EUCLYDES MATTOS
Entrevista com o compositor, cantor, arranjador e violonista Santista Euclydes Mattos direto de Barcelona (Espanha) para o Clube do Choro de Santos.
Por Marcello Laranja.
Marcello
Euclydes, já faz algum tempo que você radicou-se em Barcelona para, definitivamente, consolidar sua carreira musical, confere? Pois bem, há quanto tempo você se encontra na Catalunha e como se deu sua ida para a Espanha.
EUCLYDES
Já faz 14 anos e meio que estou na España . Vim para cá para descansar um pouco de tantos anos tocando no Brasil , principalmente em São Paulo e conheci o Cônsul Geral do Brasil em Barcelona – Lauro Moreira , que me convidou para dirigir um projeto chamado – Uma viagem pela Música Brasileira , patrocinado pelo Banco do Brasil e prefeituras da España . Na verdade , minha carreira por aqui começou assim , muitas viagens e muitos contatos .
Marcello
Pelas andanças européias, você apresenta-se exclusivamente em Barcelona ou você toca em outros locais. Conte para nós em quais cidades você já se apresentou e cite também as casas, os palcos famosos onde você já fez apresentações e gostaria de destacar.
EUCLYDES
Toco em Barcelona , mas principalmente fora . É mais fácil dizer quais as cidades que eu não toquei na España . Recentemente fui convidado para abrir as comemorações do dia mundial da Música em Melilla (cidade española localizada no continente africano ). Com relação a apresentações que me agradaram muito posso citar : 1º Festival de Musica Brasileira de Tenerife ( Ilhas Canárias ) onde comparti o palco com Roberto Menescal , recentemente um Festival de Guitarras na Andalucia na casa museu do próprio Andrés Segovia , Festival ( festival na Galícia , onde haviam músicos de todo mundo ; nesse verão de 2007), Festival Isac Albeniz e tantos outros mais .
Marcello
Você nasceu em Santos, foi criado em São Sebastião (litoral norte paulista) e vive em Barcelona. Conte-nos como é o seu relacionamento afetivo e musical com as três cidades, pois como você mesmo diz, em qualquer uma delas você está literalmente “em casa”. É isso mesmo?
EUCLYDES
Minha relação com as três cidades é maravilhoso , me sinto em casa quando estou em cada uma delas e as amo profundamente. Toco sempre em São Sebastião e em Santos quando estou no Brasil e é, para mim, algo fantástico saber que meu trabalho, minha música e meu violão são sempre bem recebidos. Aliás, recebi há pouco tempo (06/2007) o título de cidadão Sebastianense, o que me encheu de orgulho, portanto, Barcelona, Santos e São Sebastião são minhas queridas e íntimas cidades.
Marcello
Que tal lembrar as casas em que você trabalhou tanto em Santos, como em São Sebastião e, principalmente, São Paulo de onde você partiu para o exterior. Conte-nos algo a respeito.
EUCLYDES
Minha vida musical em Santos começou no bar e restaurante Cibus (que saudade), em São Sebastião com a família dos Rosa, no Teatro Municipal, Secretaria de Cultura e em São Paulo toquei em muitos locais sendo que gostaria de destacar o Café Boca da Noite, onde conheci muitas feras da musica brasileira e também um trabalho com a PAULISTUR com o meu querido amigo Nelson Fabiano.
Marcello
Cite para nós alguns nomes de artistas com os quais conviveu e trabalhou no tempo em que você ainda estava em Sampa. Como foram essas experiências?
EUCLYDES
Ana de Hollanda (querida amiga), Zé Ketti, Márcia Salomon, Costa Netto, Vânia Bastos, Eduardo Gudin e tantos outros.
Marcello
Conte-nos também, como foi a convivência com o velho amigo e compositor portelense Zé Kétti, que nessa época estava morando em Sampa. Vocês dividiram o mesmo apartamento por um bom tempo, não foi? O Zé era uma figura absolutamente especial, não era? Foi ele também que disse para sua mãe que você iria para a Espanha e não voltaria mais, confere?
EUCLYDES
O Zé Ketti foi de uma importância vital para mim, aprendi muito de musica com ele. Era uma relação de pai e filho, de amigo e de irmão. Realmente o Zé quando eu estava para viajar me disse: - Você não volta mais! E hoje eu penso: quem sabe um dia...!
Marcello
Quantos CDs você já gravou e por que até hoje não existe distribuição dos seus discos no Brasil?
EUCLYDES
Gravei seis discos e participei de muitos outros como convidado e estou a caminho do sétimo, ainda este ano. Com relação a distribuição, não sei explicar muito bem, mas todos eles estão em venda pela internet (principalmente na Alemanha, França, Rússia, Itália, Portugal e Japão).
Marcello
Na sua formação musical existem os três elementos básicos da Música Popular Brasileira, ou seja, o choro, o samba e a bossa-nova, certo? Fale para nós, mais especificamente, da sua base de choro, que veio do seu avô, para quem você compôs um, confere?
EUCLYDES
O choro é algo fundamental para o desenvolvimento do musico brasileiro, creio que todos deveriam conhecê-lo para valorizar este estilo tão nosso e tão fabuloso. Meu avô Cenciano Benedito Alves (meu primeiro e grande mestre) me iniciou no conhecimento do choro, mesmo porque ele compunha e muito bem, por sinal. O que me ajudou muito para tocar outros autores como Nazareth, Pixinguinha, Dilermando Reis, Villa Lobos...!
Marcello
Agora, sua grande influência e, eu diria, escola, foi a do mestre Baden Powell. Fale de sua relação musical com o mestre.
EUCLYDES
Baden Powell, claro que influenciou não só a mim, mas a tantas outras gerações, aprendi muito com a sua forma de tocar, desenvolvi bastante muitos estilos como o samba, a bossa nova. Baden, há muito tempo deixou de ser só um nome, para ser um estilo, uma referencia do violão mundial.
Marcello
Finalizando, meu caro Euclydes, fale algo a respeito do trabalho por nós desenvolvido no Clube do Choro de Santos há cinco anos e meio e deixe-nos uma mensagem.
EUCLYDES
Foi com grande satisfação que recebi sua mensagem com a entrevista. É motivo de orgulho para qualquer musico poder participar, mesmo distante, de um trabalho tão profundo e sério que vocês vêm desenvolvendo com o Clube do Choro de Santos. Peço a Deus que esse projeto se perpetue e você meu querido amigo Marcelo Laranja, possa, juntamente com todos os integrantes do Clube, levar essa arte maravilhosa por todos os cantos. Viva o nosso Choro!
Obrigado e forte abraço!