraçado, a gente se cria tanto na música argentina, essa música não pertence também. Quando você escuta tanto uma cultura de outra pessoa e você começa a saber tocar aquilo, começa a compor em cima daquilo, aquela cultura tem uma maneira diferente. Isso o gaúcho tem até um pouquinho de vergonha de assumir e tal, mas é verdade. A gente é muito influenciado pela música argentina.

Marcello
É, principalmente pelo chamamé.

YAMANDÚ
Muito, fundamental. Milonga...

Marcello
Milonga...exatamente. E falando também do teu parceiro, aproveitando o gancho da pergunta dele, do Hamilton (de Holanda), ele recentemente deu uma entrevista para o Ynimá Simões na TV Senado, e eu achei legal o que ele fez. Ele extrapolou o limite do instrumento, do bandolim. E ele não queria que seu bandolim fosse um simples instrumento de solo num conjunto de choro. Ele extrapolou e eu acho que você faz a mesma coisa com o 7 cordas. É isso?

YAMANDÚ
É isso, mas eu não tenho essa pretensão de extrapolar. A gente sente música como sente. É legal é até natural você vir com outras informações e tocar esse instrumento de uma maneira diferente, com toda essa escola...

Marcello
E como você diz, o violão de sete cordas...

A esta altura o telefone celular de Yamandú toca. Alô...Leonardo...querido estou no meio de um negócio aqui. Cara xarope (risos). Prosseguindo...

Marcello
E como você declarou e também achei interessante, o violão sete cordas é um violão inteligente que permite idéias, criações, situações, achei interessante. Esse depoimento você deu no Brasileirinho?

YAMANDÚ
Isso! Acho que é o futuro do instrumento, do violão no Brasil. É esse instrumento. Você está vendo cada vez mais gente tocar e tal.

Marcello
E o interesse dos jovens também, muita molecada já tocando...

YAMANDÚ
Já não é mais um absurdo você ver um valor...

Marcello
Um cara tocando sete cordas com 18 anos de idade...

YAMANDÚ
Tem muito gringo, muito gringo...

Marcello
Nós estivemos com o Ronaldo do bandolim agora, recentemente ele esteve na nossa sede inclusive, e nós perguntamos a ele e eu pergunto a você: como é que foi a experiência de participar do Brasileirinho, um filme feito por um finlandês.

YAMANDÚ
É. Foi uma honra. A gente lançou esse filme em alguns países...

Marcello
Agora é que lançaram no Brasil depois de quantos anos (risos)!

YAMANDÚ
É cultural. E foi uma coisa muito bacana. As pessoas não conheciam, e não conhecem na verdade. Esses filmes só vem pra dar uma forcinha assim, básica, pra que as pessoas entendam que a Música Brasileira não é só Bossa Nova, não é só aquela música dos anos 60.

Marcello
Como você vê o choro hoje.

YAMANDÚ
Eu vejo de uma maneira muito bacana, pessoas fazendo coisas interessantíssimas, o Maurício acabou de lançar um chorinho com compasso misto assim, compassos ímpares, a coisa vai crescendo de uma maneira...como se diz no Clube do Choro de Curitiba, no disco deles, é super interessante...jazz contemporâneo...mas é um choro, o choro cresce de uma maneira...as pessoas querem tocar essa música, querem escutar essa música, grandes músicos acontecendo, chegando ao Rio pra tocar, craques como Alessandro Penezzi...

Marcello
Vai estar conosco brevemente...

YAMANDÚ
Então, eu vejo uma aura muito positiva, é uma força de muita gente, todos os compositores, muitos ligados ao choro, compõem alguns choros...

Marcello
É importante também tocar coisas novas, pra sair fora desse repertório clássico que as pessoas ainda insistem e tem tanta coisa bonita, tanta coisa bem feita e me parece que os músicos têm um certo receio de tocar coisas novas, sair dos clichês.

YAMANDÚ
É, mas está mudando isso, está mudando...

Marcello
E para encerrar Yamandú, como é que você vê essa circunstância do estrangeiro adorar, amar a Música Brasileira e os brasileiros não dão valor a isso. Também é cultural nosso, não é?

YAMANDÚ
De alguma maneira não acredito que também não dê valor, senão esse teatro não estaria lotado hoje, independente do meu nome. Não tem nada a ver com isso, o pessoal sabe o que eu faço. A gente também tem um pouco de preconceito, a mídia tem preconceito com a chamada música instrumental, que eu não acredito, tem todo um avaloramento que é muito carente nas pessoas, então, na verdade, isso não funciona muito bem, a coisa muda de figura. Eu acredito que a coisa vai melhorando, assim de uma maneira muito positiva, eu não tenho dúvida disso.

Yamandú Costa

Marcello
Muito bem, esse foi o violonista Yamandú Costa para o Clube do Choro de Santos e nós queríamos entregar uma lembrança para você, para você não esquecer da gente.

YAMANDÚ
Opa, legal, coisa linda.

Com o nosso sincero agradecimento ao violonista Yamandú Costa - que recebeu um baner do Clube do Choro como lembrança - pela maneira extremamente amável com que nos recebeu no palco do Teatro Coliseu.

Gostaríamos de agradecer também à Yara Martins e aos amigos do NAC/SESI Santos que viabilizaram essa entrevista junto à produção do artista entrevistado.

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